Lula na Europa
9 de setembro de 2007O presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciou neste domingo (09/09) uma visita de uma semana à Europa, percorrendo quatro países escandinavos (Finlândia, Suécia, Dinamarca e Noruega) e a Espanha.
Segundo informações do Itamaraty, os principais objetivos da viagem são a apresentação do programa brasileiro de biocombustíveis na Escandinávia, "região de maior consciência ambiental do planeta", e atrair investimentos para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), de 503,9 bilhões de reais, lançado em janeiro deste ano.
Missão biocombustíveis
No que diz respeito aos biocombustíveis, Lula repetirá nos países nórdicos o que têm dito em viagens anteriores à Europa: "comprem etanol brasileiro". Só que esse apelo não garante sucesso, como mostrou a recente "missão etanol" à América Central e ao Caribe.
Na ocasião, Lula conseguiu apenas fechar acordos de cooperação técnica com Honduras, Panamá e Jamaica para transferência de tecnologia nessa área. Muito mais ele não deve esperar dos norte-europeus.
Confrontado com a rejeição ao etanol na Nicarágua, Lula acalmou o presidente Daniel Ortega com um argumento que pode valer também para a Europa. "Ninguém vai usar biodiesel ou etanol só porque o Brasil o quer. Cada Estado é soberano no seu planejamento energético".
A dependência energética da União Européia é grande e o bloco tenta diversificar seus fornecedores, como prova o recente acordo de cooperação tecnológica firmado nesse setor entre Bruxelas e Brasília. Comprometidos com a UE em reduzir suas emissões de CO2, os países escandinavos buscam soluções próprias.
Caminhos nórdicos
A Noruega, por exemplo, terceiro maior fornecedor de petróleo e gás natural do mundo, depois da Rússia e da Arábia Saudita, gera 99% de sua eletricidade a partir de hidrelétricas. Outras energias renováveis têm um papel insignificante no país.
Mas o governo norueguês apoia os esforços internacionais para a redução das emissões. Em julho passado, Oslo anunciou a participação em 36 projetos de apoio à eficiência energética na China e na Índia, bem como para preparar o uso de energia solar em grande escala no Brasil.
A Suécia, por sua vez, é líder na Europa em adicionar à gasolina etanol produzido no próprio país, a partir de biomassa (celulose, cereais e capim). O país tem uma frota de 40 mil veículos flex, que podem ser abastecidos em cerca de 500 postos de combustível, e dispõe de enormes reservas de madeira com potencial energético.
Também a Finlândia aposta na madeira para reduzir sua dependência das importações de energia. Apenas um quarto da energia consumida no país é renovável, a maior parte (20%) gerada pela queima de restos de madeira. A Finlândia quer aumentar para 30% até 2010 a participação das renováveis em sua matriz energética, principalmente através da produção de biogás e energia solar.
Modelo europeu
Já a Dinamarca é campeã mundial de eficiência energética e aproveitamento de energia eólica. O governo em Copenhague fomenta há anos usinas de biogás e concede incentivos para quem economiza energia.
Considerado modelo na União Européia em termos de proteção do clima, o país conseguiu aumentar já nos anos 1990 de 2% para mais de 20% a fatia de energia eólica em sua matriz energética. Com a Dinamarca, o Brasil pretende fechar um acordo de cooperação para o desenvolvimento de novas tecnologias para a produção de combustível a partir do bagaço de cana.
Como sabe que vender etanol brasileiro na Europa não será fácil, pelo menos enquanto a produção da cana-de-açúcar continuar associada ao desmatamento e ao trabalho escravo, Lula pretende mostrar ainda as oportunidades de investimentos que se abrem no Brasil com o PAC, principalmente na área de infra-estrutura (portos, aeroportos, rodovias, rede de energia).
UE investe no Brasil
Neste ponto, as perspectivas de sucesso são melhores. Os europeus estão redescobrindo o Brasil como base para investimentos na América do Sul. Segundo dados do Departamento Europeu de Estatísticas (Eurostat), no ano passado, empresas da UE investiram 5,3 bilhões de euros no Brasil – bem mais do que na Rússia (€ 4,3 bilhões ), China (3,7 bilhões) ou Índia (1,6 bilhão).
O maior volume desses investimentos partiu de conglomerados espanhóis, que injetaram 3,6 bilhões nos últimos dois anos no Brasil. Segundo o Itamaraty, a Espanha já é o terceiro maior investidor no Brasil, com um estoque de US$ 15 bilhões, atrás apenas dos Estados Unidos e da Holanda.
Em Madrid, Lula apresentará o PAC e tentará encaminhar negócios nas áreas de agricultura, agronegócio, nanotecnologia, biomedicina, fármacos e, como não poderia deixar de ser, também na área de biocombustíveis.