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Europeus estão se acostumando com terrorismo?

Darko Janjevic av
23 de abril de 2017

Atentados sucessivos contra cidades europeias aumentam a capacidade de recuperação e a resistência da população ao trauma. Mas para vencer o medo coletivo, são precisos líderes verdadeiros – atualmente um artigo raro.

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Atentado contra feira natalina marcou capital alemã
Atentado contra feira natalina marcou capital alemãFoto: DW/F. Hofmann

Os recentes ataques terroristas em Paris, Estocolmo, Londres tiveram saldo de vítimas relativamente baixo, em comparação a incidentes análogos em 2015 e 2016. Paralelamente, a vida quotidiana foi retomada muito mais rapidamente, após cada atentado sucessivo. Os europeus estarão mesmo aprendendo a manter a cabeça fria diante do terror?

"Os seres humanos são bastante bons em se habituar a qualquer coisa", explicou à DW Anne Speckhard, diretora do Centro Internacional para Estudo do Extremismo Violento (ICSVE, na sigla em inglês). "As pessoas estão se acostumando com os ataques mensais em cidades arbitrárias por todo o mundo, e simplesmente agradecem aos astros por não terem sido elas as vítimas ao acaso."

A especialista analisa criticamente a atual estratégia terrorista: "Quem realiza uma campanha terrorista bem sucedida precisa dar a sensação de que qualquer um pode ser atingido, em qualquer lugar, a qualquer momento. Esses ataques têm sido esporádicos demais, com um intervalo longo demais entre si, para criarem essa sensação e alastrar o terror."

Em vez disso, atravessar uma investida terrorista pode propiciar uma experiência valiosa para tornar as pessoas mais resistentes, mais capazes de se recolocar de pé depois de uma crise, afirma o pesquisador Doron Pely, da Universidade de Califórnia do Sul.

"Os europeus estão começando a acumular uma memória – infeliz, porém razoavelmente útil – de como lidar com situações como essas. Eles sabem que a vida continua depois do trauma, têm a experiência de se levantarem após o golpe. Eles estão vendo a avenida Champs Elysées voltar ao que era, veem as pessoas andando de trem pouco depois de um ataque terrorista, veem feiras ao ar livre voltarem a funcionar, e isso são memórias extremamente valiosas para uma comunidade."

O mecanismo parece funcionar também em nível local: enquanto o recente atentado foi um choque para a segunda maior cidade russa, São Petersburgo, os moscovitas estão cada vez mais calejados, após uma série de ofensivas terroristas tendo a capital como alvo.

Portão de Brandemburgo em Berlim iluminado em homenagem às vítimas do atentado de março de 2017, em Londres
Portão de Brandemburgo em Berlim iluminado em homenagem às vítimas do atentado de março de 2017, em LondresFoto: Reuters/F. Bensch

Líderes, não meros políticos

No entanto, embora testemunhar uma recuperação bem-sucedida após um ataque terrorista ajude, não há como desenvolver resistência total a tais eventos, observa Pely. Alguns talvez reajam instintivamente ao trauma, ficando reduzidos às reações básicas de lutar, fugir ou paralisar-se (fight, flight or freeze).

O mesmo princípio pode se aplicar a sociedades inteiras, e ser explorado por extremistas para seus próprios fins. "Basicamente, o jogo é entre medo e resistência", resume o também diretor do departamento de gestão de conflitos na firma TAL Global, de gerenciamento de risco. "Os terroristas gostariam que reagíssemos com medo, pois ele serve a seus propósitos. As pessoas, claro, prefeririam responder com resistência."

Para Doron Pely, o desafio é encontrar líderes dispostos a investirem recursos no preparo dos cidadãos para uma emergência. "A falta de liderança é algo que tem sido sentido dolorosamente. Temos políticos, mas não está totalmente claro se temos líderes. Como líder, você precisa compreender que a marcha até a resistência é longa, e precisa trabalhar e lidar com as rebordosas de outras alas políticas."

Ultradireita auxilia atuação do EI

Infelizmente a onda de atentados na Europa tem reforçado o apoio aos grupos e partidos políticos de extrema direita, que exigem leis de imigração duras e medidas de segurança mais rigorosas. Anne Speckhard está segura que cada ataque por parte do assim chamado "Estado Islâmico" (EI) faz exatamente o jogo da ultradireita.

"O evento mais recente na França deve afetar as eleições", diz ela, referindo-se tanto ao atentado da última quinta-feira na Champs Elysées, em que um policial foi morto, quanto ao pleito presidencial francês, cujo primeiro turno se realiza neste domingo.

"Acho que se os terroristas intensificassem suas atividades, veríamos mais medo se alastrando. Esperemos que isso não aconteça", diz a diretora do ICSVE. Enquanto isso, as mensagens projetadas pelas legendas de extrema direita "só inflamam a situação e facilitam o trabalho de recrutamento" de grupos como o EI.

Luto em Estocolmo após atentado
Luto em Estocolmo após atentadoFoto: picture alliance/AP Photo/M. Schreiber

"Não vão nos impedir de viver nossas vidas"

Confrontados com as ameaças de terror e a imigração intensificada, os eleitores do Ocidente estão sofrendo uma "fadiga da democracia", diagnostica Pely. A tendência é buscar respostas simples, e os populistas fazem de tudo para explorar essa situação, num momento em que uma série de eleições gerais se realiza na Europa.

"No fim das contas, é responsabilidade da liderança política madura criar um contrapeso, uma resposta a isso. Eles terão que tomar uma rota pragmática e séria. Atacar a questão com um punhado de mensagens populistas, não vai funcionar."

Na opinião do especialista em gestão de conflitos, o trabalho de reforçar a resistência deveria incluir o treinamento e preparação dos cidadãos para encarar crises, e a discussão de riscos e vulnerabilidades.

Embora os políticos prefiram manter a distância desse tido de tópico, tais passos emitem uma mensagem "essencial" aos eleitores e atacantes potenciais, propõe Doron Pely. Ela é: "Podemos sofrer, mas seria só um revés temporário. Vamos nos reerguer, continuar com nossas vidas, e vocês não vão nos impedir."