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Israel, a paz mundial e uma pesquisa desastrosa

(ns)4 de novembro de 2003

Após severas críticas, a União Européia distanciou-se de uma pesquisa oficial, segundo a qual os cidadãos da UE consideram Israel a maior ameaça para a paz mundial.

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Soldados israelenses carregam colega ferido no conflito com os palestinosFoto: AP

Em nome da presidência da União Européia, o ministro italiano do Exterior, Franco Frattini, desculpou-se, expondo que os resultados não correspondem à posição da UE. Frattini manifestou-se surpreso e decepcionado com a "mensagem falsa" que se depreende da pesquisa.

Outros políticos europeus mostraram-se indignados, entre estes o presidente da Comissão Européia, Romano Prodi, que se encontrava em Nova York. Para o ministro do Exterior de Israel, Silvan Shalom, a pesquisa encomendada pela Comissão Européia foi realizada de forma irresponsável, tergiversando a realidade.

Israel na frente dos "estados vilãos"

O resultado, divulgado na segunda-feira (03) foi um choque: 59% dos europeus acham que Israel é uma ameaça à paz mundial. O Estado judeu lidera a lista de países considerados perigosos, à frente do Irã, Coréia do Norte e Estados Unidos, empatados em segundo lugar, com 53%. Na Alemanha, 65% das pessoas consultadas viram o maior perigo partindo igualmente de Israel e da Coréia do Norte.

A pesquisa consultou 7500 pessoas nos 15 países da comunidade e consistia em dez perguntas, entre estas a da paz. Os participantes receberam uma lista de países e foram perguntados em quais deles viam uma ameaça à paz mundial. Além dos países já citados, a lista incluía, pela ordem, Iraque, Afeganistão e Paquistão. A China só foi considerada perigosa por 30% dos consultados, ocupando o 11º lugar. A Rússia ficou em 13º (21%). Na última posição (8%) ficou a própria União Européia. O país mais crítico frente a Israel foi a Holanda (74%). Na Grécia, 88% dos consultados viram maior ameça partindo dos EUA.

Anti-semitismo ou questão de método?

A avaliação do perigo que advém dos palestinos - os adversários de Israel no conflito do Oriente Médio - não constava da pesquisa. A lista continha apenas nomes de países, justificou um porta-voz da Comissão Européia, que evitou qualquer interpretação do resultado.

O método da pesquisa foi criticado também pelo Congresso Judeu Europeu (EJC), que acusou a UE de pouco engajamento contra o anti-semitismo. Bruxelas não teria elaborado nenhum relatório sobre anti-semitismo nos dois últimos anos, mas divulgaria uma "pesquisa incendiária" sobre a guerra do Iraque e focos de crise, apenas seis meses após o acontecimento. Para o EJC, o problema é que a pesquisa não tematizou o conflito no Oriente Médio, perguntando apenas por Israel.

Já membros do Centro Simon Wiesenthal, de caça a ex-nazistas, foram radicais em suas críticas, exigindo que se negue à União Européia qualquer papel nas negociações sobre o Oriente Médio.

Frattini tentou concertar a situação, garantindo que a União Européia sempre encarou Israel como um país de firmes instituições e valores democráticos. "Nossa decepção é maior ainda tendo em conta que Bruxelas tem plena consciência de que a população israelense é fortemente afetada pelo terrorismo." A UE considera Israel um parceiro de negociações indispensável para a aplicação do plano de paz para o Oriente Médio.

Israel e a mídia

Apesar de suas críticas, Silvan Shalom distanciou-se das declarações de outro ministro israelense, Natan Sharansky, que detectou anti-semitismo na crítica política a Israel. Para o ministro do Exterior, o resultado não é prova de anti-semitismo, mas refletiria o fato de que Israel está mais presente na mídia do que o Iraque e a Coréia do Norte.

A pesquisa demonstra a grande distância emocional entre Israel e a Europa, segundo declaração da representação israelense na UE. Ela também responsabilizou a mídia pelo resultado, que informaria de modo unilateral e emocional sobre os acontecimentos no Oriente Médio. "A luta desesperada de Israel por paz e segurança para seu povo foi totalmente desvirtuada", diz sua declaração.

O poder da opinião pública

Os organizadores da pesquisa Barômetro da Europa se surpreenderam com a forte ressonância de seu levantamento telefônico, com as críticas e especulações, segundo o diário alemão Süddeutsche, que conclui: "Tudo leva a concluir que aumenta o interesse pela opinião pública européia. Além da Comissão, do Conselho [de ministros] e do Parlamento, a opinião pública da Europa passa ao primeiro plano como quarto fator de poder."