Dois ano depois
12 de janeiro de 2012Desde há exatos dois anos, um dos países mais pobres do mundo vem tentando se recuperar de um terremoto devastador. Com 77% da população considerada pobre, segundo o Banco Mundial, muitos haitianos optam pela fuga.
O Brasil passou a ser um destino atraente: o governo federal prometeu regularizar a situação dos 4.100 haitianos ilegais que chegaram ao país desde 2010, mas agora as fronteiras foram fechadas. A Organização Internacional para Migração (IOM, na sigla em inglês), acompanha esse movimento migratório. Para Jean-Philippe Chauzy, representante da organização não governamental sediada em Genebra, na Suíça, são os haitianos "menos pobres" que se submetem à arriscada viagem até o Brasil.
Deutsche Welle:Dois anos depois do terremoto no Haiti, há dados sobre o número de haitianos que resolveram deixar o país? Qual é o destino desses refugiados da catástrofe?
Jean-Philippe Chauzy: Logo depois do terremoto, cerca de 200 mil cruzaram a fronteira rumo à vizinha Republica Dominicana. Eles buscavam assistência médica, oportunidades de emprego, alguns procuravam membros da família que já estavam no país. Mas a própria República Dominicana também sofre com a pobreza. E, no Haiti, as condições continuam muito difíceis dois anos depois, com pouca criação de emprego.
Mas, depois do terremoto, os haitianos passaram a buscar rotas mais arriscadas. Muitos procuraram Cuba, por exemplo. No último Natal, por exemplo, um barco que transportava 120 migrantes naufragou na costa cubana. Quinze corpos foram encontrados, e há muitos desaparecidos. Na mesma semana, haitianos foram localizados na costa das Bahamas.
As ilhas do Caribe passaram a ser um destino para os haitianos: eles embarcam em pequenos barcos e tentam chegar aos Estados Unidos. O barco acaba indo para Cuba ou Bahamas. Mas não é um número muito grande de haitianos que tentam deixar o país pelo mar.
Há um número estimado de haitianos que migraram para Cuba?
Não temos essa informação. Se compararmos com o número total de haitianos migrantes, eu diria que a maioria deles opta pela rota mais fácil e segue para a República Dominicana. É a rota menos perigosa e há uma grande comunidade de haitianos vivendo naquele país. Poucos haitianos, comparando com o total, se lançam ao mar, por várias razões.
A mais convincente delas, provavelmente, se deve ao fato de que os haitianos, antes e depois do terremoto, continuam muito pobres. E eles não têm os recursos financeiros para pagar por um barco, pagar o combustível e sair para o mar.
Então podemos dizer que os haitianos que chegam até o Brasil têm uma situação um pouco melhor? Porque, segundo relatos, eles pagam até 5 mil dólares para entrar no país com a ajuda de "coiotes".
Sim, podemos dizer isso, em partes. Os haitianos que decidem procurar trabalho no Brasil não são os mais pobres. Porque, antes de chegar ao Brasil, eles precisam pagar uma passagem para o Equador, pagar por agentes que ajudem a cruzar a fronteira por meio do Peru e da Bolívia.
O que vemos em toda parte do mundo é que os imigrantes que gastam dinheiro com esses coiotes – se eles não têm dinheiro o suficiente – vendem toda e qualquer propriedade que têm. Em alguns casos, trata-se de uma porção de terra, uma casa, ou bens. Vemos que toda a família ajuda a levantar fundos para enviar um membro nessa viagem perigosa rumo ao Brasil.
A expectativa depois é que, uma vez que essa pessoa chegue ao Brasil e encontre um emprego, ela envie dinheiro para o Haiti para ajudar a família. Depois que o terremoto aconteceu, muitos haitianos que viviam no Canadá, nos Estados Unidos e na Europa contribuíram de forma significativa ao enviar dinheiro aos afetados pela catástrofe.
O governo brasileiro estima que pelo menos 4.100 haitianos se submeteram a essa viagem arriscada rumo ao Brasil.
A razão pela qual eles estão indo é relacionada ao fato de que o Brasil, obviamente, tem uma economia forte. Há uma demanda por força de trabalho, há vários projetos de infraestrutura em andamento e outros planejados.
Esses imigrantes estão indo para o Brasil também com a imagem de que o Brasil contribui com a missão da ONU no Haiti, a Minustah. E também há um entendimento entre os haitianos de que o Brasil é um destino com grande potencial de encontrarem emprego.
Entrevista: Nádia Pontes
Revisão: Roselaine Wandscheer