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Greve contra Maduro acaba em violência

21 de julho de 2017

Ao menos três pessoas morrem durante jornada de paralisações convocada pela oposição na Venezuela. Em Caracas e outras cidades, regiões inteiras ficam paralisadas e ruas permanecem vazias.

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Manifestante caminha atrás de barricada em Caracas, em protesto contra Maduro em 20 de julho de 2017
Manifestante caminha atrás de barricada em CaracasFoto: Reuters/C. G. Rawlins

A oposição venezuelana elevou nesta quinta-feira (21/07) a pressão contra o presidente Nicolás Maduro com uma greve geral que paralisou áreas inteiras em várias cidades e terminou com três mortos e inúmeros feridos. Segundo a organização de direitos humanos Fórum Penal, ao menos 367 pessoas foram detidas.

Tanto na capital como no interior, a adesão foi maior em áreas onde a oposição é majoritária. Entre os setores que tiveram maior adesão estão o de transportes e o comércio, enquanto que, no setor público e nos bancos, a participação foi menor.

A coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD), que publicou imagens de ruas desertas com os comércios fechados em várias cidades, calculou em 85% a adesão à greve geral. A greve foi convocada pela oposição depois de 7,1 milhões de cidadãos rejeitarem a Assembleia Nacional Constituinte impulsionada por Maduro numa consulta realizada no domingo passado.

Em vários pontos de Caracas e em cidades do interior do país, como Maracaibo, Barquisimeto, Valencia, San Cristóbal e Maracay, manifestantes bloquearam as ruas com lixo, galhos de árvore e outros obstáculos e entraram em confronto com as forças de segurança depois que estas tentaram liberar vias públicas.

Venezuela Krise
Oposicionistas nas ruas de Caracas durante a paralisação que atingiu a VenezuelaFoto: Getty Images/AFP/J. Barreto

Vítimas

Ronney Tejera, de 24 anos, morreu ao ser ferido por arma de fogo numa manifestação na cidade de Los Teques, ao sudoeste de Caracas, num incidente confirmado pelo Ministério Público da Venezuela e no qual mais três pessoas ficaram feridas, incluindo dois irmãos da vítima.

Outra morte confirmada é a de Andrés Uzcátegui, de 23 anos, durante uma manifestação na cidade de Valencia, no estado do Carabobo, na qual também foram registrados seis feridos, segundo o MP. Uzcátegui morreu, segundo diversas testemunhas, de um tiro no peito, quando a Guarda Nacional Bolivariana (GNB) reprimia uma manifestação opositora. Entre os feridos está Robert Lugo, que também recebeu um tiro no peito e se encontra internado numa clínica local, em estado grave.

Em La Victoria, a 100 quilômetros a oeste de capital, Juan Moleiro morreu na sequência de um ataque cardíaco ocorrido quando a GNB lançou uma granada de gás lacrimogêneo para dentro da sua residência, o que eleva para quase cem as mortes durante a onda de protestos no país.

Bombeiros tentam conter um incêndio numa estação policial em Caracas, em 20 de julho de 2017
Bombeiros tentam conter um incêndio numa estação policial em CaracasFoto: Getty Images/AFP/R. Schemidt

Adesão maior em áreas da oposição

Em Caracas, a greve teve adesão parcial. A participação foi maior no leste e no sul da capital, áreas tradicionalmente dominadas pela oposição, onde estabelecimentos comerciais e escritórios amanheceram fechados e as principais vias foram bloqueadas ao trânsito.

Os distritos de El Hatillo, Chacao, e Sucre, redutos do antichavismo, tiveram suas atividades praticamente paralisadas, e a maioria de suas ruas foi tomada por manifestantes desde as 7h locais, o que também impediu o funcionamento do transporte público.

Policiais e manifestantes se enfrentam nas ruas de Caracas

Já no oeste e no centro de Caracas, a adesão foi menor. Em Quinta Crespo (uma das zonas do centro), segundo dados não oficiais, cerca de 80% dos estabelecimentos comerciais abriram as portas, enquanto em localidades próximas as ruas estavam desertas.

O sucesso da manifestação foi contestado pela Central Bolivariana Socialista de Trabalhadores (CBST), que afirmou que não houve convocação e os cidadãos trabalharam normalmente. "Dizemos ao fascismo, ao terrorismo, que aqui não há classe operária que se preste a nenhuma greve com os seus próprios carrascos", disse o presidente da CBST, Wills Rangel, em alusão à maior patronal do país, Fedecámaras, que permitiu que seus funcionários não fossem ao trabalho.

Opositores e grupos pró-direitos humanos, como o Fórum Penal, denunciaram repressão por parte da Guarda Nacional Bolivariana (polícia militarizada) e da polícia contra quem interrompia o tráfego.

A agência de notícias Efe constatou enfrentamentos entre manifestantes e agentes em Caracas, onde a polícia e a Guarda Nacional tentaram abrir passagem lançando gás lacrimogêneo e balas de borracha contra os que levantavam barricadas, que responderam com pedras, garrafas e outros objetos.

Está previsto que a Assembleia Constituinte seja eleita no próximo dia 30 de julho, o que é encarado pela oposição como uma tentativa do governo de "consolidar uma ditadura" na Venezuela. A sua revogação é a principal exigência dos manifestantes a Maduro.

AS/efe/lusa/ap/afp