Futebol dos estados do leste alemão sofre com falta de recursos
10 de abril de 2012O futebol alemão profissional sofre atualmente de um desequilíbrio estrutural. Após a mudança política, muitos dos times da antiga República Democrática da Alemanha (RDA) – a Alemanha Oriental – decaíram, e hoje o futebol de ponta concentra-se no oeste.
Desde 2009, quando o Energie Cottbus saiu da Primeira Divisão da Bundesliga, não existem mais representantes dos estados do leste no grupo de elite do futebol do país. No lado oriental, o time número 1 é hoje o Union Berlin, que ocupa apenas um posto intermediário na Segunda Divisão. E não há sinais de uma mudança em breve.
"Diz-se que dinheiro não faz gols", reflete Stefan Beinlich, gerente do Hansa Rostock, que ocupa o último lugar na Segunda Divisão. "Mas é claro que as finanças desempenham um papel importante." Para o ex-jogador da seleção alemã, o problema central é que, em muitos lugares do leste, menos desenvolvido, falta dinheiro para o futebol de ponta. Há poucos patrocinadores, e os fãs nem sempre podem pagar pelo ingresso ou a camisa atual do time.
A casa do Hansa – o estado de Meklemburgo-Pomerânia Ocidental – tem hoje a taxa de desemprego mais alta da Alemanha (13,5%). Entre os novos estados do leste, somente a Turíngia tem uma taxa de apenas um dígito (9,2%).
Decadência
"Os clubes que tiveram as melhores condições após a mudança política são hoje os que ocupam as piores posições", diz Ulrich Lepsch, presidente do Energie Cottbus. Lepsch refere-se ao Rostock e ao Dresden, os dois times que estrearam na primeira temporada da Bundesliga após a reunificação do país. Outras equipes tradicionais despencaram completamente.
O Magdeburg, campeão europeu em 1974, encontra-se novamente na Quarta Divisão, o antigo recordista da RDA Dynamo Berlin definha na Quinta Divisão.
"Não acredito que possamos mudar a tendência significativamente num futuro próximo. Nós do Cottbus somos praticamente os únicos que poderiam amparar a Primeira Divisão financeiramente. Para os próximos anos, acredito que consigamos [times do leste] ter um ou dois clubes na Primeira Divisão."
Já Beinlich, do Hansa Rostock, vê a situação atual como relativamente tranquila, considerando que a pior fase já foi superada. "O Dresden subiu para a Segunda Divisão novamente, nós também. O Erfurt e o Chemnitz poderiam sair da Terceira novamente. Nós apenas não temos um time na Primeira Divisão", afirmou.
Dinheiro em jogo
O próximo grande salto poderia ser alcançado justamente por um clube que não tem um passado na RDA. O RasenBallsport Leipzig, fundado em 2009, atualmente na Quarta Divisão, bate à porta do futebol profissional. O gerente do clube, Wolfgang Loos, reconhece na metrópole da Saxônia Leipzig o desejo de ter um grande time. "Não se trata apenas de futebol, se trata também de postos de trabalho."
No RasenBallsport há melhores condições do que no resto do leste alemão. Com o patrocínio da fabricante de bebidas Red Bull, o clube está no mesmo patamar de clubes ocidentais, como o Bayer Leverkusen ou o Wolfsburg – apoiado pela Volkswagen. Porém, se a Red Bull um dia deixar de usar o esporte como um meio para promover a própria imagem, esse poderia ser o fim dos sonhos de Leipzig de ter um grande time de futebol.
Fuga de talentos para o oeste
O motivo da diáspora futebolística no leste alemão não pode ser a qualidade do treinamento, pois a formação de novos talentos na região é de alto nível. O time juvenil (sub-20) do Hansa Rostock venceu o campeonato alemão em 2010 e, nessa faixa etária, é uma das cinco equipes dos estados do leste na Primeira Divisão.
"O centro de formação de talentos é certificado a cada três anos. E, nesse quesito, somos um dos oito melhores clubes da Alemanha", orgulha-se Beinlich. Assim como no passado, bons talentos do futebol vêm do leste – como Toni Kroos, atualmente no Bayern, por exemplo. Seu pai, Roland Kroos, é treinador da equipe juvenil do Hansa Rostock.
"Sabemos quem realmente trabalha aqui na região [norte da Alemanha]. Cito apenas o Hertha Berlin, o Wolfsburg, o Hamburgo e o Bremen. Eles atraem também jogadores da nossa região, pois as condições lá são melhores. No futuro, ficará mais difícil para nós", diz Roland Kroos.
Leste e oeste
Mesmo que os talentos sejam descobertos cedo pelos olheiros dos clubes do leste e entrem para as equipes, não necessariamente os times profissionais os aproveitarão mais tarde. O problema é que frequentemente os talentos vão para clubes maiores por conta de melhores perspectivas, mesmo sem o envolvimento de grandes somas. Como os grandes clubes estão no oeste, ao final, nem os talentos nem o dinheiro ficam no leste.
Em 2006, o Hansa recebeu 2,3 milhões de euros pela venda de Toni Kroos para o Bayern. Hoje, porém, o Bayern poderia conseguir mais de dez vezes pelo jogador no mercado de transferências.
Esse tipo de fuga de talentos é uma consequência lógica do desequilíbrio estrutural do futebol alemão. Quem quiser crescer precisa ir para o oeste. "Os times do leste precisam se estabelecer para conseguir manter os talentos do lado oriental aqui", considera Loos. "Nós já adotamos tal causa aqui em Leipzig."
Beinlich espera que, dentro de dez, 15 anos, não se fale mais em leste e oeste alemães. "Já fizemos isso por tempo suficiente. Quantos clubes do leste haverá, então, na Primeira Divisão? Talvez sejam dois ou três, talvez nenhum. Veremos." Os torcedores, porém, continuarão falando em leste e oeste enquanto as diferenças estruturais forem tão gritantes.
Autor: Philipp Büchner (lpf)
Revisão: Carlos Albuquerque