EUA pressionados a suspender taxação do aço
2 de dezembro de 2003A decisão deverá ser anunciada ainda esta semana pelo presidente George Bush, segundo informações extra-oficiais de membros do Congresso norte-americano. Ao que tudo indica, Washington pretende suspender antes do prazo a taxação de até 30% do aço importado. A medida, introduzida em março de 2002 para proteger a produção local, deveria vigorar por três anos.
A decisão de Washington, considerada ilegal pela Organização Mundial de Comércio, levou a União Européia e outros países a ameaçar a taxação de produtos importados dos EUA. O ultimato da OMC ao governo norte-americano, até a última segunda-feira (1º), foi prolongado até o dia 10 próximo.
Entre a cruz e a espada
A provável decisão de Bush foi recebida com surpresa, sobretudo por representar um certo risco eleitoral. Na época em que a medida foi anunciada, há 20 meses, um dos estrategistas políticos de Bush, Karl Rove, havia explicitado as três razões da decisão: Pensilvânia, Ohio e Virginia, estados onde se concentra a indústria nacional do aço.
Sobretudo Ohio e Pensilvânia têm um grande peso eleitoral, sendo representados com 21 ou 23 votos no grêmio que confirma o presidente após as eleições diretas. No pleito de 2000, Bush venceu em Ohio, mas perdeu por pouco para Al Gore na Pensilvânia.
Representantes da indústria norte-americana do aço advertiram, na última segunda-feira (1º), que a suspensão das taxas alfandegárias poderá custar a Bush os votos da Pensilvânia e de Ohio nas eleições de novembro de 2004. Por outro lado, a medida contenta a indústria processadora de aço importado, insatisfeita com o encarecimento de seus produtos. Em importantes estados como Michigan, onde se concentra uma grande parte da indústria automobilística norte-americana, a manutenção das taxas alfandegárias poderia prejudicar Bush no pleito do ano que vem.
Além disso, pesquisas indicam que a taxação do aço importado provocou o corte de mais empregos no setor de importações do produto do que causou melhorias para os produtores de aço. A união dos sindicatos metalúrgicos já tinha anunciado em agosto seu apoio a um candidato democrata.
Ameaças de represália surtem efeito
Mas o que realmente levou Bush a ceder foi a pressão externa. Segundo relatos da imprensa norte-americana, os assessores de Bush chegaram à conclusão de que os riscos políticos e econômicos da taxação do aço importado são maiores do que as vantagens eleitorais e, sobretudo, não justificam uma guerra comercial com a União Européia e a Ásia.
Além da União Européia, o Brasil, a Suíça, a Noruega, o Japão, a Coréia, a China e a Nova Zelândia se uniram na ameaça de taxar produtos norte-americanos. Caso Bush não volte atrás até 10 de dezembro, a UE elevará a taxação dos produtos made in USA até 2,2 bilhões de dólares. A Noruega anunciou uma elevação de 30% da taxa de importação no valor de 12 milhões de dólares e o Japão sobre importações de 98 milhões de dólares.
O plano de sanções alfandegárias elaborado pelo comissário europeu Pascal Lamy afeta mercadorias produzidas em estados norte-americanos de grande peso eleitoral no pleito de 2004 – como, por exemplo, o suco de laranja da Flórida. Medidas semelhantes poderiam ser tomadas pelos demais países em protesto, colocando em risco outros setores da economia norte-americana.