Crise na Itália
9 de novembro de 2011O anúncio da renúncia do primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, não conseguiu afastar temores nos mercados financeiros e na política europeia de uma escalada da crise da dívida italiana. Nesta quarta-feira (9/11), a taxa de juro sobre os títulos da Itália (10 anos) atingiu pela primeira vez a marca dos 7% – caso continue nesse nível, a terceira maior economia da zona do euro não poderá refinanciar sua dívida.
A oposição italiana exige que a reforma orçamentária anunciada por Berlusconi seja votada o quanto antes. Segundo a imprensa italiana, ela deverá ser votada até segunda-feira (14/11) no Parlamento em Roma. A aprovação da reforma foi a condição que Berlusconi impôs para deixar o poder. O premiê italiano convocou novas eleições para fevereiro de 2012, das quais ele não pretende participar.
Na mídia italiana, todavia, especula-se que o adiamento da saída de Berlusconi poderia ser uma manobra política. Diversos jornais de esquerda comentaram que, possivelmente, o chefe de governo procura apenas ganhar tempo e não pretende renunciar. Por outro lado, Berlusconi reitera que fala sério. "Precisamos dar um sinal urgente e forte à Europa e ao mundo de que levamos as coisas a sério", disse o premiê a uma emissora italiana de televisão na manhã desta quarta-feira.
O presidente Giorgio Napolitano anunciou que irá iniciar consultas políticas com todos os partidos após a aprovação da reforma orçamentária. Agora é necessário agir rapidamente para reconquistar a confiança dos mercados financeiros na credibilidade do país. "Isso requer um compromisso imediato e sustentável na solidez das finanças públicas", declarou o chefe de Estado em Roma.
Pressão dos mercados financeiros
A Itália, país altamente endividado da zona do euro, sofre cada vez mais pressão dos mercados financeiros. Altos juros e prêmios de risco são um sinal de desconfiança dos investidores. A Itália não cresce. Com um desempenho econômico anual de cerca de 1,5 trilhão de euros, o país é a oitava maior economia do mundo, mas entre 2000 e 2010, no entanto, o crescimento econômico real gerado pela Itália foi praticamente zero. Assim, na comparação europeia, o país ocupa a última posição.
Apesar disso, durante muito tempo, a Itália foi considerada um país estável. Com um volume de dívidas de 1,9 trilhão de euros, ou seja, 120% de seu Produto Interno Bruto (PIB), a Itália é depois da Grécia o país mais endividado na zona do euro. No entanto, seu patrimônio líquido privado corresponde a 180% do PIB – na Alemanha e na França, ele equivale apenas a cerca de 140%.
Quase 60% dos títulos do governo estão em mãos de investidores italianos. Esses argumentos apontam para uma Itália estável. Por que, então, a pressão dos mercados financeiros?
Despesa excessiva do governo
A lenitiva imagem pública da economia italiana, que durante muito tempo foi interpretada como sinal de estabilidade, escondeu o verdadeiro estado de um confuso sistema político . Em seu relatório de outubro sobre a Europa, o Fundo Monetário Internacional (FMI) atribuiu à Itália enormes problemas estruturais.
Entre eles, desenfreados gastos governamentais, que além disso seriam usados de forma bastante ineficiente, e um sistema fiscal cuja alíquota de cerca de 43% implicaria uma carga enorme para a economia.Tradicionalmente, a parcela da economia paralela é bastante elevada – as estimativas variam entre 18% e 30% do desempenho econômico anual.
Desde o estabelecimento da taxa de câmbio do euro em 1996, a Itália vem perdendo terreno em nível internacional. Se há dez anos a fatia das exportações no PIB correspondia a cerca de 30%, em 2005, essa proporção caiu para 20%.
Enquanto países como a Alemanha, Áustria e Holanda foram capazes de manter sua participação no mercado mundial nos últimos anos, a Itália, juntamente com a França e o Reino Unido, estão entre os Estados cuja cota de participação no mercado global continuou a cair também em 2010. Dez anos atrás, a Itália exportou mais bens do que é importou. Hoje a situação é inversa, a balança comercial é negativa.
Perda de confiança
Isso aconteceu devido principalmente à redução da competitividade das empresas italianas. Embora a Itália ainda continue a exportar sobretudo máquinas, automóveis, produtos químicos, têxteis e mobiliário de alta qualidade, a baixa produtividade devido ao aumento dos custos de mão de obra e as altas taxas fiscais tornaram os produtos italianos cada vez menos atraentes. Antes, a Itália estava entre os países que desvalorizaram regularmente a sua moeda . Com a introdução da moeda única europeia, Roma perdeu essa possibilidade.
Outro problema é o desemprego. Embora a atual taxa de desemprego de cerca de 8,7% na Itália esteja abaixo da média da União Europeia, de 10%, apenas 59% da população economicamente ativa tem um emprego regular – a taxa de emprego é significativamente menor da de outros Estados da UE. Especialmente grave é o desemprego entre os jovens. Aproximadamente um terço dos jovens com menos de 25 anos está desempregado.
A Itália sofre uma perda de confiança nos mercados. O país teria força econômica suficiente para trabalhar nos déficits apresentados pelo FMI. No entanto, as reformas estruturais precisam de tempo. Mas resultados imediatos são necessários, porque nem o Banco Central Europeu nem o fundo de resgate europeu FEEF poderão ajudar a Itália a pagar os crescentes custos de refinanciamento da dívida.
Autor: Rolf Wenkel / Carlos Albuquerque
Revisão: Roselaine Wandscheer