Sequelas da crise
15 de abril de 2010Os europeus, quando voltam o olhar para a Ásia, sentem uma ponta de inveja. Em alguns países daquele continente, a produção atingiu níveis tão altos quanto antes da crise financeira.
Na China, por exemplo, a economia cresceu em torno de 12%, apenas nos três primeiros meses do ano, em comparação ao mesmo período no ano anterior. Em Cingapura, foi registrado um crescimento de 32%. Também os países emergentes e em desenvolvimento parecem ter superado melhor a crise do que as nações desenvolvidas.
Emergentes se equiparam a industrializados
Jürgen Gern, do Instituto de Economia Mundial da Universidade de Kiel, constata: "Em alguns países emergentes, principalmente na Ásia, há o perigo de um superaquecimento. Hoje já se pode falar até de uma dissociação de alguns emergentes do desenvolvimento rumo à categoria de países industrializados, de tal forma que os efeitos da crise para esses países foi muito menor do que nas nações industrializadas".
Nos países industrializados, por outro lado, as consequências da crise estão sendo sentidas até hoje. Este é o cerne dos resultados apresentados nesta quinta-feira (15/04) pelos mais importantes institutos de pesquisa econômica da Alemanha, Áustria e Suíça.
No momento, a produção industrial nesses países encontra-se ainda 20% abaixo dos valores registrados antes da crise, o que significa uma redução considerável. "O potencial de produção na Alemanha está menor do que o estimado anteriormente. O PIB real só irá recuperar o nível anterior à crise no ano de 2013", afirma o economista Joachim Scheide, também do Instituto de Economia Mundial em Kiel.
Parca recuperação
As previsões de crescimento para a economia alemã neste ano são de apenas 1,5% e para o próximo ano as estimativas giram em torno de 1,4%. Muito pouco para se falar em uma recuperação. De qualquer forma, um alerta para que seja seguido um regime mais sólido de contenção de despesas.
"A consolidação sugerida pelos institutos exige um curso rígido de contenção de despesas, como nunca antes na história da Alemanha pós-guerra. As despesas para os cofres públicos não poderão aumentar em quase nada nos próximos cinco anos. Isso exige, sem dúvida, sérias decisões políticas. É possível que não corresponda às preferências dos cidadãos, já que o Estado passa a oferecer menos bens e serviços e reduz as subvenções. Nesse caso, seria uma tarefa dos políticos deixar claro que, caso contrário, os tributos e encargos sociais teriam que aumentar", analisa Scheide.
Hora certa
Os economistas não escondem que as medidas a serem tomadas pelo governo não irão contar com apoio da população, embora o início desse regime de economia não possa mais ser adiado, pois quanto mais tarde for introduzido, piores poderão ser as consequências.
Kai Carstensen do Intituto Ifo, de Munique, acrescenta: "Nunca vai haver um momento exato para a consolidação do orçamento. Do ponto de vista político, isso vai ser sempre complicado. Mas a ideia de um pacote conjuntural – e tivemos dois deles – é a de puxar o consumo e a produção do futuro para o presente, a fim de evitar a queda no presente. Foi exatamente o que ocorreu. Mas aí é preciso pagar o preço, quando o futuro se torna presente, ou seja, quando chegamos ao futuro e falta produção".
Desemprego pode cair
No entanto, isso pode, na opinião dos economistas, fortalecer a sociedade. O mercado de trabalho se tornou mais sólido, por exemplo, do que o previsto pelos especialistas. No próximo ano, dizem as estimativas, o número de desempregados poderá cair para aproximadamente 3,3 milhões.
O ministro da Economia, Rainer Brüderle, revidou os prognósticos negativos, lembrando que a planejada reforma fiscal irá fomentar um crescimento econômico adicional, reaquecendo então a economia. Além disso, o ministro anunciou um recuo dos pacotes de apoio à conjuntura, "pois eles podem levar a distorções na concorrência, prejudicando os orçamentos", disse Brüderle.
No documento de 91 páginas apresentado pelos economistas, contudo, está presente o alerta de que pode haver novas surpresas negativas na conjuntura. As razões de tamanha desconfiança são o contexto de insegurança da economia mundial e as dificuldades que persistem no setor bancário.
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Revisão: Augusto Valente