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EUA chegam à conferência sobre a Síria com poucas cartas na manga

Conor Dillon (md)22 de janeiro de 2014

Encontro é tido como um fracasso antes mesmo de começar, mas analistas creem que os EUA esperam alcançar mais do que admitem. As chances, porém, são poucas.

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Foto: picture-alliance/dpa

O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, tem poucos recursos à disposição na mesa de negociações da conferência sobre a paz na Síria, chamada Genebra 2, em Montreux, na Suíça. "As cartas de que Kerry dispõe dependem da influência que a ajuda americana pode exercer", opina Anthony Cordesman, ex-oficial do Departamento de Estado e do Departamento de Defesa dos EUA.

"É pouco provável que Kerry venha com opções militares ou que os EUA tenham claramente um grupo de oposição para apoiar. Não está nada claro se temos capacidade de intervir ou influenciar qualquer uma das partes de forma decisiva", avalia Cordesman, que é analista do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, na sigla em inglês), sediado em Washington.

As declarações de Kerry nas vésperas do encontro também não deram muita esperança. "Ninguém tem uma expectativa", disse em 12 de janeiro, após encontro do grupo de Amigos da Síria, em Paris. "Ninguém deve escrever cinicamente que Genebra 2 fracassou se não sair um acordo completo no primeiro, no segundo ou no terceiro dia. Nós não esperamos isso."

O que ele espera é que as negociações "comecem a levar as partes à mesa". Mas, segundo especialistas americanos, Kerry espera mais do que apenas isso.

Ruptura entre Síria e Rússia

Jeremy Shapiro, que foi assessor para política do Oriente Médio e Norte da África da ex-secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, diz que Kerry tem uma chance real de provocar uma ruptura entre Rússia e Síria. "Isso não deve ser muito difícil de fazer", avalia o especialista, falando à DW. "Os russos estão realmente muito interessados neste processo de Genebra, e o governo sírio não está."

"Se os EUA conseguirem convencer a Rússia a pressionar a Síria a fazer concessões na conferência, e os sírios não concordarem, os EUA terão mais poder junto à Rússia", afirma Shapiro. "Os EUA tiveram sucesso com essa estratégia antes, afastando os russos do Irã", observa. "Quando os iranianos traíram o processo, eles traíram os russos".

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Assad e Putin: proximidade entre os dois líderes está na mira de WashingtonFoto: dapd

O Irã é a grande ausência da conferência que reúne 30 países. A convocação inicial a Teerã, emitida pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, seguida da retirada do convite, provocou duras críticas do ministro do Exterior iraniano e fez especialistas de todo o mundo questionarem se Genebra 2 pode alcançar algum sucesso com a ausência do maior aliado regional da Síria.

Considerando que o Congresso dos EUA ainda critica Kerry por considerar que ele fez concessões demais ao Irã em relação ao programa nuclear do país, Shapiro vê uma vantagem na ausência iraniana. "Se Kerry fizesse concessões demais ao Irã nas negociações sobre a Síria, as pessoas iriam dizer que houve uma compensação pelas negociações nucleares", acredita.

Com o Irã fora do encontro, eventuais concessões serão para a Síria e a Rússia. "E o Congresso não tem uma posição fechada o suficiente sobre a Síria para que Kerry venha a enfrentar críticas semelhantes", acrescenta o analista.

Oposição enfraquecida

Quando a então secretária de Estado Hillary Clinton propôs pela primeira vez a reunião Genebra 2, no final de 2012, juntamente com Rússia e o enviado de paz da ONU para a Síria, a ideia de ter a Coalizão Nacional Síria negociando com o governo sírio era bem sustentável. Hoje, o aliado político dos EUA na Síria está em frangalhos.

"Quando você fala na Coalizão Nacional Síria, logo se pergunta se ela continua tendo a mesma importância de outrora", comenta Cordesman, acrescentando que atualmente o grupo é fraco, instável e dividido. "Se a oposição que comparecer a Genebra 2 estará também em Genebra 3, é uma boa pergunta", afirma o analista.

As relações entre os EUA e seu aliado sírio também estão se deteriorando. "A credibilidade dos EUA foi dizimada entre a oposição", diz Andrew Tabler, especialista em Síria do Washington Institute for Near East Policy.

Ele afirma que a decisão do presidente Barack Obama, de não realizar um ataque punitivo ao regime de Assad após revelações de uso de armas químicas, abalou muito a confiança que a oposição síria tinha nos EUA.

"Particularmente em relação à Síria, as marcas da administração americana não são boas. Há o acordo de armas químicas, mas não acho que tenha sido resultado de nossa diplomacia", ressalta Tabler.

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Mercado em Aleppo após bombardeio: cessar-fogo limitado é meta no encontroFoto: Reuters

Há relatos de que os EUA e o Reino Unido ameaçaram retirar a ajuda à Coalizão só para levá-la a participar do encontro.

E, caso os EUA consigam mediar um acordo com o grupo de oposição apoiado pelo Ocidente, ainda permanece uma incógnita a influência que isso pode ter sobre outros grupos opositores ao governo sírio − alguns deles, islâmicos.

Um primeiro passo

Os três especialistas acreditam que Kerry não conseguirá muitos resultados na Suíça. Além de tentar afastar Moscou de Damasco, Kerry vai tentar descongelar as relações entre os EUA e a Coalizão Nacional Síria e tentará progressos nos poucos pontos em que todos parecem concordar: a necessidade de ajuda humanitária aos civis sírios, mais trocas de prisioneiros entre as forças do governo e da oposição, além de alguns momentos limitados de cessar-fogo. O último ponto deve ser testado em Aleppo, durante a conferência.

Shapiro, porém, diz que a única maneira de medir o desempenho de Kerry é respondendo à pergunta: houve progressos? Ele considera que sim, por menores que sejam. Pela primeira vez, oposição e governo estão dialogando publicamente, e provavelmente os EUA vão tentar criar um mecanismo permanente para possibilitar novos encontros, com ou sem o regime de Assad e a Coalizão Nacional Síria.

Codesman concorda. "Em muitos casos, estas reuniões, seja qual for seu propósito oficial, se destinam mais a garantir que seja aberto algum tipo de diálogo, para que os canais de comunicação permaneçam abertos", ressalta. "Nem sempre os resultados vêm rapidamente."