50 anos de 'O Tambor'
14 de setembro de 2009Quando Günter Grass apresentou seu romance O Tambor na Feira do Livro de Frankfurt – há exatamente 50 anos, no outono setentrional de 1959 –, alguns críticos acreditavam estar lendo nada menos que uma declaração de independência da literatura alemã do pós-Guerra. Ali começava a se esboçar o primeiro grande êxito internacional de um autor alemão no pós-Guerra.
Na visão da autora sul-africana Nadine Gordimer, nenhum outro escritor alemão teve um impacto tão grande sobre a literatura mundial. E para o Nobel de Literatura japonês Kenzaburo Oe, O Tambor é um dos mais significativos romances da segunda metade do século 20. O cineasta norte-americano Martin Scorsese declarou, por exemplo, que esse foi o primeiro romance que ele leu, até mesmo antes do clássico Moby Dick, de Herman Melville.
"Desesperado como um pedinte cigano"
Em 1958, o poeta e escultor Günter Grass leu um capítulo de seu novo livro durante um encontro do Grupo 47, no restaurante Adler, em Großholzleute, na região do Allgäu.
"Ele parecia audaz", se lembrou posteriormente Hans Werner Richter, o "pai" do grupo de escritores, "ao que me pareceu, um pouco decadente, desesperado como um pedinte cigano". Para Grass, esse foi um dia de triunfo que, "apesar dos êxitos posteriores do autor, jamais se repetiu na mesma intensidade".
O livro chegou ao público em 1959, um ano importante para a literatura alemã. Além de O Tambor, foram lançados Bilhar às Nove e Meia, de Heinrich Böll, e Mutmaßungen über Jakob (Especulações sobre Jakob), de Uwe Johnson.
Böll e Grass são os únicos dois alemães a terem recebido o Prêmio Nobel de Literatura no pós-Guerra. Em 1999, o secretário permanente da Academia Sueca, Horace Engdahl, homenageou Grass – cujo envolvimento quando jovem com a Waffen-SS, unidade de elite da polícia nazista, só veio a público em 2006 – como um escritor com uma obra que "rompeu com o anátema que pesava sobre o passado da Alemanha".
Acusações de libertinagem e pornografia
O eco do triunfo inicial de O Tambor demorou 28 anos para chegar à Alemanha Oriental, onde o livro só foi publicado em 1987. Um dos políticos de cultura do regime comunista, o escritor Hermann Kant, criticou a obra como um livro que "passa dos limites na imaginação do anormal e do monstruoso", provindo de um autor que "alguns críticos querem nos vender como o novo Rabelais, o novo Grimmelshausen".
Na era Adenauer, não foram poucos os que protestaram contra as cenas "libertinas" do romance; muitos chegaram a considerá-lo pornografia. Com O Tambor, Grass não deixou de abrir um caminho na representação literária para uma maior liberdade sexual, algo a ser radicalizado pela geração de 1968.
Fato é que Grass incorporou o demoníaco em seu romance sobre a época do nazismo e dissecou os pequenos-burgueses pretensamente indefesos, mas coniventes com o regime, trançando seus destinos com a história mundial em diversos pequenos episódios.
"Dadaísmo com juízo"
Algo também discretamente perceptível no livro é a declaração de amor do autor, nascido em 1927 em Gdansk, à sua terra natal e à sua origem cassúbia. Do ponto de vista da história da literatura, o estilo expressionista experimental de O Tambor, "o desfile de carnaval narrativo", influenciou gerações de autores. Já o próprio Grass reconheceria como modelos escritores como Alfred Döblin.
Grass, que quando jovem fez formação na profissão de canteiro, lida com a linguagem como um "canteiro lida com granito", afirmou o escritor Thomas Brussig. "Dadaísmo com juízo", chegaram a denominar seu estilo.
Assim como no caso de Buddenbrooks, de Thomas Mann, O Tambor teve que esperar décadas para receber as honras de Estocolmo. E só em 1980 é que o romance de Grass chegou às telas: o filme sob direção de Volker Schlöndorff foi a primeira produção alemã do pós-Guerra a conquistar um Oscar.
SL/dpa
Revisão: Alexandre Schossler