Entenda quem está por trás dos protestos em Frankfurt
18 de março de 2015Grupos contrários às políticas de austeridade europeias protestaram violentamente nesta quarta-feira (18/03) em Frankfurt durante a inauguração da nova sede do Banco Central Europeu (BCE). Confrontos dos ativistas com forças de segurança deixaram dezenas de policiais e ativistas feridos.
A manifestação foi promovida pelo Blockupy, uma aliança de mais de 90 organizações de esquerda, críticas do capitalismo e do sistema bancário. Entre elas estão sindicatos, grupos antifascistas, organizações estudantis, grupos antrracistas e feministas.
Qual o objetivo do protesto?
A aliança se define cada vez mais como uma rede europeia de movimentos variados. O objetivo é, dizem, "construir democracia e solidariedade de baixo para cima". O Blockupy luta contra uma política fiscal que prioriza um orçamento equilibrado (austeridade), assim como contra a política anticrise das "instituições" também conhecidas como parte da chamada troica: o Fundo Monetário Internacional (FMI), a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu (BCE).
Qual a diferença entre Blockupy e Occupy?
Occupy Frankfurt é um dos grupos que fazem parte do Blockupy e é um pouco mais antigo que ele. O modelo para o Occupy na Alemanha foi o movimento nova-iorquino Occupy Wall Street, que promoveu um acampamento no meio de Manhattan e manifestações contra o poder dos bancos.
Em Frankfurt, o Occupy acampou diante do antigo edifício do BCE, entre outubro de 2011 até sua retirada do local, em agosto de 2012. Sob o lema "Blockupy", o movimento Occupy e outros grupos críticos ao capitalismo anunciaram em abril de 2012 um bloqueio do bairro financeiro da cidade e uma manifestação com vários milhares de participantes. Durante os protestos, o Occupy teve que retirar seu acampamento por quatro dias, sendo autorizado a voltar, antes que a prefeitura de Frankfurt determinasse a desocupação do acampamento alguns meses mais tarde.
O que o Blockupy critica no BCE?
A aliança acusa o BCE de promover a falência de países europeus, como a Grécia, com sua política de austeridade e servindo aos interesses dos credores internacionais e às custas do sofrimento da população grega.
Qual o papel do BCE para a Grécia?
É um papel bastante importante. Ele abastece os bancos gregos com bilhões de euros e também comprou títulos do governo grego, num momento em que o país não conseguia mais obter dinheiro no mercado de capitais. Atualmente, o BCE concede a bancos gregos empréstimos especiais de até 69,4 bilhões de euros. Assim, garante a sobrevivência dos bancos, que sofrem de saídas em larga escala de capital – preocupados, os gregos estão transferindo seu dinheiro para o exterior.
Sem essa ajuda, os bancos gregos iriam à falência, o país provavelmente teria que deixar a zona do euro e adotar uma moeda própria. O presidente do BCE, Mario Draghi, recentemente enfatizou: "Os empréstimos à Grécia estão agora em 68% do PIB grego e são, portanto, maiores do que em qualquer outro lugar na zona do euro." Como uma das três instituições da troica, o BCE também monitora a implementação das reformas acordadas entre os credores e Atenas.
O que há de verdade na acusação de que o BCE só ajuda bancos?
A tarefa do BCE é a estabilidade de preços. Para alcançar seu objetivo, ele pode fornecer dinheiro aos bancos, que, por sua vez, podem repassar, sob a forma de empréstimos, a empresas e consumidores. Em contrapartida, o BCE não pode ajudar diretamente o Estado grego e, por consequência, os cidadãos, pois violaria, assim, a proibição de financiamento público. Além disso, estaria transferindo ilegalmente o dinheiro dos contribuintes de outros países europeus para Atenas.
Por que a sede do BCE como alvo?
A nova sede do BCE é uma torre de vidro gigantesca e retorcida, concluída no final de 2014, depois de cerca de cinco anos de construção. Em novembro, os primeiros funcionários da instituição se mudaram para o edifício de 185 metros de altura.
No início de dezembro, o conselho de administração do BCE se reuniu pela primeira vez na nova sala de reuniões, no 41º andar do edifício. A nova sede até agora custou cerca de 1,3 bilhão de euros. De 1998 a 2014, o Banco Central Europeu era alojado, em regime de aluguel, na chamada Eurotower, no centro da cidade de Frankfurt.
O Tribunal de Contas Europeu recomendou que todas as instituições europeias ocupassem edifícios próprios, o que é mais barato a longo prazo.
Também devido aos protestos anunciados, o BCE optou por realizar a cerimônia de inauguração em um evento pequeno, para cerca de 20 convidados. De acordo com um porta-voz do BCE, em tempos de crise, a instituição quis realizar uma cerimônia de inauguração "apropriada".