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13 de julho de 2010A suspeita de que Liliane Bettencourt, herdeira da L'Oréal e mulher mais rica da Europa, tenha apoiado a campanha eleitoral de diversos políticos de alto escalão abalou a opinião pública francesa. Na noite desta segunda-feira (12/07), o presidente francês, Nicolas Sarkozy, concedeu à televisão uma entrevista que estava sendo esperada com ansiedade por seus concidadãos.
O recado de Sarkozy foi claro: nem ele nem seu ministro do Trabalho, Eric Woerth, estariam envolvidos no escândalo de financiamento partidário ilegal, explicou o presidente francês.
"Eric Woerth é uma pessoa profundamente honesta, que há três semanas vem sendo vítima de calúnias e mentiras, o que tem suportado com dignidade exemplar para a classe política", declarou Sarkozy sobre o ministro, cuja esposa trabalhava na administração dos bens da bilionária francesa.
L'Oréal e conservadores
Principalmente o jornal Le Monde e o site de notícias Mediapart revelaram o caso em torno de Liliane Bettencourt. Após a entrevista de Sarkozy, o chefe de Mediapart e antigo editor-chefe do Le Monde, Edwy Plenel, declarou consternado: "Nós tivemos uma peça de teatro que deixaria pasmo qualquer democrata. O presidente controla a polícia, a Justiça, a mídia pública, como se fosse um chefe de pessoal. E agora ele ainda ganha um programa próprio?"
Mesmo que todos os envolvidos desmintam, sempre houve ligações estreitas entre a L'Oréal e políticos conservadores. Existe até um livro sobre a política da empresa, que aborda a "arte de se entender bem com o Estado".
Um exemplo foi o envolvimento do antigo presidente Georges Pompidou, em 1974, na decisão da companhia suíça Nestlé de se tornar acionista minoritária da L'Oréal. O objetivo declarado do acordo foi evitar que a L'Oréal fosse estatizada, caso os esquerdistas viessem algum dia a ocupar a presidência.
Intervenção estatal
Mas também há muitos exemplos recentes da intervenção governamental em processos econômicos. Um dos mais relevantes foi a oferta para a construção de um reator nuclear francês em Abu Dhabi. Pouco antes do fim do prazo para a apresentação de propostas, o Palácio do Eliseu forçou as empresas EDF, GDF-Suez, Total, Areva, Vinci e Alstom a concorrer de forma conjunta – sem sucesso, pois ela foi ganha pelos coreanos.
Além disso, no passado, as relações franco-alemãs sempre foram afetadas por brigas na Airbus. Só lentamente as lideranças da empresa conseguiram se impor, usando os custos como critério.
Também o caso Areva-Siemens ficou famoso. Na opinião dos alemães, Nicolas Sarkozy, impediu que a Siemens ampliasse sua participação na Areva NP, uma subsidiária da companhia estatal de energia atômica. No início de 2009, a empresa alemã desistiu de sua participação.
"República de bananas"?
Na França, todos os políticos de primeiro escalão e os magnatas da economia frequentaram as Grandes Ecoles – as escolas de elite da França. As redes de contatos que resultam dessas escolas são de grande importância, também porque muitos dos que ali se formaram exercem funções no serviço público ou no setor empresarial. E já que abrir mercados estrangeiros para empresas francesas é política declarada da França, o país já se viu envolvido por diversas vezes em escândalos de exportação e casos de corrupção.
Dois juízes investigadores não conseguiram esclarecer o escândalo da venda de fragatas da companhia francesa Thomson a Taiwan, quando oito envolvidos morreram sob circunstâncias misteriosas.
Em 2002, desconhecidos explodiram um ônibus com 11 engenheiros franceses no Paquistão. Especula-se na França se não foi vingança, porque o presidente Jacques Chirac não quis mais pagar propina a generais paquistaneses.
A França tornou-se uma "república de bananas"? O juiz Thiérry Jean-Pierre, que como político e escritor lutou pelo esclarecimento do caso das fragatas de Taiwan, formulou assim sua opinião: "No exterior, somos vistos como uma 'república de bananas'. Isso se nota, quando se viaja muito."
Autor: Johannes Duchrow (ca)
Revisão: Roselaine Wandscheer