Exposição sobre o nu masculino causa polêmica em Viena
26 de outubro de 2012O Museu Leopold em Viena negou que tenha tido a intenção de chocar ao espalhar pela cidade pôsteres com a fotomontagem de três jogadores de futebol completamente nus, feita pelos artistas franceses Pierre & Gilles para promover a exposição Homens nus – de 1800 até os dias de hoje, em cartaz na cidade.
Mas as imagens chocaram a conservadora capital austríaca, que colocou em dúvida a verdadeira intenção do museu ao escolher um pôster tão revelador.
Sejam quais forem os méritos da exposição – e eles são muitos – os cartazes espalhados ao redor da cidade garantiram uma publicidade que não pode ser comprada. A faixa vermelha que cobriu os pênis em alguns dos cartazes só serviu para chamar ainda mais a atenção.
Folha de parreira do século 21
"Você não pode dizer que é uma estratégia de marketing apelativa", disse o diretor do museu, Peter Weinhäupl. "O que queremos é incentivar uma discussão." O museu declarou que teve mais reações positivas do que negativas em relação ao pôster – mas parece preferir destacar as negativas.
"Uma mulher ameaçou pegar um pincel e pintar as imagens das genitais", disse um porta-voz, num tom que revela um desejo implícito de que emissoras de televisão registrem a profanação.
E por que o próprio museu cobriu os pôsteres com uma tarja vermelha, uma espécie de folha de parreira moderna escondendo as partes mais polêmicas do trabalho de Pierre & Gilles? "Bem, podemos dizer que estamos tornando os pôsteres mais interessantes", é a resposta do porta-voz.
Na verdade, apenas alguns das centenas de pôsteres foram censurados. O trabalho intitulado Vive la France mostra três estrelas do futebol francês de diferentes origens étnicas e tem como intuito celebrar a diversidade cultural da França.
Olhar feminino
A curiosa contrapartida à foto censurada do trio de jogadores franceses toma forma do lado de fora da entrada do museu. Mr. Big é uma gigantesca escultura de um homem nu, feita de madeira pela artista austríaca Ilse Haidler. O multidimensional homem nu está posicionado ao lado das escadas que levam à exposição, convidando jovens mulheres a posar e se divertir com seu comprimento lânguido.
O porta-voz do museu disse que Mr. Big é "como um parquinho para crianças". Mas também é uma oportunidade de refletir sobre o "olhar feminino" em oposição ao "olhar masculino" – termo usado por Laura Mulvey na década de 1970 para descrever o domínio dos homens na indústria cinematográfica e seu impacto sobre a representação das mulheres.
Na verdade, Mr. Big parece atrair muito mais a atenção das mulheres do que dos homens. Elas riem, apontam para ele e algumas até tiram fotos posando em frente à obra.
É neste ponto que a exposição supera seu barato golpe de publicidade. Entre as 300 obras há, claro, uma abundância do "olhar masculino", incluindo o voyeurismo homossexual. Inevitavelmente, Robert Mapplethorpe está representado com Cock and Jeans, juntamente com obras de Andy Warhol.
Mas o diferencial da exposição são as mulheres lançando o "olhar feminino" sobre os homens. Mr. Big é o melhor e, bem, também o maior exemplo disso.
Obviamente o número de obras criadas por mulheres está em desvantagem em relação às feitas por homens, mas a exposição fez um esforço para escapar das acusações de sexismo.
A co-curadora Elizabeth Leopold, cujo falecido marido fundou o museu, diz que, quando o conceito da exposição lhe foi apresentado, ela insistiu em deixá-lo "mais perturbador". "Não há apenas jovens belos – há também maravilhosos homens mais velhos", disse ela, dando a entender que o olhar feminino não é tão obcecado com o erotismo como o masculino pode ser porque não exclui as possibilidades eróticas de um homem mais velho.
Fillette (Sweeter Version), de Louise Bourgeois, é um grande pênis e está na exposição como um antídoto à perspectiva masculina. A escultura já foi censurada pelo Museu de Arte Moderna de Nova York.
Qual o problema?
Outra óbvia questão levantada pela planejada polêmica em torno dos jogadores de futebol franceses é por que o nu masculino é tão mais controverso que o feminino.
"Está relacionado com o fato de estarmos acostumados com a imagem de mulheres nuas," disse Tobias Natter, um dos diretores do museu, defendendo a decisão de primeiro colocar os cartazes e depois censurá-los.
Ele citou a falta de reação à uma campanha do Museu de História da Arte de Viena, que usou a figura nua de uma mulher egípcia no pôster de uma grande exposição. "Ela estava completamente nua e nada aconteceu, mas quando há homens nus os protestos acontecem. Queremos chamar a atenção para essa distinção cultural", completou.
O foco da exposição é no nu masculino na arte ocidental nos últimos 200 anos, com um olhar na antiguidade. A obra mais antiga da exposição é uma estátua do oficial da corte egípcia Snofruner, de 2400 a.C.
Homens nus – de 1800 até os dias de hoje está em cartaz no Museu Leopold em Viena até 28 de janeiro de 2013.
Autor: Kerry Skyring (mas)
Revisão: Alexandre Schossler