Poliglota, ma non troppo
25 de fevereiro de 2007Uma pesquisa encomendada pela Comissão Européia ao Centro Nacional de Idiomas, da Inglaterra, revelou que 11% das pequenas e médias empresas do bloco europeu podem estar tendo consideráveis prejuízos nos negócios devido a barreiras de comunicação.
As perdas, num período de três anos, alcançam, em média, 325 mil euros. E esta soma se baseia apenas no que as companhias sabem que perderam ou podem ter perdido. Segundo o estudo, a quantia real deve ser muito mais elevada.
Investimento lucrativo
"Longe de constituir um inoportuno custo adicional aos negócios, investir em habilidades lingüísticas pode elevar dramaticamente as oportunidades de negócios de uma firma", comenta o comissário da UE para o Multilingüismo, Leonard Orban. "Estou planejando colocar o plurilingüismo no centro da estratégia de Lisboa para maior crescimento econômico e geração de empregos."
O posto de Orban foi criado em janeiro último, quando seu país, a Romênia, ingressou na União Européia. A meta do comissariado é "colocar todos os idiomas oficiais da UE em pé de igualdade".
Na prática, contudo, o inglês está se tornando a língua franca, mesmo dentro das repartições da UE. Diversos documentos e comunicados à imprensa só estão disponíveis em inglês, francês ou alemão.
O mito da língua universal
O relatório do Centro Nacional de Idiomas demonstra que esta tendência se espelha nas grandes companhias, onde "o inglês parece ser mais extensamente utilizado como língua intermediária do que é o caso nas pequenas e médias empresas, possivelmente refletindo seu emprego também como idioma corporativo de diversas multinacionais".
Porém a pesquisa também demonstra que esta não é de uma regra absoluta. "O inglês é a língua-chave para conseguir acesso aos mercados de exportação", admite a Comissão Européia. No entanto, o quadro real é bem mais complexo do que a tão citada frase de que se trata de uma "língua universal".
O russo é usado amplamente no Leste europeu, ao lado do alemão e do polonês, enquanto o francês é a língua comercial preferida em determinadas regiões da África. E o espanhol desempenha o mesmo papel na América Latina.
Base de confiança nos negócios
"Parcerias comerciais de longo prazo dependem de estabelecer e administrar relações. Para alcançar isto, o conhecimento cultural e lingüístico do país-alvo é essencial", prossegue a Comissão Européia.
A pesquisa do instituto britânico servirá como base para o trabalho futuro do Fórum Comercial, que Orban pretende lançar em 2007, em parceria com empresas européias. Seu fim é compreender melhor o impacto das habilidades lingüísticas sobre os negócios e o mercado de trabalho da UE.
Torre de Babel cara
A complexa e sobrecarregada maquinaria lingüística da União Européia recebeu um fardo extra em janeiro de 2007, quando o búlgaro, o romeno e o gaélico foram acrescentados aos 20 idiomas oficiais do bloco.
Entretanto, as instituições européias ainda estão tentando assimilar as nove línguas adicionadas à torre de Babel da UE em 2004. No momento, suas três principaís instituições – o Conselho Europeu dos 27 países-membros, a executiva Comissão Européia e o Parlamento Europeu – empregam cerca de quatro mil intérpretes e tradutores, além de pelo menos 1500 freelancers, utilizados em base regular.
Tudo isso custa aos contribuintes da UE cerca de um bilhão de euros por ano ou "menos de 1% do orçamento total", como a Comissão Européia prefere enfatizar.