Futebol e Técnica
3 de abril de 2006Um estudo recentemente publicado pelo Escritório Alemão de Patentes e Marcas (DPMA), com sede em Munique, acompanhou historicamente o desenvolvimento do futebol através do registro de suas invenções. Segundo o órgão, o estudo representa um complemento inédito na literatura técnica sobre o futebol.
Em Futebol e Técnica, além da detalhada compilação de patentes referentes ao invento, entre outros, da bola, do apito, da chuteiras, o DPMA nos oferece uma pequena introdução sobre a "pré-história" das patentes do futebol e das origens do esporte.
Um negócio da China
O primeiro documento historicamente comprovado referente a um jogo semelhante ao atual futebol vem da China e é datado de 2697 a.C. O tsuh-kuh – que significa "jogar a bola com o pés" – era uma forma de celebração religiosa. Ele era praticado com uma bola de couro de oito gomos preenchida com penas ou cabelos. O arcaico futebol japonês, o kemari, foi possivelmente importado da China.
Segundo o DPMA, a primeira partida internacional de futebol não foi o jogo Escócia x Inglaterra em 1872, como se costuma afirmar, mas aconteceu por volta do ano 50 a.C., entre jogadores japoneses e chineses de kemari e tsuh-kuh.
De forma de culto, ele passou a ser usado pelos gregos para treinamento militar, sendo adotado pelos romanos, que levaram seu harpastum às Ilhas Britânicas, Gália e Germânia, dando início praticamente à história do futebol moderno.
No Reino Unido, onde o esporte já estava bastante difundido na primeira metade do século 19, ele já é citado na peça de Shakespeare Comédia dos Erros, de 1592–93.
A bola
Já os gregos usavam bolas com invólucro externo de couro de porco ou de cervo e uma câmara de ar feita com bexiga do porco, um tipo de solução que representa o protótipo da construção em casca dupla da bola atual, cuja história começou com a patente norte-americana da vulcanização da borracha por Charles Goodyear em 1844.
Este desenvolvimento permitiu a primeira patente de uma bola de futebol com câmara de ar de borracha em 1886 (GB 1886–4359 A). válvula e bomba de ar também foram patenteadas no Reino Unido, respectivamente em 1886 e 1887.
O invólucro externo, inicialmente em couro, recebeu a partir da Copa do México sua forma atual através de uma patente alemã de invólucro de bola de futebol com gomos de cinco ou três lados, registrada em 1970.
Como novidades em termos de bola, temos as patentes norte-americanas dos invólucros em material sintético feito em camadas e a bola auto-inflável, com bomba de ar acoplada à válvula. Já a chamada bola inteligente, com transmissor de onda de rádio embutido, é uma patente alemã do ano de 2003 (DE 103 38 620 A1).
Apito e cartões
Patenteado por Joseph Hudson em 1885, o apito de latão foi desenvolvido no Reino Unido, originalmente para o uso da polícia. Este foi introduzido, pela primeira vez, em um jogo do Nottingham Forrest Football Club em 1878, sendo logo substituído pelo apito de trilo, com uma bolinha dentro, também inventado por Hudson. Mas, hoje, mesmo sem bolinha, pode-se escutar o trilo do apito, como prova a patente espanhola do ano de 2000.
Já os cartões vermelho e amarelo foram introduzidos na Copa do Mundo de 1970, após as confusões acontecidas na Copa anterior, em um jogo entre Argentina e Inglaterra. São feitos, hoje em dia, de material sintético impermeável, com cores luminosas e refletoras. Segundo o estudo do DPMA, não existe, na literatura de patentes, menção especial para tal invento.
A trave
Historicamente, é difícil precisar qual objeto deu origem à trave de futebol. Não há patentes de traves de futebol dos primeiros tempos do esporte, como a patente americana de 1885 para a trave de pólo.
Uma novidade em termos de traves representa a patente espanhola de 1988, com câmeras embutidas e a patente alemã, de 2003, de trave com luzes embutidas que piscam cada vez que um gol é marcado.
A chuteira
As primeiras chuteiras de futebol foram confeccionadas para as escolas britânicas. Eram botas robustas com seis travas de metal para o aumento da aderência. Diferente do calçado dos alunos, não havia padronização das chuteiras para os times de futebol até o final do século 19. A única exigência técnica referia-se à Regra 13, que especificava que os calçados não poderiam ter objetos que pudessem ferir o adversário.
Um maior conforto e a diminuição do peso tornaram-se possíveis somente com o desenvolvimento de novos materiais. O tratamento da superfície do calçado em forma de escamas para evitar que a bola deslize, quando a chuteira estiver molhada, representa uma novidade no setor, como na patente mundial de 1991 (WO 92/2224 A1).
Nesta área, há uma contribuição alemã bastante original, a chuteira com superfície em pele de peixe (DE 1 998 909 U).
A camiseta
Com o aumento da violência no futebol a partir dos anos de 1990, começou um boom de patentes de uniformes de futebol com partes rasgáveis. Segundo o DPMA, tal novidade se deve às reações dos espectadores contra a falta de ética no futebol profissional.
Um exemplo de uniforme com partes rasgáveis é a patente alemã de camiseta, de 1998, onde estas partes destacáveis são entrelaçadas com finos cordões nos ilhoses ou com botões de pressão.
Segundo o DPMA, Futebol e Técnica é a sua contribuição para a Copa do Mundo 2006 na Alemanha. É reconfortante saber que, neste ano de Copa do Mundo, onde todos parecem querer abocanhar o seu quinhão, existem aqueles que querem dar algo em troca.