Música britânica com fãs alemães
27 de novembro de 2005O bar está lotado. A fumaça toma conta de todo o ambiente. Mais alto que o som das vozes é o do último hit de uma banda pop inglesa. Os únicos elementos que não nos permitem dizer, com certeza, que estamos em um pub londrino são os pratos oferecidos no local e o acento dos que se aventuram a cantar junto. Estamos em território alemão.
Mais exatamente em Düsseldorf. A razão para tanto alvoroço: o grupo Oasis está na cidade. Mas o que existe de tão atraente (para os alemães) nos cinco ingleses? Para Thomas Venker, editor-chefe da revista especializada em música Intro, a "volatilidade" do Oasis é que atrai os fãs.
Quebrando a monotonia pop
Oasis é somente uma de muitas bandas britânicas que continuam a desfrutar o sucesso comercial e de crítica na Alemanha apesar do surgimento de uma grande leva de artistas locais nos últimos dois anos. O que confirma a tradição iniciada há décadas.
"Muitos grupos nos anos 60 fizeram carreira na Alemanha", explica Andy Bell, baixista da banda. Ele confessa que, muitas vezes, a "fama chegava mais cedo entre os alemães do que em casa".
Beatlemania começou na Alemanha
A popularidade pode ter uma origem clara: os Beatles. "Os próprios britânicos achavam que o quarteto era alemão", brinca Gem Archer, guitarrista rítmico do Oasis. O legado de John, Paul, Ringo e George e a afeição que têm entre o público alemão pode ser percebido ainda hoje: o grupo de Liverpool figura nas listas dos mais vendidos.
Esquecendo os traumas da guerra
"Após a guerra, os alemães procuraram um novo começo", diz o professor da Universidade de Munique Eckhard Schumacher. "Para a juventude, a música vinda da Inglaterra era algo novo e estrangeiro; algo diferente da cultura de seus pais, que ninguém queria mais levar adiante", explica.
Esta era também uma forma de estabelecer laços com jovens de outros países e acabar por fim com a idéia de serem inimigos. "A música pop sempre teve esta função de unir as pessoas", comenta Schumacher.
Autora de obras voltadas à cultura pop, Anne Schönberg admite que o elo formado no período pós-guerra é ainda forte. "Muito é feito para destacar as diferenças entre ingleses e alemães, porém pouco é dito sobre suas semelhanças."
Culturalmente, complemente Schönberg, "são duas sociedades muito expressivas e criativas".
Sem retorno
Entretanto, a escritora ressalta que este processo é uma via de mão única. "Os alemães levam mais a sério a cultura popular britânica do que os ingleses encaram a alemã", confessa. Dado que pode ser confirmado com a recente lista de discos mais executados: cinco dos dez singles mais tocados na Alemanha e nove dos 20 álbuns vêm da Grã-Bretanha.
Já na terra do chá das cinco, nenhum artista alemão figura nas duas listas. Parece que a Alemanha continua a receber de braços abertos a invasão (positiva) dos ingleses.