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Eisenman volta a justificar memorial do holocausto

Simone de Mello, de Berlim26 de julho de 2002

O arquiteto norte-americano Peter Eisenman fala da arquitetura pós-11 de setembro e do Memorial aos Judeus Assassinados da Europa, no congresso internacional de arquitetura que termina nesta sexta-feira (26) em Berlim.

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Maquete do memorial do holocausto de Berlim, projetado por Peter EisenmanFoto: AP

Pela primeira vez desde 1948, o evento trienal da União Internacional dos Arquitetos (UIA) se chama "congresso de arquitetura" e não "congresso de arquitetos". Sob o lema "Recurso Arquitetura", o evento que termina nesta sexta-feira (26) ressalta a interdependência de arquitetura, sociedade e meio ambiente, sem destacar projetos estéticos individuais ou o trabalho de superstars.

"Idéia arquitetônica"

- Uma exceção é a participação de Peter Eisenman, que – além do renome internacional – polarizou a opinião pública alemã durante os últimos anos, por causa do projeto para o memorial do holocausto, cuja construção começou oficialmente em novembro passado. Numa breve conferência, Peter Eisenman desafiou a concepção do congresso, definindo o lema "recurso" como "idéia arquitetônica" e considerando secundária a função social da construção.

Remetendo-se a gênios da arquitetura renascentista, Eisenman afirmou que o que menos importa nas construções dos italianos Filippo Bruneleschi e Leon Batista Alberti, por exemplo, é se elas funcionam bem ou se o clero ficou satisfeito com o resultado. Eisenman deu a entender que a tarefa do arquiteto é gerar uma mais-valia estética, transcendendo a meta da funcionalidade.

11 de setembro e a mídia

– Depois da destruição das Twin Towers de Nova York, em 11 de setembro passado, os arquitetos vêm se confrontando com o problema de como criar imagens que superem o efeito das veiculadas pela mídia. A transmissão live do atentado ao World Trade Center gerou uma imagem tão imediata e dinâmica do ocorrido, cujo impacto dificilmente poderá ser superado pelo memorial a ser construído no local. Disso Eisenman deduz que a arquitetura tem de encontrar – longe da criação de imagens – uma forma intrínseca de representar a cultura.

Solo como recurso

–Eisenman considera o solo a autêntica "idéia arquitetônica", o "recurso" que singulariza a arquitetura. O terreno que serve de suporte para a construção é o que diferencia a arquitetura das outras artes e da mídia. Para ele, o solo não se reduz a uma mera superfície, sendo muito mais um palimpsesto, um locus que encerra a memória coletiva em camadas. Só através de um trabalho consciente com o solo o arquiteto pode atingir a totalidade midiática, ressalta Eisenman.

Memorial do holocausto

– Numa nova tentativa de legitimar seu polêmico projeto para o Memorial dos Judeus Assassinados na Europa, iniciado em parceria com o escultor norte-americano Richard Serra, Eisenman recorreu à idéia do solo como recurso. Das ruas adjacentes, o visitante avista uma superfície de 2700 blocos de concreto de diferentes alturas, cuja topografia se diferencia do relevo do terreno, assim como o nível consciente se distingue do subconsciente.

A meta de Eisenman é colocar o visitante na posição de desorientação das vítimas do holocausto. Com isso, a arquitetura estaria proporcionando às pessoas uma nova experiência espacial, sem recorrer a imagens. O que contradiz a teoria de Eisenman, no entanto, é a força iconográfica de um campo de lápides, associado imediatamente a um cemitério, ou seja, uma imagem bastante lapidar do holocausto.

Além do memorial do holocausto, o arquiteto Peter Eisenman projetou dois outros edifícios para a capital alemã: a Casa no Checkpoint Charlie, antiga fronteira do setor americano de Belim Ocidental com Berlim Oriental, e a Casa Max Reinhardt (não construída), ambas em Berlim-Mitte.