Futuro nebuloso
17 de novembro de 2005O estudo inédito apresentado pela Convenção Quadro das Nações Unidas para Mudança do Clima (UNFCCC) durante coletiva de imprensa na Deutsche Welle, nesta quinta-feira (17/11), aponta que será preciso mais empenho das nações para que o compromisso assinado em Kyoto seja honrado.
Conforme Richard Kinley, que preside a UNFCCC, "a emissão de gases poluentes responsáveis pelo efeito estufa, apresentou uma redução significativa em países do Hemisfério Norte". Comparado com níveis de 1990, o lançamento para a atmosfera de dióxido de carbono foi 5,9% menor em 2003".
Para Kinley, "os esforços futuros são para, no mínimo, manter estas reduções". Ele explica que o que se observa é o resultado das tentativas de implementar a convenção sobre mudança do clima e o Protocolo de Kyoto.
O presidente da Convenção ressalta, entretanto, que a maior parte das reduções ocorreu no início dos anos 90, quando os países do Leste Europeu passavam pela transição para a economia de mercado. "O que o estudo aponta é que o grupo de países desenvolvidos manteve estável a emissão de gases poluentes nos últimos anos", comenta.
Conforme projeções do levantamento até 2010, haverá aumento na quantidade de dióxido lançado na atmosfera em 11%. Para o presidente da UNFCCC, um grande desafio para os países.
Responsabilidade alemã
A publicação Key GHG data (Dados Chave sobre Emissão de Gases Estufa) apresenta dados colhidos em 40 países desenvolvidos e 121 nações em desenvolvimento, entre elas o Brasil. Entre os dez países com aumento na taxa de emissão, seis integram a União Européia.
"Até 2003, a Espanha aumentou em 42% o lançamento de substâncias causadoras do efeito estufa", alerta Sergey Kononov, responsável pela apresentação do estudo. Na seqüência aparecem Portugal, (+37%), Grécia e Irlanda (+26%), Finlândia (+22%) e Áustria (+17).
Kononov explica que a posição alemã é uma das mais bem- sucedidas. Da meta estabelecida em Kyoto, de 21% de redução, a Alemanha já alcançou 18,2%. "Por exemplo, a indústria reduziu em 20,7% a emissão de gases, e o lançamento na atmosfera a partir de aterros sanitários caiu em quase 70%. O único setor que apresentou aumento no país foi o dos transportes", argumenta.
Depois da Alemanha, aparece o Reino Unido, com reduções de 13%, cumprindo o objetivo estabelecido em Kyoto. No grupo dos que já chegaram lá, figura também a Suécia. "A União Européia quer até 2012 reduzir a emissão em 8%", lembra Kononov. Até 2003, o índice chegou a -1,4%. "É preciso mais esforço para que a meta seja cumprida", recomenda.
Presença brasileira
Conforme o documento, o Brasil tem mais da metade da emissão de gases poluentes proveniente da agricultura (56%). O setor do consumo de energia está em segundo lugar (37,6%), acompanhado dos processos industriais (3,2%) e do lançamento de dióxido de cabono a partir de aterros sanitários (3,1%).
Para Halldor Thorgeirsson, coordenador do SBSTA (Subsidiary Boby on Scientific, Technical and Technological Advice), órgão de Aconselhamento Científico, Técnico e Tecnológico, o problema brasileiro é, acima de tudo, social. "É preciso encontrar outras alternativas de trabalho para as populações que ganham a vida com o desmatamento e a agricultura em regiões de floresta", conclui.
Preparativos para Montreal
O Secretariado das Nações Unidas apresentou também durante a coletiva de imprensa os temas que serão abordados na Conferência Internacional da ONU sobre Mudanças Climáticas, que acontece a partir de 28 de novembro em Montreal.
Segundo Richard Kinley, a reunião buscará decidir as medidas a serem tomadas para remediar as conseqüências das mudanças no clima global. "A boa notícia é que os problemas são solucionáveis. Mais do que trabalhar com a prevenção, discutiremos formas de minimizar os efeitos climáticos", argumenta.
Outro aspecto que será abordado em Montreal é o mapeamento de pontos suscetíveis de ocorrência de catástrofes devido à alteração do clima. Kinley diz que os locais vulneráveis do planeta precisam ser conhecidos. " O futuro é uma das colunas de sustentação da conferência. É necessário refletir a longo prazo, porque eventos que aconteceriam daqui a anos já são uma realidade", constata.