Entrevista
11 de junho de 2009
Deutsche Welle: "Fare Mondi", fazer mundos, é o lema desta Bienal. O que o visitante pode aprender sobre o mundo de hoje ao percorrer a exposição?
Daniel Birnbaum: O que dá para sentir é que talvez impere uma certa confusão no mundo todo, mas também que existem novas tentativas e que em todo lugar está se pensando sobre arte e recomeços.
A última bienal foi uma festa gigantesca, um êxtase festivo. Depois veio a crise financeira. E este ano? A arte tem chance de voltar a ser o centro das atenções?
Escassez de dinheiro não é fácil quando se quer fazer uma exposição. Mas talvez assim acabem desaparecendo do mundo das artes algumas coisas menos necessárias, e talvez a arte se torne simplesmente mais visível.
Quase 80 países apresentam seus artistas nos pavilhões da Bienal. Mas foi você que concebeu o panorama. De acordo com quais critérios? Trata-se de uma escolha subjetiva? A mostra corresponde ao gosto do curador ou é uma espécie de "best of"?
A exposição não é nenhum anuário, o melhor do que pôde ser visto em outros lugares este ano. Trata-se de novas produções. É uma mistura de artistas pelos quais sinto uma espécie de confiança e com os quais já trabalhei junto. E também pessoas novas, é claro, de partes do mundo que não conheço muito bem. Por fim, há que se admitir: é uma escolha subjetiva, sim.
Você é diretor de uma das escolas superiores de arte mais renomadas na Europa, a Städel, em Frankfurt. E você está expondo inúmeros artistas alemães e artistas internacionais que trabalham na Alemanha. A Alemanha continua sendo a plataforma de criatividade artística que havia se tornado nos últimos anos?
Acho que sim. Sobretudo Berlim se tornou uma espécie de capital da produção artística. Muitos artistas jovens, mas também estabelecidos, moram em Berlim. É uma situação vital. E, de certa forma, a cidade é pouco cara, se comparada a Londres e Nova York. Sim, a Alemanha é realmente um país importante para artistas não alemães.
E você trabalha a partir disso, não é, a partir desses talentos?
Pois é, acho interessante o fato de uma importante artista do Egito, atuante em diversas partes do mundo, em diversos países, morar em Düsseldorf. Ou de vários artistas norte-americanos e sul-americanos morarem em Berlim. Como já estou morando há nove anos na Alemanha, conheço a situação relativamente bem.
A artista que fez o pavilhão coreano também trabalha na Alemanha. A minha questão é sobre esses novos mundos artísticos – América Latina, Índia, China? Eles estão adequadamente representados nesta Bienal?
Acredito e espero que sim. Existem os pavilhões nacionais, um coreano, por exemplo, selecionado por um curador e uma artista da Coreia, e há essa grande exposição internacional, pela qual sou responsável. Nela, é normal que existam artistas de todo o mundo. O cenário artístico que se conhecia no Ocidente antes era bastante europeu e ocidental. Havia Colônia, Paris, Nova York, mas agora se tornou uma coisa normal incluir artistas da Ásia, dos países africanos, da América do Sul.
Mas será que também não é um certo álibi para misturar um pouco de exotismo?
Acho que não é mais possível ver as coisas desse jeito. Afinal, esses artistas se tornaram tão influentes, inclusive para o nosso universo artístico e dentro das nossas principais instituições, que o exótico deixou de ser o principal.
Temos o exemplo dos Emirados Árabes, que estão representados pela primeira vez na mostra, também com um pavilhão próprio. Seria esse o lado bom da globalização, o fato de a arte contemporânea reunir tantos mundos?
O mundo consiste de Estados nacionais, mas também de tendências globalizantes. Em toda parte se ouve a mesma música, se usa o mesmo tênis, se assiste aos mesmos vídeos de música pop. Ou seja, a globalização também tem um efeito nivelador. Minha esperança é que a arte possa ser uma espécie de contramovimento, que a arte e a poesia insistam nas diferenças culturais, não de forma reacionária, mas sim de um modo interessante, poético.
Muitas vezes, também se trata apenas de dinheiro e de grandes nomes, como sabemos. Nesta semana, foi inaugurado em Veneza um grande museu, a coleção de um miliardário francês, François Pinault, que reformou uma antiga alfândega para fazer uma mostra glamorosa. Como você vê isso, como curador? Está havendo uma nova competição entre esses grandes colecionadores ricos e curadores clássicos como você?
Acredito, sim, que existe uma espécie de concorrência entre os museus particulares e os museus clássicos. A Bienal já tem outro papel, pois não é museu, nem coleciona nada. Antes de mais nada, estamos produzindo, mostrando coisas novas, talvez experimentais. E é interessante ver que obras já expostas na Bienal se tornaram peças centrais da coleção Pinault. Não é exatamente uma concorrência, mas algo até bom para Veneza, que – além de Peggy Guggenheim – agora tem um dos mais importantes colecionadores privados da nossa época.
O programa da Bienal está incrivelmente cheio. Mal dá para se orientar; mesmo especialistas têm que pensar bem, diante de tantas vernissages e convites simultâneos. Se um amigo seu viesse a Veneza, onde você gostaria de levá-lo? Qual seria um lugar digno de ser visto quando não se pode acompanhar tudo?
Seria quase desonesto da minha parte não dizer que eu recomendaria a exposição em que trabalhei durante um ano. Eu levaria a pessoa ao espaço central, ao pavilhão central, onde temos artistas bem jovens com coisas realmente novas e também algumas referências históricas importantes. Também acho que a Bienal cresceu tanto, com todos esses pavilhões nacionais, que se perde facilmente a visão do todo. Mas também é emocionante e interessante, se a pessoa não estiver aqui por motivos profissionais, simplesmente se perder.
Autor: Rainer Traube
Revisão: Rodrigo Abdelmalack