Jovens judeus querem voltar à normalidade na Alemanha
4 de maio de 2005Até pouco tempo atrás, ser judeu na Alemanha significava pertencer a uma das minorias numericamente menos expressivas do país. A comunidade diminuiu drasticamente dos 500 mil judeus que viviam no país antes do Holocausto para os poucos milhares que permaneceram ou retornaram ao país após o final da Segunda Guerra Mundial.
Com a reunificação alemã e a criação de inúmeras leis de imigração que concederam a cidadania alemã a judeus provenientes da Rússia, a comunidade voltou a crescer e conta hoje com mais de 120 mil membros.
Mas isso trouxe algumas mudanças consigo. Se os judeus na Alemanha antes pertenciam à tradição ocidental, hoje a língua predominante é o russo. No entanto, a nova geração está focada no futuro com o intuito de alterar esse quadro.
"Eu quero me libertar dessa sensação de que, quando o assunto é a minha religião, as pessoas sempre pensam: 'ah, você é judia'. E imediatamente começam a prestar atenção no que falam como se estivessem pisando em ovos", disse Katharina Goos, uma estudante de Ciências Políticas de 29 anos que se converteu ao judaísmo há dois anos.
Quebrando a mística
Além de cozinhar especialidades judaicas e seguir à risca os feriados religiosos, Goos se dedica à Associação de Estudantes Judeus de Berlim. Para ela, que possui tanto judeus quanto não-judeus em seu círculo de amigos, participar da organização lhe permite afastar-se um pouco da mística que envolve a religião.
"Nós podemos nos abrir para pessoas de outras religiões e dizer: 'olhem para nós, nós não somos maus'. E aí podemos esclarecer as coisas para algumas pessoas", argumentou.
A transição de uma comunidade que um dia ocupou um espaço especial, embora de certa forma frágil, na sociedade alemã para apenas outra comunidade religiosa é um tanto difícil. Mas, conforme a geração que sofreu as atrocidades cometidas contra os judeus durante a Segunda Guerra passa, os mais jovens vêem na normalização da imagem da comunidade o caminho para se livrar do passado.
Um bom lugar para se viver
"Eu espero que as pessoas entendam que o judaísmo não está limitado à tristeza e que nós temos uma comunidade judaica florescente na Alemanha hoje em dia, a comunidade que mais cresce em toda a Europa, e que somos pessoas felizes", disse Daniel Iranyi, de 25 anos.
"Eu amo Berlim. E a Alemanha, apesar de todas as suas falhas, ainda é um bom lugar para se viver, especialmente como judeu – mesmo que alguns discordem. Eu me vejo como um europeu de tradição judaica ou como um judeu europeu", conclui.