Ex-chanceler alemão Schröder recusa cargo na russa Gazprom
25 de maio de 2022Gerhard Schröder, ex-chanceler federal da Alemanha, afirmou nesta terça-feira (24/05) que não assumirá um assento no conselho de administração da estatal russa de gás Gazprom para o qual havia sido indicado.
Schröder, que governou a Alemanha de 1998 a 2005, tem uma longa amizade com o presidente russo, Vladimir Putin, mantém laços financeiros com empresas russas ligadas ao Kremlin e vem se recusando a condenar a invasão da Ucrânia por Moscou.
A nomeação para o conselho de administração da Gazprom havia sido proposta a Schröder em fevereiro e confirmada pela estatal nesta terça-feira. Após o anúncio da empresa, Schröder publicou um breve texto no LinkedIn afirmando que havia rejeitado esse cargo na empresa russa.
"Renunciei à minha nomeação ao conselho de administração da Gazprom há bastante tempo. Também informei a empresa disso. Dessa forma, estou surpreso com as reportagens que surgiram hoje", escreveu Schröder.
Na manhã desta terça, a Gazprom havia divulgado um texto sobre a indicação de um outro membro para seu conselho de administração – do ministro da Agricultura russo, Dmitry Patruschew – que também reafirmava que Schröder integraria o colegiado. A nova composição do conselho será confirmada na assembleia anual da empresa, em 30 de junho. Até o momento, não estava claro para o público se o ex-chanceler iria ou não assumir esse cargo na estatal russa.
Laços com a Rússia
Schröder também presidia até sexta-feira passada o conselho de supervisão da estatal russa de petróleo Rosneft, e integra o comitê dos acionistas da companhia do gasoduto Nord Stream, cujo consórcio é controlado pela russa Gazprom, além de continuar cadastrado como presidente administrativo da sociedade anônima Nord Stream 2.
Na quinta-feira passada, devido à recusa de Schröder em cortar seus outros laços financeiros com empresas russas, o Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão) aprovou a remoção de uma série de privilégios que o ex-chanceler federal tinha direito como ex-chefe de governo.
A decisão deixou Schröder sem direito a um escritório de ex-chanceler e nem a benefícios como motoristas e funcionários, mas manteve a sua aposentadoria e sua equipe de seguranças.
A decisão do Bundestag foi tomada no mesmo dia em que o Parlamento Europeu encaminhou uma resolução para pedir que Schröder seja alvo de sanções caso não rompa seus laços com a Rússia.
O Partido Social-Democrata (SPD), ao qual Schröder é filiado, o mesmo do atual chanceler federal alemão, Olaf Scholz, também está debatendo a expulsão do ex-chanceler de seus quadros. O diretório da legenda de Hanover, ao qual ele é ligado, irá se reunir para discutir o tema em meados de junho.
Scholz já havia instado repetidamente e publicamente o ex-líder a abandonar seus cargos em empresas da Rússia, mas sem sucesso.
"Não faço mea culpa"
Foi Schröder, em seus últimos dias de governo, em 2005, que autorizou a concessão de uma garantia bilionária que facilitou a construção do Nord Stream, um gasoduto submarino que liga a Rússia diretamente à Alemanha, contornando países como a Ucrânia e Polônia, cujos governos são adversários do Kremlin.
Schröder aceitou o cargo no consórcio poucos dias após deixar a chancelaria. A partir de então, passou a acumular uma série de cargos em empresas russas.
Em entrevista recente ao jornal New York Times, o social-democrata de 78 anos mostrou-se teimosamente incontrito: "Eu não faço mea culpa", replicou, "não é o meu jeito." Ele só contemplaria renunciar a seus cargos nas estatais se a Rússia decidisse cortar o fornecimento de gás à Alemanha, algo que, alega, "não vai acontecer".
Schröder praticamente defendeu Putin das acusações de crimes de guerra, ao especular que a ordem para os massacres no país invadido não teria partido dele, mas sim de oficiais de escalão mais baixo.
Na entrevista, o alemão disse que o Ocidente deve manter relações com a Rússia, apesar da guerra em curso, mas declinou de dar detalhes sobre sua conversa recente com o líder do Kremlin: "O que eu posso lhe dizer é que Putin está interessado em terminar a guerra. Mas não é tão fácil assim. Há alguns pontos que necessitam esclarecimento."
bl (ots, DW)