Futebol contra o racismo
13 de abril de 2003No país do vice-campeão mundial, as grandes estrelas são jogadores vindos de outros países. Festejados pelos fãs, cortejados pela imprensa e respeitados pelos companheiros alemães, eles não jogam apenas na Bundesliga. Estão representados também em equipes amadoras e em categorias inferiores.
Os clubes da primeira divisão do futebol alemão são hoje grandes empresas, tendo um deles - o Borussia Dortmund -até ações na bolsa de valores. Seu êxito, contudo, não é medido em dinheiro nem em interesses na integração cultural, mas pelos resultados apresentados em campo.
Günther Pilz, sociólogo da Universidade de Hanôver, observa que os jogadores são trazidos de outros países porque são baratos e jogam bem. "Se seu desempenho não corresponde mais às expectativas, eles são despachados rapidamente", destaca Pilz.
A Confederação Alemã de Futebol (DFB) tem 27 mil clubes filiados, com um total de mais de seis milhões de associados. O índice de estrangeiros nas equipes é estimado pela DFB em 8%. Na Bundesliga, a nata do futebol alemão, 58% dos jogadores não têm o passaporte alemão – um recorde. A maior parte é de brasileiros (30), tchecos, croatas, holandeses, poloneses e belgas.
Futebol multicultural
Jogadores de 51 nacionalidades atuaram no primeiro turno do atual Campeonato Alemão. Esta diversidade reflete-se na seleção alemã, formada por atletas de várias origens. Um exemplo é Gerald Asamoah, nascido em Gana. O atacante do Schalke e primeiro negro a defender a camisa alemã passou a metade dos seus 24 anos de idade na África.
"Agora tenho passaporte alemão, falo o idioma e jogo pelo país, mas isso não quer dizer que eu seja 100% alemão. Não pretendo ser o salvador da pátria, mas é bom ter a sensação de que os alemães estão vendo que também um negro pode fazer algo pela Alemanha", diz Asamoah.
Os telespectadores já se habituaram aos nomes "exóticos" dos jogadores em campo e se alegram a cada gol, independente de quem o tenha marcado. "No início dos anos 70, nós ainda xingávamos os turcos, hoje eles estão integrados na nossa sociedade. Sempre tivemos boas experiências com jogadores estrangeiros, que trazem qualidade ao futebol. Acima de tudo, amamos os brasileiros!", destaca um torcedor do Bayer Leverkusen, de Lúcio, França, Juan e Cris.
Mas para que possam jogar bem, precisam se sentir integrados, adverte o diretor de futebol do clube. "O jogador, a esposa, os filhos, todos têm que se sentir bem. Os principais problemas para a adaptação continuam sendo o clima e o idioma", explica Reiner Calmund.
Para facilitar a vida dos que chegam ao país, nos primeiros dias, os clubes costumam contratar acompanhantes para as famílias dos jogadores irem ao supermercado, providenciar questões burocráticas e acompanhar as primeiras visitas ao pediatra e ao ginecologista.
Racismo nas arquibancadas
Asamoah já passou por experiências amargas. No início da carreira profissional, aos 18 anos, viajou com o Hanôver a Cottbus, no leste alemão. Ele e Otto Addo, outro negro na equipe, foram mal recebidos em campo. Os torcedores jogaram bananas e cuspiram nos dois jogadores. Como se não bastasse, foram xingados pelos próprios adversários.
Embora o presidente da DFB, Gerhard Mayer-Vorfelder, insista que o racismo no futebol se resume a casos isolados, a xenofobia existe no futebol alemão. O secretário de Esportes da Renânia do Norte-Vestfália, Michael Vesper, lembra as várias associações de fãs neste sentido, mas também vê problemas de identificação entre os torcedores racistas: "Quando algum dos estrangeiros faz gol, todos, sem exceção, vibram nas arquibancadas".
Em 1998, a Confederação Alemã de Futebol criou um plano de dez pontos contra a xenofobia no futebol. Ele ditava, entre outras coisas, parágrafos anti-racistas nos regulamentos dos estádios. Medidas apenas superficiais, segundo o sociólogo Gerd Dembowski, da Aliança Fãs Ativos do Futebol. Segundo ele, a discriminação diminuiu, mas também tornou-se mais sutil.
Mais uma vez, Asamoah serve de exemplo. Embora reconheça não ser mais mal recebido nos estádios, ele e outros jogadores negros enfrentam problemas no dia-a-dia. Asamoah já foi discriminado numa cafeteria, e o brasileiro Dedê, impedido de entrar numa discoteca.