Weimar-Shiraz
27 de julho de 2008O Festival do Divã – uma referência à coletânea de poemas de Johann Wolfgang von Goethe West-Östlicher Diwan (O Divã Ocidental-Oriental) – deverá acontecer no próximo ano em duas cidades: na iraniana Shiraz, centro dos poetas, do vinho e das flores, e na alemã Weimar, terra de grandes poetas e escritores.
A idéia, segundo os organizadores, é acentuar a ponte entre a cultura européia e a dos países islâmicos. "Shiraz será a primeira anfitriã em junho de 2009", explica Klaus Gallas, diretor artístico do festival. Em agosto do mesmo ano, Weimar irá sediar um evento cultural de 15 dias dedicado à cultura iraniana, reunindo concertos, sessões de leitura e exposições de artes plásticas.
Gallas pretende levar adiante a idéia do festival, que deverá ser realizado anualmente em Weimar e em alguma cidade do Irã ou do mundo árabe. Segundo ele, está sendo estudada a possibilidade de que alguma localidade dos Emirados Árabes Unidos venha a sediar o festival em 2010.
Hafiz e Goethe
A termo "divã" vem do turco diwán, que por sua vez deriva do persa diuán, que significa originariamente "registro, recolha de folhas escritas". No mundo muçulmano, a palavra é usada para designar uma coletânea de obras literárias, de um ou vários autores. A idéia de empregar o termo para definir uma coletânea de poemas tem origem no Divã do poeta e místico persa Hafiz, nascido por volta de 1325 em Shiraz.
Chama al-Din Muhamnmad Hafiz viveu até 1390, tendo deixado uma obra poética cultuada em vários países. Da lista de seus admiradores consta o nome de Johann Wolfgang von Goethe (1749–1832), autor da coletânea de poemas Divã Ocidental-Oriental, publicada em 1819 e claramente inspirada na obra de Hafiz. Goethe, considerado o maior escritor de língua alemã, viveu na cidade de Weimar, que sedia o festival cultural que homenageia a ele e a Hafiz em 2009.
Celebração entre culturas
"Intitulamos o evento de Divã Ocidental-Oriental como forma de celebrar ao mesmo tempo Goethe e Hafiz", diz Gallas. A cidade alemã já abriga desde 1999 um monumento em homenagem aos dois poetas, lembrando o diálogo entre as culturas ocidental e oriental e os interesses multiculturais do grande autor de língua alemã.
O regente argentino-israelense Daniel Barenboim também deu a uma orquestra formada em Weimar por músicos de várias origens, entre eles palestinos e israelenses, o nome de Divã Ocidental-Oriental. Weimar, que deu nome à república que foi de 1919 até a ascensão dos nazistas em 1933, continua sendo uma atração turística especial para intelectuais de todo o mundo, em função de suas ligações com Goethe e com outros poetas alemães.
Abolindo preconceitos
"Pretendemos organizar um festival cultural em Weimar que ecoe em toda a Europa. Trata-se de um evento que se opõe à tendência de pensar em termos de blocos ocidental e oriental. O objetivo é expor o quanto relutamos mutuamente em sermos amigos e o quanto estamos presos a nossos preconceitos e concepções errôneas", diz o organizador Gallas, que como historiador da cultura já visitou o Irã várias vezes, a primeira delas há mais de 30 anos.
O evento, que conta com o apoio do Ministério alemão das Relações Exteriores, do Instituto Goethe e da Fundação Federal da Cultura, será aberto e encerrado por duas orquestras alemãs sob a batuta de um regente iraniano. "Entre um concerto e outro haverá leituras das obras de Goethe e Hafiz, exposições de artistas contemporâneos, música clássica iraniana e shows de música pop", conta Gallas, que trabalha há mais de um ano no projeto.