Violência no futebol italiano
12 de novembro de 2007Os hooligans italianos reagiram com uma onda de violência à morte de Gabriele Sandri, torcedor da Lazio (de Roma) baleado por um policial, no domingo (11/11), num posto de beira de auto-estrada, na região da Toscana (veja link abaixo).
Cerca de 200 torcedores extremistas de direita, encapuzados e armados com tacos de beisebol, atacaram uma delegacia de polícia e incendiaram vários carros em Roma, na noite de domingo.
Além disso, eles invadiram e destruíram a sede do Comitê Olímpico Nacional Italiano (Coni). À tarde, centenas de hooligans já haviam travado uma batalha com a polícia ao redor do Estádio Olímpico, onde a partida entre Roma e Cagliari fora suspensa.
"Ações terroristas"
Houve tumultos violentos também em várias outras cidades do país. Pelo menos 40 pessoas saíram feridas, segundo a polícia italiana. Quatro pessoas foram presas.
Segundo a Procuradoria Pública de Roma, a violência dos torcedores de futebol adquiriu características de terrorismo. Segundo a televisão italiana, os hooligans presos após os tumultos estão sendo acusados de ter praticado "ações terroristas".
A ministra italiana dos Esportes, Giovanna Melandri, pediu uma "pausa para reflexão" ao futebol italiano. "No próximo final de semana, a bola deverá ficar parada", disse. Os torcedores foram proibidos de acompanhar suas equipes em jogos fora de casa.
Na Série A, de qualquer forma, não haverá jogos no final de semana, porque a Itália enfrenta a Escócia – país que igualmente tem um grande número de hooligans – pelas Eliminatórias da Eurocopa 2008.
Em fevereiro deste ano, a morte de um policial numa briga de torcidas na Sicília havia causado a suspensão temporária de todos os jogos de futebol na Itália, inclusive um amistoso da seleção campeã mundial.
Desde 1962, houve pelo menos 13 mortes violentas no futebol italiano. É um número expressivo, mas modesto se comparado, por exemplo, com os 178 torcedores mortos na Argentina, desde a criação do campeonato nacional naquele país sul-americano em 1931.
"Tragédia italiana"
Mesmo assim, a violência no futebol italiano chocou o país e a mídia européia. O jornal italiano La Repubblica comparou as pancadarias a uma guerra de guerrilha. "Violência e gols: o futebol se divide. Essa guerra precisa ter um fim. O terrorismo dos domingos precisa se dissolver", pede o jornal.
"Ódio demais. É uma tragédia italiana", escreve o jornal esportivo Tuttosport. "Na Itália, o fantasma da violência domina o futebol", emenda o L'Équipe, da França. "Os Ultras tomam conta da Itália", sentencia o El Mundo, da Espanha.
Hooligans: neofascistas e neonazistas
"Os torcedores italianos não vão aos estádios apenas por causa do futebol, mas também para mostrar sua bandeira política. Nesse afã, eles sequer hesitam em fechar alianças de sangue com torcedores arqui-rivais", comenta o Süddeutsche Zeitung, de Munique.
Os hooligans italianos – sejam da Lazio, da Inter Milão, da AS Roma ou do Atalanta de Bérgamo – são considerados neofascistas e têm um inimigo comum: a polícia. Eles mesmo se chamam de "Ultras", mas nada têm a ver com o "Manifesto Ultra" (antiviolência) escrito pela ala esquerda dos torcedores da AS Roma em 1977, que teve adeptos também na Alemanha.
Eles têm muito em comum é com os neonazistas, que têm aterrorizado jogos da Segunda e da Terceira Divisão do futebol alemão (veja link abaixo), como nos graves tumultos ocorridos no final de outubro em Dresden, após um jogo entre o Dynamo e o Lokomotiv Leipzig. Na ocasião, 229 pessoas foram presas, contra 22 foram abertos inquéritos policiais.
A facção mais radical de torcedores da Lazio, os Irriducibili, coopera com um grupo extremista da Inter de Milão. Estes chamam-se IRR 88 e garantem que o 88 se refere ao ano da fundação – 1988. Mas, segundo peritos, a cifra 88 é conhecida na extrema direita como camuflagem de HH (o oito representa a oitava posição do H no alfabeto). "HH significa Heil Hitler", explica o Süddeutsche Zeitung.
No estádio de Bérgamo e em Milão vários hooligans fizeram neste domingo o gesto da chamada "saudação romana", proibida na Itália e que corresponde à banida expressão "Heil Hitler" na Alemanha. Uma cena semelhante teria sido vista na semana passada durante a criação do novo partido A Direita, quando correligionários teriam gritado "Duce! Duce!" durante um discurso do líder da oposição italiana, Silvio Berlusconi. (gh)