Eleições na Ucrânia reaproximam rivais
27 de março de 2006Os resultados parciais das eleições parlamentares na Ucrânia indicam que o presidente Viktor Yushchenko será derrotado tanto pelo homem que ele mesmo derrotou durante a Revolução Laranja há cerca de um ano, quanto pela mulher que ele demitiu do cargo de primeira-ministra seis meses atrás.
De acordo com os primeiros dados da contagem divulgados nesta segunda-feira (27/03), sua coalizão presidencial Nossa Ucrânia recebeu apenas 17% dos votos, comparado com os 31% obtidos pelo pró-russo Partido das Regiões, do líder da oposição Viktor Yanukovich, e os 24% contados pelo bloco de Julia Timoshenko, ex-aliada de Yushchenko e hoje na oposição.
Os números também mostram que outros dois partidos devem alcançar o mínimo de 3% necessários para ingressar no Parlamento – os socialistas, com 5%, e os comunistas, com 3%.
Reações positivas
O governo alemão congratulou a Ucrânia pelo resultado das eleições que, por enquanto, pode-se dizer terem sido "livres, justas e democráticas", segundo um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores. Berlim disse estar contente com o fato de o povo ucraniano ter podido expressar seu desejo democrático pela primeira vez sem impedimentos e espera que uma coalizão entre Timoshenko e Yushchenko traga estabilidade política e garanta o curso de reformas iniciado.
A União Européia pretende intensificar ainda mais os laços políticos com Kiev. Em Bruxelas, a comissária de Relações Exteriores da UE, Benita Ferrero-Waldner, caracterizou as eleições como mais uma prova da consolidação das regras democráticas no país desde a Revolução Laranja. "Espero que possamos negociar uma cooperação ainda mais intensa, que possa incluir até uma união alfandegária", disse.
Votos para a oposição
"Os resultados são a avaliação do povo ucraniano do primeiro ano de governo de Yushchenko. E eles depositaram a confiança em seus opositores", disse Kost Bondarenko, analista político de Kiev. Desde que subiu ao poder em 2004, a popularidade de Yushchenko despencou com o enfraquecimento da economia e cisões na bancada laranja.
Antes de assumir o governo ucraniano, quando seu opositor Yanukovich ainda era primeiro-ministro sob a presidência de Leonid Kutschma, a economia do país crescia a um índice de 12%. Desde a revolução, esse índice caiu para 4%. Para especialistas, essa é a principal causa para a atual popularidade de Yanukovich.
Sucesso inesperado
Mas, mesmo que obtenha o maior número de votos, Yanukovich provavelmente terá de permanecer na oposição, graças ao imprevisto êxito de Julia Timoshenko. "Temos o apoio de três forças políticas distintas: o Partido Socialista, o bloco Nossa Ucrânia e o meu bloco, e, com isso, a maioria no Parlamento", disse ela.
"Hoje temos todas as possibilidades de firmar uma coalizão sob a responsabilidade do meu partido." Ainda na noite de domingo, Timoshenko enviou um projeto para um acordo de coalizão ao Partido Socialista e outro ao partido de Yushchenko, que é o grande perdedor do pleito.
Yushchenko – cuja popularidade um ano atrás atingia 70% – não se manifestou pessoalmente, tendo sido representado por seu coordenador de campanha: "Gostaria de parabenizar a todos nós. Se somarmos todos os votos laranjas, obtivemos uma clara vitória".
O resultado, no entanto, ainda não é definitivo e os malotes contendo cédulas das mais diversas regiões do país chegam apenas aos poucos à capital Kiev. "Vamos trabalhar na apuração toda a segunda-feira e talvez parte da terça-feira", afirmou o diretor da comissão eleitoral central, Yaroslav Davidovich.
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