Greve geral e protestos levam milhares de manifestantes às ruas na Grécia
26 de setembro de 2012A Grécia enfrenta uma greve geral nesta quarta-feira (26/09). Voos e trens foram suspensos, lojas ficaram fechadas e hospitais funcionaram apenas com equipes de emergência na primeira grande greve antiausteridade desde que o governo de coalizão assumiu o poder, em junho. Sindicalistas saíram às ruas para protestar contra uma nova rodada de cortes prevista para outubro.
A greve foi convocada pelos dois maiores sindicatos do país, GSEE e ADEDY, que representam metade dos 4 milhões de trabalhadores gregos, em oposição às medidas de austeridade exigidas por credores da troika - Comissão Europeia, Banco Central Europeu (BCE) e Fundo Monetário Internacional (FMI). Em Atenas, mais de 50 mil pessoas lançaram gritos de protesto, como "Não nos submeteremos à troika" e "Fora UE e FMI".
"As novas medidas são insustentáveis, injustas e somente pioram a crise. Estamos determinados a lutar até ganharmos", disse Costas Tsikrikas, presidente do sindicato dos funcionários públicos ADEDY. "Convocamos todos os trabalhadores para se unirem a nós na marcha contra as políticas que a troika está impondo."
"Com essa greve, estamos enviando uma poderosa mensagem ao governo e à troika, de que as medidas não serão aprovados mesmo se forem votadas no parlamento, pois os dias do governo estão contados", completou Yiorgos Harisis, sindicalista do ADEDY.
Diante das manifestações previstas para esta quarta-feira, navios permaneceram atracados, museus e monumentos fechados para visitantes e controladores de voo paralisaram os trabalhos por três horas.
Cerca de 3 mil policiais – o dobro do normal – foram colocados a postos no centro de Atenas. A capital grega já havia enfrentado protestos violentos em fevereiro deste ano, quando manifestantes incendiaram lojas e bancos após o parlamento aprovar medidas de austeridade.
Motivações do protesto
Trata-se da terceira greve geral de 2012, mas a primeira a testar a nova coalizão de governo. O maior motivo de indignação dos sindicatos são os cortes de gastos de quase 12 bilhões de euros ao longo dos próximos dois anos, prometidos pela Grécia à troika para garantir a terceira parcela do pacote de resgate de 130 bilhões de euros concedido ao país.
Os cortes afetarão milhares de trabalhadores civis, que já sofreram reduções salariais de até 40% nos últimos dois anos. A idade de aposentadoria também deverá ser alterada de 65 para 67 anos. Os sindicatos afirmam que os cortes para reduzir o deficit grego causaram desemprego recorde e aprofundaram a recessão, agora em seu quinto ano.
A Grécia precisa do dinheiro da troika para pagar salários e pensões, recapitalizar seus bancos e pagar dívidas de cerca de 6 bilhões de euros a empreiteiros privados. Mas nem essa última rodada de medidas de austeridade pode ser suficiente para restabelecer as finanças do país.
Na última semana, uma pesquisa da agência MRB mostrou que mais de 90% dos gregos acreditam que os cortes planejados são injustos e sobrecarregam os pobres. A grande maioria prevê mais medidas de austeridade para os próximos anos.
"As pessoas querem mostrar a Antonis Samaras [primeiro-ministro grego] que estão sendo prejudicadas, e o premiê poderia aproveitar isso para demandar concessões da troika", afirma Dimitris Mavros, diretor da MRB.
"As pessoas estão dispostas a dar mais tempo ao governo, mas sob certas condições, como reprimir a evasão fiscal e assegurar uma extensão do resgate. Se o governo obtiver sucesso nisso, então, sua própria existência será estendida", considera.
LPF/rtr/afp
Revisão: Francis França