Europa reduzida ao mercado comum?
23 de junho de 2005O premiê britânico, Tony Blair, considera urgente uma renovação da União Européia. "Ideais só podem sobreviver através de mudança, mas correm o risco de morrer pela incapacidade de enfrentar novos desafios", declarou ele em discurso diante do Parlamento Europeu, ao qual apresentou nesta quarta-feira (22/06) o plano da presidência da comunidade para o próximo semestre.
Por uma Europa "que funcione"
"Não se trata da alternativa entre uma Europa do livre mercado ou uma Europa social. Não se trata de um conflito entre os que querem retornar a um mero mercado comum e os que acreditam na Europa como projeto político", declarou Blair, citando as acusações vindas de Berlim e Paris. Ele assegurou que quer "uma Europa social, mas uma Europa social que funcione".
Para o chanceler federal alemão, Gerhard Schröder, o Reino Unido está questionando o modelo social europeu. "Quem acredita que pode destruir este modelo – seja por teimosia nacional ou por motivos populistas – está ferindo os desejos e direitos das gerações futuras", declarou Schröder num artigo publicado no diário Bild.
Em texto publicado nesta quinta-feira (23/06) em diversos jornais europeus, Blair especificou o que entende por modernização, propondo à França um pacto para reformar a política agrícola da comunidade. Em troca, a Grã-Bretanha renegociaria seus privilégios no financiamento da UE.
Dados equivocados para as massas
"Não queremos um orçamento que destine sete vezes mais recursos à agricultura do que a pesquisa e desenvolvimento, ciência, tecnologia, educação e inovação", afirmou Blair, acrescentando que 40% das verbas da UE financiam uma política agrícola que emprega apenas cinco por cento da população do bloco.
Ao fazer o balanço a atuação de Luxemburgo na presidência do Conselho Europeu durante o último semestre, o chefe de governo Jean-Claude Juncker refutou o argumento britânico de que as despesas com agricultura superem os investimentos em pesquisa. "Blair está comparando maçãs com peras", declarou ele. Juncker explicou que a política agrícola é de competência exclusiva da UE, enquanto a pesquisa fica em grande parte a cargo dos países-membros. Em números absolutos, os recursos para pesquisa superam as despesas com agricultura.
Juncker voltou a acusar Londres de inviabilizar o plano orçamentário da UE para o período de 2007 a 2013, por rejeitar terminantemente uma renegociação do desconto de que a Grã-Bretanha usufrui no pagamento de suas contribuições à comunidade. Blair, por sua vez, afirmou que o Reino Unido estaria disposto a "pagar mais", contanto que o dinheiro fosse parar na mão dos países pobres e não dos ricos.
Urgência de uma mediação entre países
O premiê alemão se reuniu com o presidente da Comissão Européia, José Manuel Barroso, o comissário da UE, Günther Verheugen, e o deputado europeu Martin Schulz, a fim de discutir o futuro da comunidade. Todos os políticos reunidos em Aachen, na Alemanha, ressaltaram que a Europa deve ser mais do que um mercado interno em funcionamento.
"O último encontro de cúpula fracassou por causa de falta de visão. Principalmente na atual situação, é necessário que todos se unam: as instituições, a Comissão, o Parlamento e todos aqueles que estão convencidos da idéia européia como a de uma Europa integrada", declarou Schröder.
Diante da atual crise, cresce a responsabilidade da Comissão Européia, a instituição mais independente de interesses nacionais e partidários dentro da UE. Seu papel de mediação deverá ser exercido não apenas entre os países-membros, mas também entre as instâncias administrativas e os cidadãos. Afinal, conforme revelaram os últimos plebiscitos sobre a Constituição européia, os cidadãos se sentem cada vez menos envolvidos no desenvolvimento da União Européia.