"Europa precisa se manter coesa quanto ao Irã", diz Macron
9 de maio de 2018Em entrevista exclusiva à Deutsche Welle e à emissora de TV alemã ARD, nesta quarta-feira (09/05), na cidade alemã de Aachen, o presidente da França, Emmanuel Macron, abordou um dos temas mais prementes do momento: a saída dos Estados Unidos do acordo internacional sobre o programa nuclear do Irã, anunciada por Donald Trump.
"Eu lamento a decisão do presidente americano. Acho que é um erro, e por isso nós, europeus, precisamos nos manter coesos no contexto do acordo nuclear." Antes da entrevista, Macron falara ao telefone com seu homólogo iraniano, Hassan Rouhani, assegurando-lhe que a União Europeia (UE) permanecerá a bordo.
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O chefe de Estado francês admitiu que seus apelos junto a Trump em relação ao acordo não encontraram qualquer ressonância: "Minha sugestão a Trump foi não rasgar tudo simplesmente, e não 'jogar fora o bebê junto com a água do banho'."
No entanto, só porque um pulou fora, não se pode anular todo o acordo, ressalvou: "Precisamos complementá-lo e ampliá-lo para além de 2025. É preciso um novo quadro", no qual ele trabalhará, juntamente com os demais líderes europeus.
Preservar a parceria, mas conquistar respeito
Apesar de tudo, Macron instou para que não se encarem as relações com os EUA apenas como uma crise. Existem numerosos interesses comuns, nos campos de segurança e combate ao terrorismo: "Há tensões, mas também uma ligação forte."
No tocante à disputa sobre as tarifas alfandegárias sobre o aço e alumínio anunciadas por Trump, a UE não pode se retrair, insistiu o político de 40 anos. "A Europa tem que conquistar respeito nesse assunto. Somos uma grande potência comercial, os EUA são aliados e parceiros, mas nós temos regras, afinal. Temos que cuidar para que essas regras sejam respeitadas."
No fim de maio, o presidente americano decidirá se a UE continuará sendo excluída das tarifas planejadas. O bloco europeu ameaçou com medidas retaliatórias.
"Acho que hoje nos encontramos num momento histórico para a Europa. Ela tem a missão de preservar essa ordem multilateral que construímos no fim da Segunda Guerra Mundial e que hoje está sob ameaça", disse.
Confiança em Merkel
Sorrindo e com um gesto de rechaço, o entusiasta da causa europeia rejeitou a ideia de que ele possa estar decepcionado com a chanceler federal alemã, Angela Merkel, por ela levar tanto tempo para responder às propostas dele de reformas para a UE e a zona do euro.
"Não, de forma alguma, não estou decepcionado", afirmou Macron. "Agora a Alemanha vai formular sua resposta a minhas propostas e tenho grandes expectativas. Espero que a chanceler federal e seu governo estejam à altura das tarefas, e que juntos possamos trabalhar para criar uma Europa mais forte, uma Europa soberana, uma Europa unida."
Pelo fim de tabus e egoísmos
Contudo, Macron não aceita as críticas a seu ritmo reformista acelerado e a suas abrangentes propostas de reformas para a UE. Ele não insiste que haja um ministro de Finanças europeu, mas a tarefa tem que ser cumprida: "Como a instituição vá se chamar, tanto faz, a meta é a coisa decisiva."
Em sua opinião, no longo prazo a comunidade monetária da zona do euro não poderá subsistir se não houver transferência de capital dos Estados mais ricos para os mais pobres: "Precisamos nos livrar de tabus e de egoísmos", reivindicou, afirmando que as transferências são um tabu alemão que precisa cair.
"A França também tem um tabu, que é alteração do Tratado da União Europeia. Mas também esse terá que cair: vamos ter que modificar o tratado." Até agora, os presidentes franceses recuaram diante desse passo, pois para tal seria necessária uma consulta popular arriscada.
"Não tenho a pretensão de que tudo o que eu proponha seja inteiramente aceito. Estou convencido de que o meu dever é fazer tais sugestões, e agora vamos discutir. Fato é que o status quo na Europa está ruim para todos", afirmou.
Por outro lado, Macron se disse feliz por poder apresentar propostas conjuntas com Merkel na cúpula da UE do fim de junho. "Temos que ser ambiciosos agora", acrescentou.
"Não sou super-herói"
Um ano após a eleição de Macron, a França mudou muito, diversas reformas estão em curso. Mas ele não gosta das comparações com Júpiter, Júlio César ou outros heróis prepotentes.
"Nunca me considerei um super-herói", disse, ressaltando que o trabalho que tem diante de si é muito duro, mas que ele é um batalhador. E apesar das crises no interior e em torno da Europa, ele disse querer permanecer otimista.
Na quinta-feira feira, o estadista francês recebe em Aachen o prestigiado Prêmio Carlos Magno. Justificando a escolha, o júri o louvou como "portador de esperanças europeu". Na entrevista à DW e à ARD, ele deixou entrever que a honraria o lisonjeia: "Muitos acreditavam que seria impossível ser eleito na França com metas europeias ambiciosas, mas funcionou", concluiu.
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