Enem não aborda ditadura, mas traz questões de temas sociais
21 de novembro de 2021Estudantes de todo o Brasil realizaram neste domingo (21/11) o primeiro dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2021, principal meio de acesso ao ensino superior do país. Os exames avaliaram os candidatos em ciências humanas, linguagens e redação.
O tema da redação foi "Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil". A prova pedia aos estudantes que analisassem a importância de os brasileiros terem certidão de nascimento e documentos que permitam o exercício da cidadania e acesso a políticas públicas, e discutissem problemas decorrentes da falta do registro.
Segundo a Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais, cerca de 2,1% dos brasileiros ainda não têm acesso à sua certidão de nascimento, o que impede a emissão de outros documentos.
Pelo terceiro ano seguido, período que coincide com o governo de Jair Bolsonaro, o Enem não trouxe questões sobre o período da ditadura militar. A pressão do governo para tentar interferir no conteúdo da prova, porém, não impediu que o exame abordasse temas sociais importantes da história contemporânea do Brasil.
Entre os assuntos discutidos nas questões estavam, por exemplo, população carcerária, erotização da mulher, desigualdade de gênero, questão indígena, escravidão e racismo. Uma das perguntas pedia que os estudantes interpretassem um trecho da música "Admirável Gado Novo", do cantor Zé Ramalho, e a relacionasse com as condições sociais no Brasil.
Crise no órgão que organiza o exame
A edição do Enem deste ano foi realizada em meio a uma crise no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), que organiza o exame. No início de novembro, 37 servidores do órgão pediram exoneração, acusando o Inep de desconsiderar critérios técnicos e promover assédio moral para retirar da prova questões que desagradassem o governo.
Na segunda-feira, Bolsonaro disse que as questões do Enem "começam a ter a cara do governo". Reportagens publicadas por jornais brasileiros apontaram que o presidente pediu que o Enem chamasse o golpe de 1964 de "revolução", que o governo pressionou servidores para retirar pelo menos 20 questões de uma primeira versão da prova deste ano, e que o Inep tentou incluir, sem sucesso, professores que não haviam sido aprovados pelo processo seletivo público na equipe que escolhe as questões para a prova.
Na quarta-feira, diversas entidades educacionais moveram uma ação civil pública pedindo o afastamento do presidente do Inep, Danilo Dupas, sob o argumento que sua gestão poderia causar danos gravíssimos à realização do exame. No mesmo dia, o ministro Ribeiro afirmou em audiência na Câmara dos Deputados que não houve "ordem de cima" para trocar questões do Enem. Na sexta-feira, o Tribunal de Contas da União abriu uma investigação para apurar as denúncias dos servidores do Inep.
Queda no número de inscritos
Neste ano, 3,1 milhões de estudantes tiveram a inscrição confirmada para fazer o exame, o menor número desde 2005. No seu auge, em 2014, o Enem chegou a ter 8,7 milhões de inscritos.
O menor número de inscritos foi associado por especialistas ao fechamento de escolas durante a pandemia, que desmotivou estudantes a tentarem ingressar em universidades públicas.
Outro fator que reduziu o número de inscritos foram regras mais rigorosas para a isenção da taxa de inscrição, de R$ 85. O edital do exame excluiu do benefício os estudantes que haviam se inscrito no Enem de 2020 com isenção da taxa mas faltaram à prova, realizada durante o pico da pandemia no Brasil.
bl (ots)