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Esquerda radical grega quer solução europeia para crise

22 de maio de 2012

Se assumir governo após nova eleição em junho, líder da aliança de esquerda Syriza quer cancelar pacote de austeridade negociado com UE. Tsipras defende uma política de crescimento e justiça social para a Grécia.

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Alexis TsiprasFoto: dapd

"Pedimos a solidariedade do povo alemão. Viemos a Berlim para convencê-los que é do seu interesse colocar um fim à política de austeridade", disse Alexis Tsipras, presidente da Coligação da Esquerda Radical grega (Syriza, em grego) na capital alemã nesta terça-feira (22/05).

Em Berlim a convite do partido A Esquerda, Tsipras foi a sensação na coletiva de imprensa na Bundespressekonferenz, que reúne os jornalistas encarregados da cobertura do Legislativo e do Executivo alemães. Em circunstâncias normais, a única pessoa a atrair o interesse de tantos profissionais é a chefe de governo Angela Merkel. Caso o Syriza vença a eleição parlamentar em três semanas, Tsipras pode tornar-se o primeiro-ministro da Grécia.

Em entrevista exclusiva à Deutsche Welle, ele critica os líderes europeus não estarem aceitando a vontade dos eleitores gregos, e adverte que a crise não é um fenômeno de seu país, mas sim uma crise da Europa, para a qual deve ser buscada uma solução europeia.

DW: Todos os chefes de governo da zona do euro insistem que a Grécia cumpra as condições impostas para receber ajuda financeira. Em caso de participar do próximo governo, com que argumentação o senhor exigiria uma renegociação?

Alexis Tsipras: O pilar da política europeia não é a austeridade, mas a democracia. Todos deveríamos respeitar isso. Se através de uma eleição um povo corrige uma política errada, os demais [países] parceiros devem sentar-se à mesa de negociações com o novo representante do povo, neste caso do povo grego, e procurar o erro. Isso deve ser corrigido. A forma como os conservadores, ou melhor, as lideranças europeias reagem ao grito de socorro do povo grego tem vestígios de culpa, por elas não quererem aceitar que cometeram um erro.

Mas com quem o senhor quer negociar na Europa, se todos rejeitam seu pedido de renegociação?

Sei que as forças políticas que hoje regem a Europa são neoliberais, conservadoras ou social-democráticas. Mas não conheço nenhum acordo europeu que proíba outras forças políticas de assumir governos. Então, se chegarmos ao governo através do voto dos gregos, todos os parceiros europeus – independentemente do fato de sua linha política ser próxima à nossa – terão de aceitar esta decisão. Eles terão que nos aceitar como novo governo do povo grego, e não como uma força política com a qual não concordam.

Até que ponto o senhor está disposto a negociar novas condições de crédito?

Estamos dispostos ao máximo possível para defender os direitos do povo grego. Não exigimos nada absurdo, ao pedir um comprometimento de nossos parceiros. O atual programa falhou. Perguntamos ao contribuinte alemão: por quanto tempo vocês continuarão jogando dinheiro num poço sem fundo?

Vocês não podem continuar investindo eternamente num programa ineficaz. Se continuar como está, em poucos meses a Grécia precisará de um terceiro pacote de crédito e um segundo corte da dívida. Como já disse, não falamos absurdos. O absurdo é se governos europeus insistem num erro. O erro precisa ser corrigido.

O que, em sua opinião, está errado?

Não podemos nos concentrar nos sintomas. Precisamos buscar os causadores da crise. E estas razões estão relacionadas ao funcionamento da união monetária: por um lado é a fraqueza do Banco Central Europeu, que não cumpre seu papel de banco central de uma união monetária. Por outro lado, é a fraqueza política da União Europeia, de se impor diante dos mercados financeiros.

Parte dos acordos de empréstimo prevê não só cortes nos salários e nas aposentadorias, mas também reformas estruturais que afetam o Estado, como medidas contra a corrupção e a evasão fiscal. O senhor também quer isso?

Sem dúvida, estas reformas estruturais já deveriam ter sido implementadas há muito tempo. Nós, que até há pouco éramos uma pequena força política, também vínhamos criticando as estruturas do Estado grego e exigindo muitas mudanças. Mas para que as medidas estruturais possam ser realizadas, é preciso uma economia estável.

Se já estamos no quinto ano de recessão, em cuja consequência o Produto Interno Bruto definhou 20%, e se estamos numa derrocada econômica nunca antes enfrentada por qualquer país europeu em tempo de paz, então não se poderão aplicar as reformas pretendidas.

Foi acertada a privatização da propriedade estatal. Como anda isso?

Não acreditamos que tudo tenha de ficar sob controle estatal, que por exemplo cassinos tenham de ficar sob controle estatal. Mas acreditamos que os setores de energia e de telecomunicações devam ser controlados pelo governo. Caso contrário, os cidadãos arcariam com custos gigantescos. Somos de opinião que a propriedade estatal deve servir aos interesses da comunidade e não ser vendida a preço de banana.

Seu partido recebia 4% dos votos. Agora ganhou 17%. Na próxima eleição, possivelmente serão 20%, 24% ou 28%, e talvez possa formar o governo. O senhor concorda que seus novos eleitores não são de esquerda, mas sim eleitores de protesto, na maioria, e que talvez nem estejam procurando soluções de esquerda para a Grécia ou para a Europa?

Tudo o que está acontecendo na Grécia pode ser o início das soluções progressistas para a Europa. Precisamos entender que a atual crise não é uma crise grega, mas uma crise europeia, por isso também devemos procurar uma solução europeia.

Sobre os nossos eleitores: assim que uma cédula cai na urna, não se pode mais identificar quem a colocou ali dentro, em que ele acredita e por que votou assim. Mas posso concluir que a dinâmica do Syriza hoje é impulsionada pelo desespero do povo grego e o empobrecimento gerado por dois anos de medidas de austeridade.

Por outro lado também é verdade – e não podemos ignorar isso – que damos esperança às pessoas. Desde o início da crise, vínhamos apresentando sugestões. Não propagamos uma catástrofe e não apostamos no empobrecimento das pessoas, com a intenção de ganhar com isso. Apostamos no crescimento e buscamos uma solução europeia com base no crescimento e na justiça social.

Entrevista: Panagiotis Kouparanis (rw)
Revisão: Augusto Valente