Israel, Rússia e o novo Oriente Médio
22 de setembro de 2015A priori, é necessário que haja um acordo, tanto político como militar. Caso não isso ocorra, a coisa pode ficar perigosa. Então, caças russos e israelenses podem se confrontar no ar – acidentalmente, fruto de um simples mal-entendido. É por isso que é necessário que tudo seja combinado. E um tem que conhecer os planos do outro.
O que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, expressou em Moscou não foram grandes desejos. A Rússia decidiu se envolver militarmente de forma mais forte do que nunca na Síria e, aparentemente, Putin não se deixa dissuadir por ninguém. Nem pelos Estados Unidos, nem por Israel. Então, Netanyahu tinha que conseguir que a Rússia desse ouvidos à principal preocupação israelense: a segurança nacional, tanto no aspecto tático como estratégico.
Taticamente, para que o alto comando militar de ambos os países evite possíveis colisões acidentais, especialmente no ar. Israel se acostumou nos últimos anos com os sistemas técnicos dos russos. Os mísseis antiaéreos SA-22, que a Síria comprou na Rússia, foram por muito tempo um desafio para a Força Aérea israelense. Mas, mesmo assim, um dia ela voltou a estar em condições novamente de, caso necessário, realizar ataques no território do seu vizinho do norte.
Mas agora esses mísseis serão operados por russos. Como eles vão lidar com essas armas? Como e quando eles as colocarão em operação e, sobretudo: como eles identificarão aviões no espaço aéreo sírio, como os israelenses poderão se identificar para os russos? Isto é ainda mais importante diante da possibilidade de a coalizão anti-EI ser ampliada, incluindo outros países. Todos têm que se coordenar entre si.
Interesses estratégicos
Estrategicamente, Israel tem preocupações de que as armas russas caiam em mãos erradas. A Rússia não tem mísseis SA-22 não só na Síria, mas também os vendeu ao Irã. Israel quer impedir a qualquer preço que essas armas caiam nas mãos do Hisbolá. Já várias vezes o Irã tentou enviar tais mísseis a seus aliados libaneses.
A Rússia também vendeu à Síria novos sistemas bélicos inteiros, que são muito mais evoluídos do que os mísseis SA-22. "Estas armas são altamente eficazes e precisas. Elas atingem seus alvos com extrema precisão", afirmou um militar sírio não identificado ao jornal Jerusalem Post. "Temos todos os tipos de armas. Aquelas para se lutar no ar, e aquelas para a terra."
Essas armas poderiam limitar significativamente as manobras militares israelenses. Para Netanyahu, outra coisa importante é que a Rússia se envolva na Síria não só como potência militar, mas também como influência moderadora.
"Um posto militar na Síria também pode promover a estabilidade na região e impedir um confronto entre Israel e os radicais xiitas no Líbano", escreve o especialista em defesa israelense Ron Ben-Ysihai, em artigo para o portal i24news.tv.
O mesmo se aplica com respeito ao Irã. Por um lado, o país foi capaz de aumentar o seu peso político tanto através de suas estreitas relações com a Rússia, como com a conclusão dos acordos nucleares. Através dos postos militares russos, ele agora poderia chegar ainda mais perto de Israel. Por outro lado, a Rússia também poderia exercer uma influência moderadora sobre Teerã.
Alívio para os EUA
Ben-Ysihai sugere que Netanyahu também deve ter ido a Moscou porque a Rússia, aparentemente, pretende a partir de agora assumir um papel de liderança na guerra Síria. Até agora, os EUA não conseguiram muito resultado na luta contra a organização terrorista "Estado Islâmico". Há poucos dias, o secretário de Defesa americano, Ashton Carter, pediu a seu colega russo, Sergei Shoigu, que coordene os ataques aéreos americanos contra o EI.
Na verdade, segundo o jornal árabe Al Haya, os Estados Unidos não querem buscar a liderança na luta contra o EI. "O presidente americano está pensando se ele realmente quer entrar na crise síria. É algo que está tentando evitar há anos. Por isso, ele deve mesmo dar sua bênção à luta da Rússia contra o EI. Pelo menos enquanto Putin não cobrar que os Estados Unidos também aprovem sua aliança com Assad."
O Al Hayat opina que a Rússia ganha cada vez mais prestígio político através de seu possível futuro papel de liderança. "Putin", escreve o especialista israelense de defesa Ben-Yishai, "fala com todos, e todo mundo está falando com ele – pelo menos quando se trata do Oriente Médio." Isso é, segundo o especialista, algo que Obama não pode dizer de si.
Considerando o instável equilíbrio de forças na região, é provável que Netanyahu tenha um interesse fundamental na manutenção de um bom relacionamento com Putin. Caso a Rússia realmente consiga fazer o EI se retrair ou mesmo destruí-lo, será necessário um posterior envolvimento político de longo prazo, no qual será de fundamental importância tentar levar o Irã e o Hisbolá a ter um novo tipo de relação com Israel. Netanyahu também deve ter conversado sobre isso com Putin.