Expectativas da UE na eleição do Iraque
29 de janeiro de 2005Uma das expectativas da União Européia (UE) não deve se concretizar: a de que quase todos os grupos étnicos participem das primeiras eleições livres no Iraque neste domingo (30/01). Mesmo assim, Bruxelas pretende normalizar o mais rapidamente possível as relações com o Iraque, assim que Bagdá tiver um governo legitimado pelo povo.
A instalação de uma representação permanente do bloco europeu naquele país do Golfo Pérsico vinha fracassando até agora não só por causa da segurança, mas também pela falta de consenso na própria UE. Alguns membros, como a França, anunciaram que só aprovariam a representação depois que as lideranças impostas pelos vencedores da guerra fossem substituídas por um governo eleito de forma democrática.
"Um país do qual os iraquianos podem se orgulhar"
Na cúpula da UE em novembro, o então presidente semestral do bloco, o holandês Jan-Peter Balkenende, apelou por uma posição conjunta da comunidade de 25 nações, apesar da discórdia em relação à guerra: "Não vamos olhar para trás, e sim para frente. Todos os membros do bloco concordam que o Iraque tem de se tornar um país estável, democrático e de bem-estar. Um país do qual os iraquianos podem se orgulhar. A União Européia quer fazer o possível para isso dar certo."
Cerca de 32 milhões de euros foram disponibilizados pelo bloco para questões técnicas da eleição deste domingo. Observadores, entretanto, não foram enviados por questões de segurança. Dinheiro, aliás, já vem sendo mandado há muito tempo por Bruxelas. Nos dois últimos anos, 300 milhões de euros foram investidos em ajuda humanitária e na reconstrução do país. Para 2005, estão previstos outros 100 milhões de euros.
A austríaca Benita Ferrero Waldner, comissária de Relações Exteriores do bloco, pretende estender esta ajuda à formação de policiais dentro do próprio Iraque. Uma das metas, também reclamada pelo premiê interino Iyad Allawi na visita a Bruxelas em novembro, é ampliar a formação de policiais, para garantir a segurança no país. Entretanto, a missão da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), que já deveria estar trabalhando com todo o seu potencial nesta eleição, conta por enquanto com apenas 100 instrutores.
UE é modelo, diz presidente do governo de transição
A União Européia já havia dado um grande passo quando vários de seus membros que também participam do Clube de Paris perdoaram, cada um, 80% do que o Iraque lhes devia. O problema é que grande parte da dívida externa iraquiana foi contraída junto aos países árabes, que não estão representados neste grupo de credores.
Em longo prazo, o bloco europeu pretende oferecer um amplo acordo econômico e de parceria, incluindo o livre comércio. A idéia é recebida de bom grado pelo presidente do governo de transição do Iraque, Ghasi Al-Yawar. "Vemos a União Européia como um exemplo para a cooperação com os países vizinhos. A economia deveria ser o motor de uma parceria. Hoje em dia, não se sobrevive sozinho. Tem-se de ser parte do mundo", assinalou Al-Yawar há algumas semanas.
Bruxelas quer reativar os bons laços comerciais que predominaram até a primeira guerra do Golfo Pérsico, em 1991. A Alemanha, França e outros países enviavam equipamentos e produtos de consumo ao país governado por Saddam Hussein. O Iraque, por seu lado, vendia petróleo para a União Européia.
O chanceler federal alemão, Gerhard Schröder, não poupou retórica para convencer Alawi num encontro em Bruxelas: "Dependendo da evolução das condições de segurança, é preciso ver como as empresas alemãs, que gozam de boa reputação em seu país, podem ajudar na reconstrução."