Pressão sobre o Brasil
21 de julho de 2008A União Européia (UE) e os Estados Unidos elevaram a pressão sobre os países emergentes nesta segunda-feira (21/07), primeiro dia de uma nova maratona de debates e negociações em Genebra, na Suíça, para destravar a Rodada Doha de liberalização do comércio mundial.
O comissário de Comércio da UE, Peter Mandelson, disse que o acordo depende de os países emergentes fazerem cortes "reais" nas suas tarifas alfandegárias para produtos industriais e permitir na prática um novo acesso a seus mercados. "Esse é o limite político mínimo. Nada mais nos fará fechar um acordo", salientou.
Mandelson declarou que a União Européia está disposta a avançar nas negociações e ofereceu um corte médio de 60% nas suas tarifas alfandegárias sobre produtos agrícolas, ante os atuais 54% do projeto em discussão. "Estamos preparados para oferecer mais, mas todos devem entender que precisamos de algo em troca", afirmou.
A proposta foi menosprezada pelos negociadores brasileiros. "Esse percentual [60%] é uma consequência dos diferentes percentuais com os quais a UE já havia concordado. Não se trata de uma concessão, mas de um conseqüência das negociações", declarou Roberto Azevedo, um dos principais negociadores brasileiros, à agência de notícias AFP.
Pressão da Alemanha
O que os países industrializados exigem em troca é que os países subdesenvolvidos e emergentes – liderados por Brasil, China e Índia – facilitem o acesso de produtos industriais e serviços a seus mercados, reduzindo as tarifas alfandegárias e as restrições legais.
Declarações semelhantes às de Mandelson foram feitas nesta segunda-feira na Alemanha. Em artigo publicado no jornal Financial Times Deutschland, o ministro da Economia, Michael Glos, exigiu dos grandes países emergentes – Brasil, China e Índia – que façam mais concessões nas negociações para a liberalização do comércio mundial. "Um melhor acesso aos mercados não pode ser uma via de mão única", escreveu Glos.
Também o presidente da Confederação da Indústria Alemã (BDI), Jürgen Thumann, e o presidente da Federação dos Bancos Alemães, Manfred Weber, disseram que Brasil, China e Índia devem liberalizar o acesso a seus mercados e assim permitir um acordo que destrave a Rodada Doha.
Táticas nazistas
A disputa verbal foi aberta ainda na semana passada pelo próprio Mandelson, que acusou o Brasil de "estar sempre por trás" de todas as dificuldades para se negociar na Organização Mundial do Comércio (OMC).
Por sua vez, o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, acusou as potências industriais de recorrer à tática de desinformação usada pelo chefe da propaganda do regime nazista, Joseph Goebbels, que dizia que uma mentira repetida várias vezes acaba por se tornar verdade.
A reação dos Estados Unidos foi imediata. Por meio de sua assessoria de imprensa, a negociadora americana, Susan Schwab, se disse supreendida com o ataque, que classificou de "pessoal e baixo". Schwab é descendente de sobreviventes do Holocausto. Amorim se desculpou e disse que não tinha a intenção de ofender com o seu comentário.