Justiça da Venezuela investiga Guaidó por apagão
12 de março de 2019O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, informou nesta terça-feira (12/03) que abriu uma investigação contra o líder oposicionista Juan Guaidó, reconhecido como presidente interino venezuelano por mais de 50 nações, por responsabilidade no apagão que afeta o país.
"Anuncio que foi aberta uma investigação [...] contra o cidadão Juan Guaidó por seu suposto envolvimento na sabotagem realizada no Sistema Elétrico Nacional [SEN]", afirmou Saab, que se define como chavista, em pronunciamento à imprensa.
"Neste momento, ele aparece como um dos autores intelectuais da sabotagem elétrica e desse chamado a praticamente uma guerra civil em meio ao apagão", acrescentou o procurador-geral.
Saab apresentou como um fato "revelador" uma postagem feita por Guaidó em sua conta no Twitter duas horas depois de acontecer a falha elétrica, na quinta-feira passada, em que escreveu: "A Venezuela está certa de que a luz vem com a cessação da usurpação."
"[Essa investigação] não é casual, se soma a uma escalada de eventos violentos desde a autoproclamação [de Guaidó como presidente]. A sabotagem elétrica faz parte de uma escalada cada vez mais desesperada para derrubar um governo legitimamente constituído", disse o venezuelano, em referência ao regime de Nicolás Maduro.
O procurador-geral destacou ainda que Guaidó tem publicado uma série de mensagens que "exaltam a violência e até instigam ao roubo" em meio a essa "situação lamentável", usando a "desculpa de necessidades econômicas da população".
Na segunda-feira, Guaidó publicou nas redes sociais que "não se pode fazer apologia à violação da propriedade privada, mas tampouco se pode ignorar o desespero de comunidades que estão sem luz nem água há dias e sem poder comprar o que precisam com urgência".
Saab lembrou ainda que Guaidó desrespeitou a proibição de sair do país, imposta pela Justiça venezuelana, quando cruzou a fronteira com a Colômbia, em fevereiro, para participar da tentativa frustrada de enviar ajuda humanitária à Venezuela.
O procurador-geral também indicou que o Ministério Público tem "alguns detidos em lugares do país" por fatos violentos ocorridos desde que o serviço elétrico começou a falhar, mas não ofereceu maiores detalhes sobre o assunto.
Um dos presos seria o jornalista Luis Carlos Díaz, que vinha cobrindo a escalada da crise política no país e o apagão. Ele está desaparecido desde a tarde de segunda-feira, após deixar a emissora de rádio em que trabalha em Caracas. Nesta terça, colegas confirmaram que o repórter foi levado por membros do Serviço de Inteligência Bolivariano (Sebin).
O sindicato venezuelano de trabalhadores da imprensa informou que agentes invadiram a casa de Díaz pouco antes do amanhecer, apreendendo computadores e pen drives, enquanto o jornalista os observava algemado. Relatos apontam que o regime de Maduro acusa-o de envolvimento com o blecaute.
Maduro atribui o apagão a um "ataque cibernético" contra a usina hidrelétrica de Guri, no estado venezuelano de Bolívar, responsável por 70% do fornecimento elétrico do país. O regime chavista culpa pelo suposto ataque os Estados Unidos e a oposição, que por sua vez atribuem a crise elétrica a "negligência e corrupção" por parte do governo.
O apagão, que é o pior corte de energia já ocorrido no país de 30 milhões de habitantes, atingiu grande parte da Venezuela desde a quinta-feira passada. O blecaute resultou, entre outros problemas, em mortes em hospitais, suspensão de aulas e da jornada de trabalho, falta de água, saques em lojas e desperdício de alimentos, que estragaram devido à falta de refrigeração.
Nesta terça-feira, o ministro de Comunicação venezuelano, Jorge Rodríguez, informou que o serviço elétrico já foi restituído "quase totalmente" em todo o território nacional. Ele descreveu o fato como uma "vitória" contra o que considera um "ataque terrorista".
Guaidó é presidente da Assembleia Nacional, órgão que representa o Poder Legislativo da Venezuela, de maioria opositora, mas cujos poderes foram suprimidos pelo regime de Maduro. Ele já é alvo de uma investigação do Ministério Público por "usurpação" das funções do presidente quando se autoproclamou chefe de Estado interino da Venezuela em 23 de janeiro.
EK/afp/dpa/efe
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