Força da extrema direita na França reflete tendência europeia
16 de outubro de 2013Marine Le Pen está exultante: seu partido, a Frente Nacional (FN), vem conquistando uma vitória após a outra. Na eleição do domingo (13/10), no cantão de Brignoles, no sul da França, o candidato da extrema direita deixou bem para trás seus adversários socialista e conservador.
Numa pesquisa de intenção de voto para o próximo pleito europeu, em 2014, a FN chegou a ocupar o primeiro lugar em nível nacional. E Marine Le Pen alcançou níveis recordes de simpatia popular: numa sondagem recente, 42% dos franceses revelaram ter uma boa opinião sobre a política de 45 anos. O atual presidente, o socialista François Hollande, ficou nos 35%. Em outras estatísticas seu desempenho é ainda mais sofrível.
Assimilação da retórica extremista
O cenário leva à questão de como é possível que, num país-chave da União Europeia, uma facção extrema ameace superar os partidos populares clássicos. E, note-se, Marine Le Pen rejeita a definição como "extrema direita" – e ao que tudo indica, com sucesso.
Quando seu pai, Jean-Marie Le Pen, era o líder do partido, muitos torciam o nariz para a populista Frente Nacional. O veterano da Guerra da Argélia definia o Holocausto, por exemplo, como mero "detalhe" da história. Sua filha, em contrapartida, retirou a FN do nicho da má fama aos olhos da opinião pública.
Na Europa muitos observam o fenômeno com apreensão. A eurodeputada social-democrata alemã Evelyne Gebhardt, que passou boa parte da vida na França, explica à DW que Marine Le Pen simplesmente "modificou fortemente a linguagem de seu partido, de modo que não se registra mais essa violência verbal – embora as ideias tenham permanecido as mesmas".
Sylvie Goulard, parlamentar europeia liberal de Marselha, diz que, na região, a força da FN é tradicionalmente grande. E fala em termos explícitos: "Marine Le Pen joga com os medos das pessoas, e nesse ponto talvez ela seja ainda mais perigosa do que o pai."
Inédito é o fato de políticos de outros partidos não demonizarem mais a Frente Nacional, mas sim assimilarem a retórica dos direitistas. O ministro do Interior francês, o socialista Manuel Valls, acusou recentemente os nômades roma da Bulgária e da Romênia de falta de vontade de se integrar e de "uma forma de vida extremamente diferente".
Hollande não rebateu, sabedor de que 77% dos franceses haviam se manifestado de acordo com a declaração de Valls. Mas também o antecessor de Hollande, o conservador Nicolas Sarkozy, incitava contra os imigrantes. Nesse ponto, os dois grandes partidos populares pouco diferem.
Porém não é só a rejeição aos estrangeiros a impulsionar a FN: a crise econômica europeia favorece o jogo da direita. Segundo Evelyne Gebhardt, numerosos cidadãos "não só na França, como em toda a União Europeia, têm a impressão de que a política não está dando conta dos problemas". E Goulard acrescenta: "Muitos franceses vão mal. Esse fato é subestimado em muitas nações vizinha, inclusive na Alemanha".
Precisamente as altas taxas de desemprego põem o povo à mercê de gente com soluções simplistas. Goulard não tem nada contra uma política europeia de austeridade – que o presidente Hollande nunca pôs realmente em prática. Ainda assim, os alemães – parcimoniosos e economicamente fortes – precisariam saber que "a estabilidade monetária é importante, porém a estabilidade dos países em torno da Alemanha também é importante".
Legislativo europeu subestimado
Em toda a Europa, os partidos estabelecidos temem que a população atribua a crise à União Europeia, elegendo os populistas de direita. Seja em Grécia, Itália, Hungria ou Holanda, em países de economia potente ou fraca, por quase todo o continente partidos com essa orientação ganham força. A grande exceção: a Alemanha.
Evelyne Gebhardt atribui o isso ao fato de que "o tabu contra a ideologia de extrema direita ainda funciona na Alemanha", enquanto na França os governantes tornaram essa tendência socialmente aceitável. Ela adverte do perigo: "Se uma coisa assim acontecer na Alemanha, subitamente teríamos o mesmo problema".
O próximo teste para o clima político em toda a UE será a eleição para o Parlamento Europeu, em maio de 2014. Então ficará constatado se a raiva e a frustração se traduzirão, de fato, em votos para a direita.
Um fator que beneficia os extremistas é muitos eleitores acreditarem que as eleições parlamentares europeias são menos importantes do que as nacionais, e que, portanto, eles podem se permitir dar aí seu voto a um partido de protesto.
A liberal francesa Sylvie Goulard critica os eleitores por não se darem conta de quanto é decidido no nível europeu. Só lhe resta a esperança de que, até as eleições, "as empresas, sindicatos e outras forças da sociedade civil digam em alto e bom som que a votação para o Parlamento Europeu é um pleito sério".