Filme dirigido por Jolie movimenta Festival de Berlim
16 de fevereiro de 2012Angelina Jolie é um dos destaques da edição do Festival de Cinema de Berlim de 2012. Porém, desta vez, a norte-americana não brilha como atriz, mas sim como diretora. A atenção a Jolie foi garantida não apenas porque neste ano a mídia apelidou o evento, conhecido como Berlinale, de "Jolienale", mas também por causa da temática de seu filme de estreia na direção. O longa-metragem In the Land of Blood and Honey ('Na terra do sangue e mel', em tradução livre) retrata a guerra na Bósnia ocorrida nos anos 1990.
Jolie escolheu um enredo bastante complexo para seu primeiro filme. Trata-se de um romance que se passa em meio à guerra nos Bálcãs. Um conflito em que povos até então vizinhos empunharam armas uns contra os outros. Nesse contexto, desenrola-se a história de amor entre a bósnia muçulmana Ajla e o sérvio Danijel, do lado inimigo. Uma paixão que começa antes da guerra, mas que atinge seu clímax durante ela.
Críticas à violência
Na vida real, a história de amor fictícia logo provocou grande agitação. E as reações nem sempre foram positivas. Jolie foi criticada, entre outros motivos, por conta das violentas cenas de guerra.
"A guerra foi muito mais violenta, e, na verdade, não há como mostrar o horror verdadeiro no filme, mostrar como é estar na guerra. Por isso, acho que deveríamos ir longe o bastante para deixar que as pessoas sintam o que foi o conflito", diz a diretora de 36 anos.
Antes mesmo de estrear nas telonas, In the Land of Blood and Honey recebeu duras críticas, principalmente da República Srpska, parte da Bósnia e Herzegovina cuja maioria da população é sérvia. De acordo com reportagens locais, Jolie teria a intenção de abolir a República e, por isso, mostrou inverdades e retratou os sérvios como assassinos em massa e estupradores.
Ponto de vista das vítimas
Por outro lado, para membros de associações de vítimas da outra entidade política do país, a Federação da Bósnia e Herzegovina, o filme mostra o que realmente aconteceu com as mulheres na guerra. É o que pensa Enisa Salcinovic, presidente da associação de prisioneiros do cantão Sarajevo.
"Quando se assiste a partir do nosso ponto de vista, o das vítimas, é preciso dizer que 99% dos acontecimentos do filme correspondem aos acontecimentos reais ocorridos no início e também durante os quatro anos de agressão", considera Salcinovic.
Entretanto, nem todas as associações de vítimas pensam dessa maneira. Para Bakira Hasecic, da Associação Mulheres – Vítimas da Guerra, In the Land of Blood and Honey também contém cenas que ofendem profundamente as vítimas.
"Não se podia levar à tela tudo isso o que se passou conosco. Mas o amor entre um criminoso de guerra e uma vítima não aconteceu e nem poderia ter acontecido durante a agressão à Bósnia e Herzegovina", afirma Hasecic.
Reações tão diferentes, tanto das associações de vítimas quanto da República Srpska e também na Sérvia, mostram apenas que o filme é real, diz Fadila Memisevic, presidente da organização Sociedade de Povos Ameaçados, na Bósnia e Herzegovina.
"A Bósnia e Herzegovina, assim como a vizinha Sérvia, ainda não viveu a catarse e os países ainda não digeriram o passado. Por isso, as reações são tão ambivalentes."
Reação prevista
Jolie já sabia que o filme provocaria tais reações. Ela também sabia que a guerra é um tema espinhoso e que, 16 anos após o conflito, nem todas as feridas sararam. Mesmo assim, ela rodou o longa, para servir de exemplo – a todos os conflitos, inclusive os atuais, como o da Síria. A diretora novata também pretendia chamar a atenção da comunidade internacional, que considera a grande culpada.
"Eu queria mostrar como esse país era antes da guerra e queria personagens com os quais fosse possível haver uma identificação. O filme é simbólico para a região – os Balcãs Ocidentais – e para a desintegração durante a guerra", declarou Jolie.
De acordo com o Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia e a Organização das Nações Unidas (ONU), tal desintegração durante a guerra provocou a morte de 100 mil pessoas. Cerca de 50 mil mulheres foram violentadas e diversas famílias desalojadas.
Autora: Marina Martinovic (lpf)
Revisão: Carlos Albuquerque