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Israel provoca caça às "bruxas anti-semitas" na Europa

Estelina Farias31 de maio de 2002

Manchetes na imprensa alemã e holandesa mostram que, em virtude do extermínio de seis milhões de judeus na Europa pela Alemanha nazista, o conflito israelense-palestino está provocando uma caças às bruxas.

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Paul Spiegel, Conselho Central dos Judeus na Alemanha: Partido Liberal estimula anti-semitismoFoto: AP

Os acusados de anti-semitismo são a nata da imprensa alemã, por usar determinadas palavras nas matérias sobre a violência cotidiana no Oriente Médio, aqueles que criticam a política de ocupação e a repressão militar de Israel nos territórios palestinos ou demonstram solidariedade aos palestinos oprimidos.

Este é o caso de Gretta Duisenberg, esposa do presidente do Banco Central Europeu, Wim Duisenberg. Ela está ameaçada de morte e sob proteção policial por ter hasteado a bandeira palestina na sua mansão em Amsterdã e dito que o lobby dos judeus ricos dos Estados Unidos apóia Israel e possibilita os ataques israelenses contra palestinos.

O Partido Liberal e o Conselho Central dos Judeus na Alemanha começaram a se engalfinhar há várias semanas, através da imprensa. Um acusa o outro de estimular o anti-semitismo com suas declarações. Essa contenda levou o presidente do Partido, Guido Westerwelle, a se explicar junto ao premiê Ariel Scharon e vários ministros israelenses, em Israel.

Antes disso, o deputado Jamal Karsli foi forçado a retirar o seu pedido de filiação ao Partido Liberal, por causa das pressões que sofrera de todos os lados, depois de dizer que "Israel usa métodos nazistas no conflito com os palestinos". Por causa do Holocausto, a maioria dos politicamente corretos na Alemanha não tolera críticas tão contundentes ao Estado judeu, criado em 1948 exatamente em conseqüência dos horrores do nazismo.

Escritor anti-semita?

- O escritor alemão Martin Walser está sendo acusado de anti-semitismo por causa do seu novo romance Tod eines Kritikers (Morte de um crítico), que nem sequer foi ainda editado. O novo escândalo explodiu com a divulgação de uma carta aberta do Jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ) ao escritor, esclarecendo o motivo de rejeitar a oferta para editar o romance em capítulos. "Este livro é um documento do ódio. O repertório de clichês anti-semitas é ilimitado", escreveu o editor do diário alemão Frank Schirrmacher.

O autor defendeu-se esclarecendo que o seu livro "é sobre um crítico e não um judeu" e considerou "muito assustador e repugnante que tudo o que está escrito em seu livro contra o protagonista seja visto como anti-semitismo". Seu personagem principal é inspirado no crítico literário Marcel Reich-Ranicki, um judeu nascido na Polônia que tranformou-se no "papa" da crítica literária alemã. Walser já havia provocado um debate nacional virulento em 1998 quando criticou, num discurso em Frankfurt, o que chama de "instrumentalização do Holocausto para fins atuais".

Ele voltou a ser alvo de ataques pelo Conselho Central dos Judeus, antes da nova contenda sobre o livro, por ter sido convidado para ser parceiro do chanceler federal alemão, Gerhard Schröder, num debate promovido pelo Partido Social Democrático (SPD) sobre o tema "nação, patriotismo e cultura democrática". A data do debate (8 de maio) também seria inadequada, segundo o presidente do Conselho, Paul Spiegel. Oito de maio foi o 57º dia da capitulação da Alemanha na Segunda Guerra Mundial.

Imprensa nazista?

- A nata da imprensa alemã foi acusada por um estudo encomendado pelo American Jewish Committee de propagar estereótipos anti-semitas em seus artigos sobre o Oriente Médio. Deidre Berger falou de um tom cada vez mais agressivo contra Israel ao apresentar, em Berlim, nesta sexta-feira (31), o resultado de uma pesquisa realizada pelo Instituto Duisburg. O primeiro-ministro ministro israelense é criticado pela imprensa alemã mais duramente do que os outros chefes de Estados democráticos. Ariel Sharon é chamado de carniceiro e belicista e apontado como o responsável pelo fracasso do processo, segundo Berger.

Os avaliadores da pesquisa que abrangeu 427 artigos de sete jornais e da revista Der Spiegel reclamaram também que a ação do Exército israelense seria abordada num contexto anti-cristão. Como exemplo, citam a frase do jornal Die Welt "soldados israelenses atacaram a cidade de assalto, como legionários romanos tomaram a Via Dolorosa". O Conselho da Imprensa alemã não confirmou uma tendência anti-semita na imprensa alemã, mas o seu diretor Lutz Tillmann chamou a atenção para o grande aumento de reclamações individuais de uso de expressões do gênero nos últimos meses.