Exposição em Berlim revela a plasticidade do futebol em preto e branco
20 de outubro de 2012Quando ainda estava na escola, Regina Schmeken fez um trabalho em que comparava desenho e fotografia. Desde então, a fotografia em preto e branco é a maneira que a alemã melhor se expressa. Sua percepção precisa da realidade se desdobra em diversas camadas que podem ser analisadas e interpretadas de diferentes maneiras.
Sua mais recente exposição, Entre jogadores – a seleção alemã, é um estudo abstrato do movimento e das relações que acontecem em um dos lugares mais observados em todo o mundo: o campo de futebol.
A precisão com que a fotógrafa registra os movimentos dos jogadores do esporte mais amado do planeta é repleta de dinâmica e elegância. Ela pode ser agora vista no Martin-Groupis-Bau, um dos mais importantes espaços culturais de Berlim.
"Comecei a fotografar futebol em 2004. Em 2006, registrei a Copa do Mundo já com essa intenção de mostrar o que se passa entre o jogador e a bola em um campo de futebol", disse a artista durante a abertura da exposição.
A importância desse encontro entre a cultura e o esporte foi ressaltada por Bernd Neumann, ministro da Cultura e Mídia, também presente na inauguração. "A sequência de um filme é mais passageira, a fotografia vive mais", comparou o político, lembrando também as imagens de Fritz Walter na Copa de 1954 e de Uwe Seeler, depois da derrota alemã no estádio de Wembley em 1966.
Constelação de corpos
Para Schmeken, a representação do movimento é o ponto fundamental de seu trabalho. Suas séries de fotografias se concentram no momento crucial entre pausa e o movimento na dança, esgrima e no futebol.
"É claro que uma imagem feita na rua ou de alguma obra arquitetônica é menos dinâmica do que as de uma partida de futebol. Eu procurei registrar momentos e impressões inesperadas desses jogos", disse a fotógrafa.
O contraste do preto e branco dá um aspecto escultural aos corpos torneados de atletas e dançarinos, o que em certo momento lembra o trabalho de Leni Riefenstahl. Mas as fotos de Regina Schmeken não são formais, e sua busca não é pela perfeição e sim pelo inusitado momento onde o estático vira ação através do movimento.
O enquadramento e a composição de imagem são outros grandes diferenciais no trabalho da artista. "Com as minhas fotos, eu tento focar no que acontece em volta da bola e tento ser tão penetrante quanto um gol", explicou Schmeken.
A busca de uma nova perspectiva ao olhar para algo tão comum como o futebol dá um caráter especial a momentos banais, assim como faz partes de corpos e simples movimentos se desdobrarem em surpresas. "Para mim, o mais impressionante é registrar essa constelação de corpos em um determinado momento e como esse momento é cheio de movimento".
Futebol para todos
A ideia da exposição nasceu quando Oliver Bierhoff, ex-jogador da seleção alemã e atual diretor técnico da Federação Alemã de Futebol, visitou uma exposição da fotógrafa e se surpreendeu com a maneira diferente em que ela retratou sua profissão em imagens em preto e branco.
Assim, nasceu a ideia de um projeto em conjunto. "O futebol é um esporte altamente retratado pela televisão e pela mídia impressa. O plano era levantar um olhar diferente e ao mesmo tempo profundo sobre o esporte", declarou Bierhoff.
A exibição traz uma seleção de fotos feitas entre março de 2011 e junho de 2012 e mostra o encontro dos jogadores e a bola de uma perspectiva muito particular, quase como uma coreografia. "Ela não teve nenhum acesso especial, estava junto com os outros fotógrafos da imprensa", disse o ex-jogador.
"Estou muito feliz ao ver o futebol representado em um lugar como esse, que abriga e abrigou as mais magníficas obras de arte e sendo retratado por uma fotógrafa de renome", completou.
Para Schmeken, suas imagens não se limitam apenas aos fãs do esporte. "Acho interessante que essas fotos despertam interesse de quem não gosta ou não entende de futebol. Tento trazer novos ângulos do esporte, mas sem perder a leveza e o frescor", concluiu.
"Entre jogadores – a seleção alemã" está em cartaz até 13 de janeiro no Martin-Groupis-Bau em Berlim.
Autor: Marco Sanchez
Revisão: Marcio Damasceno