Irã promete retaliação por morte de cientista
28 de novembro de 2020O presidente iraniano, Hassan Rohani, acusou neste sábado (28/11) Israel de querer "semear o caos" e de agir como "mercenário" dos Estados Unidos, acusando o país pelo assassinato de um dos principais cientistas no programa nuclear iraniano, um crime que, segundo as autoridades do país, deve ser "punido".
"Mais uma vez, as mãos implacáveis da arrogância global, com o regime sionista usurpador como um mercenário, foram manchadas com o sangue de um filho desta nação", disse Rohani, em um comunicado publicado em seu site oficial, se referindo ao assassinato de Mohsen Fakhrizadeh.
O cientista iraniano, de 59 anos, suspeito de ser o mentor de um antigo programa nuclear do país, foi morto nesta sexta-feira numa emboscada nos arredores de Teerã.
Segundo a imprensa iraniana, Fakhrizadeh morreu no hospital depois de seu carro ter sido alvejado por vários atiradores. Ninguém assumiu a autoria do atentado.
Fakhrizadeh liderou o chamado programa Amad, ou Esperança. Israel e o Ocidente alegaram que essa operação militar tinha como objetivo saber a viabilidade da construção de armas nucleares, mas Teerã sempre alegou que o programa era pacífico. Segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea), o programa terminou no início dos anos 2000.
Israel silencia
O gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que não comentaria o ataque. A imprensa iraniana lembrou que Netanyahu certa vez citou o nome de Fakhrizadeh em uma entrevista coletiva em 2018. Ao acusar Teerã de continuar em busca de armas nucleares, o premiê afirmou: "Lembrem esse nome, Fakhrizadeh".
"A nação iraniana é muito inteligente para cair na armadilha da conspiração dos sionistas. Eles estão pensando em criar o caos, mas devem saber que vimos suas intenções e não terão sucesso", disse Rohani minutos após a divulgação do comunicado. em um discurso transmitido pela televisão.
Rohani prometeu que a morte do especialista "não perturbará" os avanços científicos do país e considerou que seu assassinato se deveu à "incapacidade" dos inimigos do Irã em impedir seu desenvolvimento. "Os inimigos do Irã devem saber que a valentia do povo e dos responsáveis iranianos é tal que este ato criminoso não ficará sem consequências", disse Rohani, em uma reunião semanal dedicada à luta contra a pandemia do coronavírus.
"Punição aos responsáveis"
Pouco depois, o líder supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, afirmou que a prioridade do Irã após o crime é a "punição definitiva dos perpetradores e daqueles que o ordenaram" e que se prossiga com o "esforço científico e técnico deste mártir em todas as áreas em que trabalhava".
Momentos após o atentado, o ministro do Exterior do Irã, Mohammad Javad Zarif, afirmou que o assassinato foi "um ato terrorista" e acusou Israel. "Os terroristas assassinaram hoje um proeminente cientista iraniano. Esta covardia – com sérios indícios de participação de Israel – mostra o belicismo desesperado dos seus autores", escreveu Zarif no Twitter.
O chefe da diplomacia iraniana apelou também à comunidade internacional para "pôr fim às suas vergonhosas posições ambivalentes e condenar este ato terrorista".
Tensão com EUA
O assassinato pode provocar um aumento da tensão entre Teerã e Washington nas últimas semanas da presidência de Donald Trump.
O presidente eleito dos EUA, Joe Biden, que deve assumir o cargo em janeiro, prometeu reatar laços com o Irã por meio da diplomacia, após quatro anos da postura agressiva de Trump.
Trump retirou-se do acordo nuclear de 2018 com o Irã, acusando a república islâmica de usar tecnologia nuclear para construir armas de destruição em massa. Em janeiro, um ataque aéreo dos EUA matou o comandante militar do Irã, Qasem Soleimani, com Trump ameaçando o Irã com mais ações.
Os Estados Unidos também impuseram sanções a Fakhrizadeh em 2008 por "atividades e transações que contribuíram para o desenvolvimento do programa nuclear do Irã".
Neste sábado, o Ministério do Exterior da Alemanha apelou, através de nota, para que todas as partes evitem medidas que possam aumentar tensões, após o assassinato do cientista iraniano. "Poucas semanas antes da posse da nova administração dos EUA, é importante preservar o espaço para conversas com o Irã, para que a disputa sobre o programa nuclear do Irã possa ser resolvida por meio de negociações", ressaltou.
MD/afp/lusa/efe