Itália e Espanha voltam ao foco dos mercados financeiros
19 de abril de 2012Em entrevista ao jornal alemão Bild, Lars Feld, professor de economia da Universidade de Freiburg e conselheiro do governo em Berlim, afirmou que as turbulências podem ficar ainda piores. "Os atuais acontecimentos no mercado financeiro são o prenúncio de um retorno da crise. Desta vez, os tremores podem ser ainda mais fortes do que em 2011", advertiu.
Sobretudo as incertezas em torno do resultado e as consequências da eleição presidencial na França no próximo domingo (22/04) seriam muito grandes. Feld explicou que agora se evidencia que "o efeito da ajuda até agora prestada pelo Banco Central Europeu (BCE) é somente de curto prazo".
O economista-chefe do Commerzbank, Jörg Kramer, declarou ao diário alemão que nas últimas semanas a crise da dívida estatal "foi apenas remendada com dinheiro barato do BCE."
Espanha e Itália em foco
Nos últimos dias, as atenções dos mercados financeiros se voltaram ainda mais para Espanha e Itália. As taxas de juros para empréstimos a esses países subiram nos mercados. Os juros das obrigações de dez anos do governo espanhol atingiram pela primeira neste ano a marca dos 6%.
Segundo a previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI), neste e no próximo ano, a Itália não conseguirá cumprir suas metas orçamentárias. Além disso, o relatório divulgado pelo FMI na última terça-feira em Washington apontou que somente a partir de 2018 o país terá um orçamento equilibrado – cinco anos mais tarde do que anunciado pelo governo italiano. O primeiro-ministro Mario Monti havia prometido um orçamento equilibrado para 2013.
Disputa sobre fundos de resgate
A diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, expressou em entrevista sua preocupação com os problemas do setor financeiro espanhol. Lagarde afirmou à edição desta quarta-feira (18/04) do diário alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung e ao jornal de economia japonês Nikkei que as autoridades de supervisão financeira europeias e espanholas devem garantir que "os bancos espanhóis sejam devidamente capitalizados, que disponham de suficientes reservas e que seus ativos sejam avaliados adequadamente."
Segundo o jornal alemão Süddeutsche Zeitung, uma série de governos europeus como também representantes do BCE estariam dispostos a relaxar os critérios de concessão de empréstimos, caso o problema principal não esteja no orçamento estatal, mas no setor financeiro.
Nesses casos, o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) poderia transferir o dinheiro diretamente para as instituições financeiras em dificuldade, contornando assim os governos nacionais. O jornal relata ainda que isso seria agora motivo de divergências entre as autoridades europeias.
Dinheiro para bancos espanhóis
O Süddeutsche Zeitung afirmou ainda que a Espanha seria um dos defensores dessa legislação. Para o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, isso significaria a solução do problema do setor financeiro do país, enquanto a dívida pública permaneceria constante.
Além disso, Madri não precisaria atender às rigorosas obrigações de reformas e austeridade econômica, que acompanharam os pacotes de ajuda anteriores. Ao mesmo tempo, o BCE ficaria aliviado da pressão do esforço de estabilizar o setor bancário por conta própria.
Nesta quinta-feira (19/04), o país conseguiu levantar 2,54 bilhões de euros nos mercados de capitais, vendendo obrigações a dez anos do Tesouro espanhol. Mas os investidores insistiram em pagar uma taxa mais alta pelos títulos soberanos da dívida espanhola – 5,78% contra 5,4% no leilão anterior – naquele que foi considerado um teste crucial da confiança dos mercados nos esforços espanhóis para sanear seus gastos públicos.
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Revisão: Roselaine Wandscheer