Menos restrições a Cuba
14 de abril de 2009Depois de 47 anos de embargo comercial dos Estados Unidos contra Cuba, o presidente norte-americano, Barack Obama, anunciou nesta segunda-feira (13/04) o fim de algumas restrições que afetam as relações entre os dois países.
As medidas – entre elas a liberação de visitas a familiares e o envio de dinheiro por parte de cubano-americanos a parentes em Cuba – representam uma importante mudança na política dos EUA a poucos dias da 5ª Cúpula das Américas, a se realizar entre os dias 17 e 19 de maio em Trinidad e Tobago.
Em entrevista à Deutsche Welle, o especialista em América Latina Günther Maihold, vice-diretor da Fundação Ciência e Política (SWP), de Berlim, falou sobre o impacto, na Europa, da política de distensão em relação a Cuba impulsionada pelo presidente norte-americano.
Deutsche Welle: O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, levantou as restrições para viajar e enviar dinheiro a Cuba. Como foi recebida esta notícia na Europa?
Günther Maihold: Creio que é uma iniciativa muito esperada, que busca acabar com o acirramento da relação entre os Estados Unidos e Cuba, agravada durante o governo Bush, e chega a lembrar as relações bilaterais entre as duas partes no ano de 2004, antes do início de uma nova fase de congelamento das relações. A medida é um sinal de distensão que vai muito em conformidade com os esforços europeus de se chegar a um nível de diálogo com Cuba que permita a "normalização" das relações com este país.
A União Europeia apoia a política de distensão impulsionada por Obama?
Primeiro foram os europeus que distenderam sua política em relação a Cuba, com a revisão de sua postura comum e com a abertura no sentido de voltar a ter possibilidades de cooperação para o desenvolvimento e para o estabelecimento de um diálogo sobre direitos humanos. Agora, este esforço por parte dos europeus recebe um novo impulso com as medidas de Obama. Nesse sentido, creio que é um novo paralelismo nas políticas transatlânticas, que somente pode ter efeitos positivos.
Alguns países do Leste Europeu se opõem a uma maior aproximação. O atual governo espanhol é um dos que mais promove esta aproximação.
Estamos em uma situação de certa expectativa. Os europeus têm aberto sua política em relação a Cuba com a expectativa de que pudessem surgir respostas adequadas por parte dos dirigentes comunistas da ilha, mas não há sinais claros a este respeito. O mesmo caso é o dos Estados Unidos, porque eles também esperam efeitos, mas não a curto prazo, de uma maior abertura do sistema, embora pareça que os líderes da ilha estejam em uma situação de querer controlar melhor em vez de dar novos espaços de ação.
Neste contexto, qual é a postura alemã?
Entre os países europeus, a Alemanha vem tendo uma postura de bastante abertura. Conhecemos as posturas críticas do governo tcheco e polonês e de outros países da Europa Oriental, ainda que a Espanha tenha tomado a dianteira de forma muito articulada. A Alemanha conseguiu uma posição intermediária: em princípio, dá oportunidades de cooperação, mas também quer respostas claras de que a ilha está indo em direção à democracia.
Desde a sua chegada à Casa Branca, Obama colocou a ilha em posição prioritária na sua agenda. O senhor considera que isso levará ao fim do embargo que persiste há 47 anos?
Nas atuais condições, é muito difícil. Deveria haver um sinal muito articulado por parte da ilha de que o governo realmente está disposto a induzir uma política nacional visando à democracia e o respeito aos direitos humanos. Até o momento, não há indícios a este respeito. Da parte dos Estados Unidos, a posição não é muito diferente da europeia. Esperam-se sinais da ilha, mas as lideranças são muito fechadas, têm medo de se abrir. Então acredito que continuaremos esperando este claro sinal.
Não é possível que precisamente uma mudança política que põe fim a uma era leve a própria economia a impulsionar as mudanças em Cuba?
Estas têm sido as expectativas de muitos anos. Isso se esperava no momento da maior crise de Cuba, depois da derrubada do bloco oriental. Mas nada aconteceu. Sempre houve intenções de que reformas fossem feitas, no entanto, nunca houve um conceito elaborado de reforma e até agora não vemos no governo de Raúl Castro, tampouco, um plano claro.
Por outro lado, as elites tradicionais tratam de assegurar-se no poder e têm medo de que certos espaços na sociedade lhes possam escapar do controle. Neste sentido, deveria haver uma mudança nas elites, mas não vejo este processo em andamento.
Autora: Eva Usi/CE
Revisão: Roselaine Wandscheer