Europa em alerta após caso de infeccção por ebola na Espanha
8 de outubro de 2014Em resposta a temores provocados pelo anúncio de que uma enfermeira espanhola foi a primeira pessoa a ser infectada pelo vírus fora do continente africano, no início desta semana, autoridades espanholas tentam acalmar a opinião pública. O governo afirma estar combatendo a ameaça e empreendendo diferentes "opções terapêuticas" para tratar a paciente.
Embora a diretora-geral de Saúde Pública da Espanha, Mercedes Vinuesa, não tenha confirmado que tipo de tratamento a enfermeira está recebendo, fontes do setor de saúde afirmaram que ela poderia estar sendo tratada com anticorpos de outros infectados. Apesar de ter assegurado que as medidas de proteção oferecem uma margem de segurança bastante elevada, Vinuesa declarou que "o controle do contato é a medida mais eficaz para se evitar uma epidemia".
Após a infecção da espanhola, identificada pela mídia como Teresa Romero e que havia cuidado de um religioso espanhol repatriado da África Ocidental com ebola, outras cinco pessoas já foram colocadas em quarentena na estação de isolamento do hospital Carlos 3°, onde a enfermeira trabalha.
Entre elas estão colegas e o marido da funcionária, considerado em alto risco, e um espanhol que retornou da Nigéria recentemente. Outras 52 pessoas estão sendo monitoradas por precaução, segundo as autoridades.
Depois de ter alertado nesta terça-feira (07/10) que, muito provavelmente, a Europa irá registrar novos casos de ebola, a Organização Mundial de Saúde (OMS) disse nesta quarta que as chances de que a doença se espalhe pelo continente são baixas.
"Casos esporádicos são inevitáveis, devido às viagens entre a Europa e os países afetados. Entretanto, os riscos de a doença se espalhar pela Europa são evitáveis e extremamente baixos", afirmou Zsuzsanna Jakab, diretora regional da OMS na Europa. Os países do continente estão "entre os mais bem preparados do mundo", ressaltou. Segundo a OMS, a epidemia do vírus já matou mais de 3.800 pessoas na África Ocidental.
Causas do contágio
Especialistas europeus estão agora avaliando as possíveis causas do contágio da enfermeira espanhola. Diante dos rigorosos protocolos de segurança a serem seguidos no tratamento de um paciente infectado, acredita-se que um acidente ou um erro pontual possa ter levado ao contágio.
"Suponho que tenha havido algum problema com os protocolos de isolamento. Em princípio, os protocolos são razoavelmente seguros, por isso, acho que as pessoas que cuidaram dos religiosos tiveram de passar por algum acidente para que pudessem se contagiar", considera o chefe do serviço de infectologia do hospital Clínic de Barcelona, José M. Gatell Artigas.
Em relação aos trajes de segurança usados pelos profissionais sanitários que cuidaram dos doentes em Madri, Gatell Artigas afirma que "são os mesmos que os utilizados na África ou no Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA".
"Na verdade, quase não há outros. Acredito que o equipamento utilizado seja padrão em todo o mundo. O problema é que, ao vestir esses trajes, trabalhar fica muito difícil. Não é fácil trabalhar com um doente em estado grave, que se movimenta, vomita e tem diarreia. O mais provável é que ocorra um acidente", diz Gatell Artigas.
Segundo o especialista, a enfermeira levava uma vida relativamente normal nos últimos dez dias. "Então, acho que pode aparecer algum outro caso, mas eles devem ser isolados", diz. "Há um foco do ebola em Madri? A resposta é não. Pode haver três ou quatro casos? A resposta é sim."
O especialista em microbiologia clínica, Tomás Pumarola Suñe compartilha da opinião de Gatell Artigas. "Há muito poucas possibilidades de que o foco se espalhe. A doença dificilmente se transmite no período de incubação."
Gatell Artigas, no entanto, ressalta que, embora uma transmissão da doença seja difícil de acontecer durante o período de incubação, "quando começam os sintomas, o ebola pode ser muito contagioso."
Quanto ao diagnóstico dos infectados pela doença, Gatell Artigas assegura que não há motivo para pânico. "Nas melhores condições, com o melhor atendimento e o melhor apoio, o ebola tem uma mortalidade de 20% a 30%, ou seja, a probabilidade de que uma pessoa sobreviva é de 70% a 80% – considerando que esteja em ambiente médico sofisticado".
"Europa muito bem preparada"
Diante do medo de que o vírus se espalhe pela Europa, Jonas Schimdt-Chanasit, virologista do Instituto Bernhard Nocht de Hamburgo, afirma que "o caso de ebola na Espanha não muda em nada a situação na Europa. Ele disse estar convencido de que houve um erro. "É preciso analisar bem onde ele aconteceu".
O pesquisador diz ainda que, diante do caso na Espanha, não é preciso ter grandes preocupações ou medos repentinos na Alemanha. "Não precisamos mudar o nosso comportamento, estamos muito bem preparados", afirma.
Stephan Becker, diretor do departamento de Virologia do Hospital Universitário de Marburg, diz não acreditar que um caso semelhante venha a acontecer na Alemanha, mesmo que tal situação não possa ser descartada. "É preciso acreditar que, diante dos respectivos sintomas, o médico ou médica venha a pensar que se trate do ebola. Acho que este será o caso considerando a grande atenção que está sendo dada ao ebola aqui na Alemanha."
Schmidt-Chanasit cita os pacientes que já receberam tratamento na Europa. "Viu-se que o paciente em Hamburgo foi bem cuidado e de forma segura. Ninguém foi infectado. Também na França e no Reino Unido, tudo funcionou perfeitamente e, na verdade, também na Espanha. Agora é preciso esperar para saber como a enfermeira pode ter se infectado, onde esteve a falha." Para o virologista, tal problema não deve estar ligado às diretrizes de trabalho ou aos protocolos de como lidar com infectados.
Schmidt-Chanasit afirma ainda que as estações de isolamento são controladas e o pessoal é treinado regularmente, também na Espanha. "É possível supor que se tratou de um erro pontual, de que um protocolo de trabalho não foi seguido. Mas isso é somente uma especulação, e é preciso esperar os resultados das investigações."