Escritor Uwe Johnson é lembrado nos 30 anos de sua morte
22 de julho de 2014Quem ainda lê hoje em dia Uwe Johnson? Alunos de estudos germânicos ou aficionados da literatura alemã do pós-guerra, quem mais? Bem, O tambor, de Günter Grass, ou Bilhar às nove e meia, de Heinrich Böll, também são livros de décadas passadas, que são percebidos por muitos, hoje, somente como leitura obrigatória. Também por esse motivo eles são lidos. Mas Johnson?
Críticos e estudiosos de literatura logo chegaram a outros veredictos: após a publicação de dois dos quatro volumes de Jahrestage (Aniversários, em tradução livre), a principal obra do autor, Günter Blöcker escreveu: "Com esse volume, Johnson deixa para trás todos os autores de sua geração, tanto um Grass quanto um [Martin] Walser." Blöcker não era o único a pensar assim.
No ano comemorativo de 2014, Uwe Johnson talvez possa ter a esperança de ganhar mais leitores, talvez também aqueles de uma geração mais jovem. Por dois motivos: Johnson morreu há 30 anos, na madrugada de 24 de fevereiro de 1984, numa ilha do rio Tâmisa, para onde ele havia se retirado dez anos antes. E, há 80 anos, ele nasceu, precisamente no 20 de julho do quente verão de 1934, em Cammin, uma pacata cidade da Pomerânia.
Raízes no norte da Alemanha
Os jubileus de morte e nascimento do escritor são agora lembrados em 2014. Em jornadas científicas, jornais e publicações literárias. Principalmente no norte da Alemanha, a terra natal do autor, em Neubrandenburg, onde a cada dois anos é outorgado um alto prêmio literário que leva o nome do autor.
Neste ano, o prêmio vai para o escritor Lutz Seiler, que aborda em seu novo romance Kruso, lançado no final do ano passado, o destino dos habitantes da antiga Alemanha Oriental que queriam deixar o país através do Mar Báltico. No vilarejo de Klütz, no distrito de Nordwestmecklenburg, encontra-se a Casa Literária Uwe Johnson. Ali, o prêmio será entregue a Seiler em 19 de setembro.
Da província para o mundo, a vida de Johnson foi marcada por todo tipo de ruptura. A história mundial – com a Segunda Guerra e a divisão da Europa, com duas potências e uma pátria dilacerada – influenciou a obra literária de Johnson tanto quanto a sua vida privada. E não é nenhuma exasperação dizer que esse dilaceramento também custou sua vida.
Mudança de sistemas
"Grandes e pequenas historiografias, uma representação da realidade tão precisa quanto poética, isso impulsionou o escritor." Foi assim que o crítico literário Volker Weidermann descreveu uma vez a obra de Johnson.
É uma obra que surgiu a partir da história de vida. Após a Segunda Guerra, os pais fugiram para o norte da Alemanha. Seu pai foi levado então para um campo soviético de prisioneiros, onde morreu em 1946. Johnson frequentou a escola em Güstrow, foi à universidade em Rostock e Leipzig, protestou na época contra a arbitrariedade na Alemanha Oriental.
A mãe fugiu para Berlim Ocidental em 1956, o filho seguiu três anos depois. Naquele mesmo ano, foi lançado o seu primeiro romance, Mutmassungen über Jakob (Especulações sobre Jakob, em tradução livre).
Foi um grande ano para a literatura alemã. Em 1959 foi publicado também O tambor. Uwe Johnson fazia parte do Grupo 47, a lendária união de autores alemães de 1947 a 1967, que tanto viria a moldar a literatura do país no pós-guerra.
Mutmassungen über Jakob começa com a frase "Mas Jakob sempre cruzou os trilhos." O autor também nunca respeitou as correntes de época, a autoridade e as convenções literárias. No livro, o leitor se depara pela primeira vez com figuras literárias, que reapareceriam em trabalhos posteriores como Jahrestage.
Político e privado
As personagens de Johnson estão sempre presas no curso dos eventos. Político e privado se misturam. República Federal da Alemanha, Otan, República Democrática Alemã e Stasi se tornam os principais atores, assim como os levantes na Europa Oriental.
E no meio de tudo isso, Jakob, o indivíduo. Johnson construiu literatura a partir da vida: polifônica e fragmentária. "Com um estilo narrativo sugestivo e tateante, ele tentou abordar as tramas entre relações privadas e políticas, os deslocamentos de visões pessoais em diferentes realidades sociais", explica um volume sobre a literatura mundial de 1982. "Possíveis desenvolvimentos são repassados à apreciação do leitor, o autor divide a sua impotência com as personagens."
Também os romances seguintes de Johnson não foram uma leitura fácil. Dois anos mais tarde, O terceiro livro sobre Achim, e então a obra-prima de Johnson Aniversários (1979-1983). Eram quatro volumes, quase 2 mil páginas, um dos projetos mais ousados da literatura alemã do pós-guerra. Também aqui aparece a ligação entre o político e o privado, entre documentário e ficção – suas narrativas foram sobre e justapostas. Do ponto de vista do escritor, não se pode falar de um estilo narrativo autoral – ele compilou a simultaneidade da vida em forma literária.
Panorama da história alemã
Jahrestage. Aus dem Leben von Gesine Cresspahl ("Aniversários. Da vida de Gesine Cresspahl", em tradução livre) resume aquilo com que Johnson se ocupava e onde ele morava: Mecklenburg e Nova York, província e metrópole. A "história" narrada no livro vai do fim da República de Weimar, passa pela antiga Alemanha Oriental e chega até a repressão da Primavera de Praga. Mais tarde, a cineasta Margarethe von Trotta viria a levar o livro às telas.
Posteriormente, no entanto, as exigências da vida viriam a se tornar difíceis demais para a pessoa de Uwe Johnson. Depois que ele se mudou para uma ilha do Tâmisa, em Kent, ele enterrou-se em seus medos. Começou a beber e, com 49 anos, morreu de ataque cardíaco.
À literatura alemã, ele deixou uma obra única, incomparável, nada fácil de conquistar e superar. "Por meio de sua linguagem, Johnson tentou transmitir ao leitor os seus questionamentos intelectuais diante da realidade captada por ele", afirmou o cronista literário Heinz Ludwig Arnold. E Johnson é um verdadeiro autor moderno da língua alemã. Por esse motivo, é bom que ele seja tão lembrado neste ano. E talvez mais lido.