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Eleições nos EUA não ameaçam futuro da Otan, diz Stoltenberg

5 de abril de 2024

Em entrevista exclusiva, secretário-geral diz que aliança militar é a mais bem-sucedida da história e aposta na continuidade do apoio americano mesmo em caso de vitória de Trump: "São mais fortes com do que sem a Otan."

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Secretário-geral da Otan Jens Stoltenberg em um estúdio, cercado por câmeras e dando entrevista a uma jornalista
Secretário-geral da Otan Jens Stoltenberg em entrevista à DWFoto: Bernd Riegert/DW

Em 75 anos, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) atravessou muitas crises e algumas disputas políticas. Atualmente, a aliança se esforça para manter a unidade entre seus membros no apoio à Ucrânia frente ao ataque da Rússia. A ajuda dos Estados Unidos, o maior aliado de Kiev, está empacada no Congresso americano. E enquanto os países bálticos pressionam por mais ajuda, outros questionam se Kiev é realmente capaz de impor uma derrota a Moscou. Em meio a tudo isso, surgem acusações frequentes sobre o ritmo lento de fornecimento de armas às tropas ucranianas.

E embora reconheça as divergências, o secretário-geral da entidade, Jens Stoltenberg, diz em entrevista à DW que nos últimos anos a aliança sempre conseguiu se unir. "Sempre fomos capazes de nos unir em torno de nossa missão central, que é a nossa proteção e defesa mútuas."

"Os EUA são mais fortes com a OTAN do que sem"

Na conversa, gravada após a reunião dos ministros das Relações Exteriores em Bruxelas, Stoltenberg afirma não ver a aliança sob risco mesmo se o republicano Donald Trump voltar à Presidência dos Estados Unidos nas eleições deste ano. "É do interesse de segurança dos EUA. Eles são mais fortes com a Otan do que sem", defende.

Recentemente, Trump chegou a declarar que "encorajaria" a Rússia a atacar membros da aliança que não cumprissem com as metas de gastos militares. Stoltenberg, porém, pondera que desde então os gastos com defesa têm aumentado, e assegura: "O plano agora é que todos os membros da Otan, inclusive os EUA, tomem as decisões necessárias para manter o apoio à Ucrânia."

Essa seria, segundo o dirigente, uma posição respaldada pela maioria do Congresso e também pela população americana, e concretizá-la agora seria apenas uma questão de organização.

Stoltenberg cochicha algo no ouvido do chefe da diplomacia americana, Antony Blinken
Stoltenberg conversa com o chefe da diplomacia americana, Antony BlinkenFoto: Johanna Geron/Reuters/AP/picture alliance

O norueguês, que deixa o cargo no segundo semestre, avalia positivamente a situação da Otan: "É a aliança mais forte e bem-sucedida da história, por dois motivos: porque estamos unidos em nossa defesa mútua, e porque sempre fomos capazes de nos adaptar quando o mundo mudou."

Agora, segundo Stoltenberg, a maior ameaça à aliança é a Rússia – e a Otan, portanto, agirá de acordo.

Ucrânia pede mais defesa aérea

Presente à reunião de aniversário da Otan em Bruxelas, o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, dirigiu à aliança um pedido por mais sistemas de defesa aérea.

"A salvação de vidas ucranianas, da economia e das cidades depende de a Ucrânia ter sistemas como o Patriot e outros. Falamos do Patriot porque é o único sistema capaz de interceptar mísseis balísticos", disse.

Se o pedido será atendido, ainda é incerto. A ministra alemã do Exterior, Annalena Baerbock, contudo, foi uma das que sinalizou apoio ao argumentar que a defesa da Ucrânia é algo que não interessa somente a Kiev: "Se a Ucrânia não puder mais se defender, a guerra de agressão russa poderá continuar em direção às fronteiras europeias, em direção às nossas próprias fronteiras da Otan."

Segundo esse raciocínio, a credibilidade e o futuro da Otan dependem da reação ucraniana. Daí a importância de ganhá-la para a Otan, conforme explica à DW o oficial da Otan Jamie Shea – apesar de a Ucrânia ainda não integrar a aliança e, portanto, não estar tecnicamente coberta pelo compromisso de defesa mútua previsto no Artigo 5 do Tratado da Otan.

Novo fundo de 100 bilhões para a Ucrânia?

A Polônia é um dentre os 20 países que aderiram à aliança após a sua fundação em 1949. "Estamos onde pertencemos. Na companhia de democracias, cercados por amigos que permanecem juntos como uma rocha", disse o ministro das Relações Exteriores polonês, Radoslaw Sikorski, numa alusão à resistência contra a Rússia, de cuja influência o país se livrou ainda nos anos 1990.

Mas a reprovação da Rússia não é unânime: a Hungria, que aderiu à Otan em 1999, recusou-se nesta quinta a apoiar totalmente uma política pró-Ucrânia e contrária ao Kremlin. "Essa não é a nossa guerra. Essa não é a guerra da Otan", insistiram diplomatas húngaros ao justificar a oposição a um pacote de socorro a Kiev no valor de 100 bilhões de euros (R$ 548 bilhões).

A proposta havia sido feita por Stoltenberg para consolidar o apoio militar à Ucrânia, mas foi recebida com pouco entusiasmo também por outros países, que temem o impacto orçamentário da medida e um maior envolvimento formal da aliança no conflito.

Por enquanto, a Otan não entrega armas nem munição; essa tarefa tem sido assumida individualmente pelos países-membros, em negociações bilaterais feitas diretamente com a Ucrânia e coordenadas pelos Estados Unidos – se isso continuará após as eleições americanas, ainda é incerto.

Um eventual retorno de Trump à Casa Branca pode mudar tudo. O republicano já disse que não mandaria mais nenhum centavo para a Ucrânia.

Entrevista realizada por Alexandra von Nahmen.

 

Bernd Riegert
Bernd Riegert Correspondente em Bruxelas, com foco em questões sociais, história e política na União Europeia.