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Líder das Mães da Praça de Maio morre na Argentina

20 de novembro de 2022

Hebe de Bonafini, que perdeu dois filhos e uma nora durante a sanguinária ditadura militar da Argentina, tinha 93 anos. Classe política argentina e Lula prestam homenagens à ativista após anúncio.

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Hebe de Bonafini em 2016
Após o anúncio da morte, Bonafini foi lembrada por membros da classe política argentina e pelo presidente eleito do BrasilFoto: picture-alliance/dpa/C. De Luca

Hebe de Bonafini, presidente da associação Mães da Praça de Maio, criada para agregar mães de prisioneiros desaparecidos durante a ditadura argentina, morreu neste domingo (20/11), aos 93 anos.

Bonafini era mãe de dois filhos desaparecidos durante o autodenominado Processo de Reorganização Nacional, a brutal ditadura que governou a Argentina entre 1976 e 1983.

O seu filho mais velho, Jorge Omar, foi sequestrado e desapareceu em 8 de fevereiro de 1977, em La Plata. Em 6 de dezembro do mesmo ano o mesmo ocorreu com seu outro filho, Raúl Alfredo, em Berazategui.

Em 25 de maio de 1978, seria a vez do desaparecimento da sua nora, María Elena Bugnone Cepeda, mulher de Jorge.

Com dois filhos e uma nora desaparecidos durante a ditadura, Bonafini foi uma das fundadoras do famoso grupo de mães que, em 1977, começou a se reunir na Praça de Maio, diante da sede de governo em Buenos Aires, para exigir informações sobre o paradeiro de seus filhos. Com o passar dos meses elas começaram a se identificar com um lenço branco na cabeça, que rapidamente virou um símbolo da organização.

Homenagens

Após o anúncio da morte, Bonafini foi lembrada por membros da classe política argentina e pelo presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva.

"Queridíssima Hebe, Mãe da Praça de Maio, símbolo mundial da luta pelos direitos humanos, orgulho da Argentina. Deus te chamou no dia da Soberania Nacional... não deve ser coincidência. Simplesmente obrigado e até sempre", escreveu a vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, no Twitter.

Pouco depois, Alejandra Bonafini, filha da ativista, informou em um comunicado que a mãe faleceu às 9h20 no Hospital Italiano da cidade de La Plata, na província de Buenos Aires, onde estava internada há alguns dias.

"São momentos muito difíceis e de profunda tristeza e compreendemos o amor do povo por Hebe, mas neste momento temos a necessidade de chorar (...) na intimidade", afirmou Alejandra, antes de indicar que a partir de segunda-feira serão anunciados os locais para homenagens e atos de recordação.

O presidente Alberto Fernández também se despediu com "profunda dor e respeito da lutadora incansável pelos direitos humanos", em um comunicado, no qual anuncia o decreto de três dias de luto nacional.

"O governo e o povo argentino reconhecem nela um símbolo internacional da busca pela memória, verdade e justiça pelos trinta mil desaparecidos”, afirma o texto da presidência.

"Como fundadora das Mães da Praça de Maio, ela jogou luz na noite escura da ditadura militar e abriu caminho para a recuperação da democracia há quarenta anos", acrescenta a nota.

Presidente eleito do Brasil, Lula também lamentou a morte da ativista em uma mensagem no Twitter. "Recebi com tristeza a notícia da morte de Hebe de Bonafini, liderança das Mães da Plaza de Mayo, na Argentina. Hebe dedicou sua vida à luta por memória e justiça. Defensora dos direitos humanos, ajudou a criar um dos mais importantes movimentos democráticos da América Latina", escreveu o petista.

"Hebe teve dois filhos sequestrados e desaparecidos durante a ditadura na Argentina. Com outras mães e familiares de vítimas do Estado, liderou marchas silenciosas por paz e justiça. Sua luta e perseverança seguem sendo exemplo para os que acreditam em um mundo mais democrático", completou Lula.

À frente da organização, Hebe de Bonafini também estabeleceu um perfil polêmico ao se tornar uma militante aguerrida do 'kirchnerismo' e ferrenha defensora do casal presidencial Néstor Kirchner (2003-2007) e Cristina Fernández (2007-2015).

Em 2017, ela foi processada por suposto desvio de recursos públicos em um projeto de construção de casas sociais entre 2005 e 2011.

A ativista considerou a ação uma "manobra" contra seu trabalho por parte do governo de centro-direita de Mauricio Macri (2015-2019), que ela considerava um "inimigo".

jps (Lusa, AFP, ots)