Memória
6 de março de 2008Na Alemanha, dita a lei que toda música gravada no país tem que ser arquivada. O mesmo não acontece surpreendentemente com o cinema. Da era do cinema mundo, mais de 60% dos filmes simplesmente desapareceram. O mesmo vale com relação às produções da época da República de Weimar.
"Do período que vai do pós-guerra até a reunificação do país, temos, lamentavelmente, menos filmes em proporção ao que foi produzido do que temos do período nazista", diz Karl Griep, diretor do Arquivo Nacional do Cinema em Berlim.
Conhecidos e desaparecidos
No Arquivo do Cinema, está armazenado mais de um milhão de rolos, equivalendo a aproximadamente 150 mil filmes. Isso é, no entanto, apenas uma pequena porcentagem do que já foi rodado na Alemanha.
Muitas obras estão guardadas em arquivos menores e, ocasionalmente, surgem em arquivos fora do país verdadeiras raridades, há muito tidas como perdidas. Uma boa parte dos filmes rodados na Alemanha, porém, desapareceu realmente.
Para a parlamentar verde Claudia Roth, também especialista em cinema, é extremamente importante arquivar o material produzido no país: "Filmes são arquivos de memória, onde está também registrada a história alemã", diz Roth, ao lamentar a perda de obras conhecidas de diretores famosos, como Friedrich Wilhelm Murnau. "Perdemos, assim, muito de nossa própria herança cultural", conclui a política verde.
Até mesmo de Metrópolis, a obra monumental de Fritz Lang, não existe mais o original e sim uma versão posterior, construída à custa de muito esforço a partir de um trabalho minucioso em cima de várias cópias distintas.
Exclusão
O Partido Verde se empenha no Parlamento por uma regulamentação mais rigorosa da obrigação de arquivar os filmes rodados no país. Há quatro anos, ficou estabelecido que todo filme produzido na Alemanha deve ser arquivado. Na realidade, porém, a lei só atinge os filmes financiados com dinheiro do Estado.
O que automaticamente exclui toda a gama de filmes independentes. "É uma regra absurda", diz Karl Griep, "que exclui filmes financiados diretamente pelos produtores ou aqueles pagos pelos próprios diretores, partindo-se do princípio de que este tipo de filme 'não faz parte da herança cultural do país'", critica Griep.
Falta de registro
Até mesmo filmes financiados com recursos dos estados alemães, mas não com verbas do governo federal, não precisam ser sempre arquivados, mesmo porque não há uma estatística exata do número de filmes rodados no país por ano. Ao contrário das publicações impressas, o cinema não tem um registro central de produções, nem estatísticas exatas de produção.
O ministro alemão da Cultura, Bernd Neumann, anunciou recentemente que está "pensando na possiblidade de uma nova regulamentação" para o setor. Sugestões concretas a respeito da melhor forma de implementar um sistema que venha a prever o arquivamento de tudo o que é produzido no país, não foram, contudo, mencionadas pelo ministro.