Faltam doadores
19 de dezembro de 2006Na Alemanha, em torno de 12 mil pessoas aguardam por um doador de órgãos que possa salvar as suas vidas. No ano passado, foram realizados 3500 transplantes, mas pelo menos o dobro de pessoas entrou na lista de espera dos hospitais. Assim como no Brasil, faltam doadores de órgãos no país europeu e, em média, três pessoas morrem todos os dias enquanto aguardam por um transplante.
A trágica situação persiste, apesar de 80% dos alemães se declararem, a princípio, dispostos a doar seus órgãos. Mas, na prática, mesmo sabendo que um único doador pode salvar a vida de até cinco pessoas, muitos alemães relutam em autorizar a doação.
Burkhardt Topp, da Associação Alemã de Pacientes Transplantados, cita vários motivos para que isso ocorra. "Tudo o que está relacionado à morte continua sendo um tabu na Alemanha, e com a doação de órgãos não é diferente. Se você pensa sobre o assunto, é obrigado a pensar sobre a possibilidade de morrer. Além disso, reportagens sobre comércio e roubo de órgãos continuam saindo na mídia", comenta.
Morte cerebral
Durante muitos anos se discutiu, na Alemanha, quando uma pessoa pode ser considerada morta. Seria após a morte cerebral, cujo exato instante é difícil de ser determinado? Representantes da igreja e pessoas contrárias à doação de órgãos até hoje se posicionam contra esse ponto de vista. Ou seria quando o coração pára de bater?
A lei alemã diz que, em caso de morte cerebral, a doação dos órgãos pode acontecer, desde que exista uma autorização assinada pelo doador. Mas apenas 12% dos alemães possuem o documento.
Caso não haja uma autorização assinada pelo doador, os parentes mais próximos devem decidir qual seria o provável desejo do possível doador. "O problema é que o assunto não costuma ser debatido na família", comenta Topp. Com isso, a negativa acaba prevalecendo.
Nova lei
No ranking dos países europeus onde a doação de órgãos é mais difundida, a Alemanha ocupa apenas o quinto lugar, com 15 doadores para cada 1 milhão de habitantes. O primeiro posto é da Espanha, com 35 doadores por um milhão de habitantes, seguida pela Bélgica e a Áustria.
Nesses países, a lei é diferente: toda pessoa é um doador, a não ser que ela tenha se manifestado por escrito contra a doação de seus órgãos.
Especialistas alemães gostariam que essa solução também fosse adotada na Alemanha. "Uma alteração na lei solucionaria apenas uma parte do problema, mas mesmo assim eu defendo que a negação por escrito da doação seja adotada na Alemanha", afirma o professor Christoph Broelsch, da Clínica Universitária de Essen.
Segundo Broelsch, na clínica onde ele trabalha em Essen, há 200 pacientes na lista de espera para um transplante de fígado. "Hoje, em torno de 40% das pessoas que esperam pela doação de um fígado morrerão antes que o transplante possa acontecer. Essa é a realidade na Alemanha."