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"Huygens vive": sonda européia chega a Titã

(rr)14 de janeiro de 2005

A sonda terrestre Huygens adentrou a atmosfera de Titã, maior lua de Saturno. Agora, cientistas esperam revelações sobre o surgimento da vida na Terra. Afinal, condições são semelhantes às da Terra há bilhões de anos.

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Ilustração simula a operação de descidaFoto: ESA

Uma viagem de sete anos chega ao final para a sonda européia Huygens, que mergulhou nesta sexta-feira (14) na atmosfera de Titã, a maior das luas de Saturno. Especialistas esperam que o engenho, pesando mais de 320 quilos e equipado com seis instrumentos de leitura e análise a bordo, tenha recolhido dados como temperatura, composição química, velocidade dos ventos e atividade eletromagnética, além de enviado imagens inéditas da até agora misteriosa atmosfera.

A operação foi acompanhada com enorme expectativa pelos cientistas da central de controle em Darmstadt, na Alemanha. Para a Agência Espacial Européia (ESA), proprietária da sonda, trata-se de um recorde duplo: não é apenas a maior distância percorrida por uma sonda terrestre, mas também a primeira visita a uma lua de outro planeta.

"A excitação é enorme. São mais de sete anos de trabalho que investimos neste momento", disse Gerhard Schwehm, chefe do setor de ciência planetária da ESA, a DW-WORLD. Nasa e ESA investiram mais de 2,5 bilhões de euros no projeto.

A chegada dos primeiros sinais enviados pela sonda, que se encontra a 1,2 bilhão de quilômetros da Terra, causou furor entre os centenas de cientistas presentes na central de controle. "Recebemos um sinal. Huygens está viva", celebrou o diretor geral da ESA, Jean-Jacques Dordain. Quinze minutos após a entrada na atmosfera, a equipe já teve certeza de que ao menos um dos medidores funcionava.

Segundo o diretor científico da ESA, David Southwood, a aterrissagem deve ter sido em solo rígido, embora "não possa ter sido tão dura, uma vez que a sonda continua enviando material". Para Dorain, "este é um sucesso técnico. Depois veremos se será também um sucesso científico".

Superfície ainda é um mistério

A sonda ganhou seu nome do astrônomo holandês Christiaan Huygens, que descobriu o satélite em 1655. Com metade do tamanho da Terra e maior que planetas como Mercúrio ou Plutão, Titã é a segunda maior lua do sistema solar e a única a ter uma atmosfera densa. Segundo cientistas, ela apresenta reações químicas e compostos carbônicos semelhantes aos encontrados na Terra há quatro bilhões de anos.

Sua atmosfera é composta principalmente por nitrogênio e hidrocarbonetos como etano e metano. Supõe-se que, devido às baixas temperaturas, nuvens, lagos e chuvas sejam compostos por metano, em vez de água. Informações da ESA sugerem a existência de nuvens verdes de metano, das quais podem cair gotas do tamanho de bolas de tênis.

Para cientistas, a coloração alaranjada da atmosfera de Titã, que impede a vista aérea da superfície, ainda permanece um mistério. "Titã é muito especial. Ninguém sabe o que encontraremos lá", lembra Schwehm. Ele não descarta a possibilidade de que haja componentes que permitiriam a vida, embora eles se encontrariam necessariamente em estágios baixos de desenvolvimento devido às baixíssimas temperaturas.

Carona com a Nasa

Para chegar a Titã, a Huygens pegou carona na nave-mãe Cassini, de propriedade da Nasa, a agência espacial norte-americana. Ambas foram lançadas a caminho de Saturno em outubro de 1997. Seu peso combinado, no entanto, era alto demais para que pudessem alcançar o objetivo em um vôo direto. Para isso, tiveram de percorrer 2,1 bilhões de quilômetros, fazendo diversos desvios e aproveitando-se das forças gravitacionais da Terra e de Júpiter para conseguir aceleração.

No inverno passado, elas atingiram a órbita de Saturno e, seis meses depois, no dia de Natal, a sonda finalmente se desligou da nave-mãe e partiu em direção à superfície de Titã. O trabalho de Cassini, entretanto, não acaba aqui: a nave-mãe é quem receberá os sinais da sonda e os repassará à central de controle.

Ao todo, a duração da operação de descida e desaceleração, feita com o auxílio de três pára-quedas, foi avaliada em 140 minutos. Cientistas calculam que, durante a queda, a sonda possa ter enfrentado ventos de 500 quilômetros por hora e temperaturas de até 1500 graus Celsius. Próximo à superfície, a temperatura pode ter caído para 180 graus negativos. Sob tais condições, as baterias não durariam mais que três horas.

Havia também enorme incerteza quanto ao pouso da sonda. Se a Huygens aterrissasse em um lago ou rio, seu peso não permitiria que ela flutuasse por mais de um minuto, seja em água ou metano. Ao chocar-se com solo rígido, poderia espatifar-se ou danificar os instrumentos de medição.

Mas, para Michael Khan, um dos especialistas da base de controle, a condição da sonda após o pouso é secundária. Afinal, ela não foi concebida para isso e importantes mesmo são os dados transmitidos durante a queda.