Imprensa alemã celebra obra-prima de Meirelles
13 de maio de 2003Os críticos alemães reportam-se a mestres do cinema épico — Sergio Leone, Sam Peckinpah, Martin Scorsese — para comentar o filme de Fernando Meirelles e Kátia Lund, em relação ao qual "nenhuma comparação é exagerada", como afirma Hauke Goos na revista Der Spiegel. A "obra-prima" — caracterização utilizada repetidamente — "desmonta o velho mito do filme de gângster para recompô-lo em seguida", define Tobias Kniebe no diário Süddeutsche Zeitung.
E, para não deixar nenhum leitor em dúvida, cita-se ainda o produtor alemão Bernd Eichinger, que considera Cidade de Deus "talvez o melhor filme dos últimos dez anos". Foi, aliás, a distribuidora de Eichinger, a Constantin-Film, que comprou os direitos para a Alemanha.
Uma versão cuidadosamente dublada está em cartaz em 150 cinemas da Alemanha desde quinta-feira (08), tendo atraído 60 mil espectadores até o fim de semana passado. Um número que Frauke Allstadt, da distribuidora, definiu à DW-WORLD como "satisfatório", considerando que o filme foi lançado numa semana de sol, em que as pessoas geralmente preferem estar ao ar livre do que numa sala de cinema. Allstadt acredita que o movimento no próximo fim de semana permitirá avaliar se o filme é realmente capaz de conquistar o público alemão.
Mestria da câmera
Em inglês, "filme" também é chamado de "motion picture", lembra o crítico Daniel Kothenschulte no Kölner Stadt-Anzeiger, impressionado com a força da linguagem visual desta obra brasileira. E destaca a cena em que um dos bandidos, com o jornal na mão, responde que "lê as fotografias" — quando um outro lhe pergunta se sabe ler — como sendo a síntese programática do filme, que retoma "a grande arte da narração visual" com que o cinema latino-americano sobressaiu na década de 60.
Os destaques para a diversidade do trabalho de câmera, que encontrou uma linguagem e um ritmo próprios para cada episódio do filme, são uma tônica nos comentários.
Magia da narrativa
Não há quem questione que a violência tenha um caráter visceral num filme como este. O que importa é que "Meirelles e Lund utilizem a violência apresentada para realmente tornar visíveis as leis que regem a anarquia", consta no artigo do Süddeutsche Zeitung. E impressiona como o filme, que às vezes parece extrapolar seus próprios limites, sempre retorna "magicamente para o seu caminho, entrelaçando os fios da meada que mantêm coesa a vida na favela".
O maior mérito do filme talvez seja, argumenta o crítico Kniebe, permitir que o espectador penetre de tal forma na história que ele sai do cinema com a impressão de ter conhecido as personagens e com a sensação de perda, diante das muitas mortes. "Que a gente não se esqueça daquelas pessoas, de suas histórias, seus sonhos, sua vivacidade; e que a gente se sinta feliz por estar entre os poucos que conseguiram escapar".